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Ainda durante o Consuni do dia 14 (leia matéria na página 3), causou indignação da bancada discente uma nota divulgada no site da Superintendência Geral de Políticas Estudantis (SuperEst). O documento pretendia ser uma resposta às reivindicações por aumento do número de bolsas permanência e moradia. Após elencar os números atuais referentes à distribuição de bolsas, construção e reforma das residências universitárias, o texto coloca a responsabilidade que é do Estado na conta do estudante e sua família.
O trecho final da carta aconselha aos alunos que utilizam o sistema Enem/SISU em todo o Brasil que “discutam com suas famílias as condições de sobrevivência no Rio de Janeiro, caso não venham a ser selecionados para receber uma bolsa de assistência estudantil”. No caso de serem selecionados, continua a carta, “devem ter ciência de que a bolsa irá apoiar a sua permanência, mas, certamente, seus familiares terão que arcar com parte dos recursos necessários para sua manutenção nesta cidade cujo custo de vida é dos mais altos do Brasil”. O documento finaliza: “Estudar em outra universidade, mais próxima de casa, pode minimizar custos e significar a diferença entre concretizar um sonho ou vê-lo frustrado por toda a vida”.
Luiza Foltran, representante do DCE Mário Prata, afirmou que é uma vergonha para a universidade abrir mão de alunos de outros estados. Ela considerou o trecho final da carta da SuperEst “extremamente desrespeitoso com a comunidade acadêmica”. A estudante pediu à reitoria a realização de uma audiência pública para tratar da assistência estudantil. “Queremos uma universidade democrática e não uma universidade que diga para os alunos de baixa renda que não os quer aqui”.
O presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro, também avaliou o assunto: “Essa é a lógica de privatização da universidade em curso, na qual o Estado abre mão de suas responsabilidades para com a educação pública e força os servidores a completarem as defasagens, seja através de pesquisas para setores privados, seja tirando do próprio bolso os recursos para trabalhar”, criticou.
Emenda pior
O reitor Carlos Levi, ao co mentou o tema, terminou por piorar o que já estava muito ruim: “Poderíamos rever os termos da carta, mas a ideia foi justamente que os alunos tenham responsabilidade de se candidatar para universidades nas quais tenham condições de se manter”. (Silvana Sá)
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Pressionado pelas prisões políticas que ocorriam à sua volta, Jaime Santiago teve de abandonar o curso de História da universidade, em 1971. Ele militava na Organização Revolucionária Marxista Política Operária
Para sobreviver à perseguição, ele também saiu do Rio
Samantha Su. Estagiária e Redação
Jaime Santiago. Retorno ao curso de História é reparação simbólica: tempo perdido nunca mais voltará. Foto: Samantha Su - 07/08/2014Em 1971, Jaime Santiago precisou abandonar o curso de História da UFRJ. Militante da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-Polop), ele teve sua casa invadida pelos agentes da repressão, ao final daquele ano. Um amigo, com quem dividia a casa, acabou preso. Eram os efeitos do decreto-lei nº 477 (de 1969), conhecido como o Ato Institucional nº 5 das universidades. A legislação previa a punição de professores, alunos e funcionários considerados culpados de subversão ao regime. Pressionado, Jaime resolveu, junto à Polop, sair do Rio de Janeiro para viver na clandestinidade.
Agora, o espanhol, no Brasil desde os sete anos de idade, representa o primeiro caso que a Comissão da Memória e Verdade da UFRJ (CMV-UFRJ) assumiu para implementar a política de reparação aos atingidos pela ditadura dentro da instituição. A CMV-UFRJ busca o reingresso do ex-aluno no mesmo curso de História.
Em 2003, Jaime chegou a procurar o Departamento de História do IFCS para tentar retomar a matrícula, mas não foi aceito. Segundo ele, a parte mais dolorosa da recusa não é condizente com o próprio curso: “O meu pedido foi negado porque não fui preso ou processado na época. Mas nós aprendemos na faculdade que a História não é só documental; ela é humana. Eu tinha como provar que fui perseguido, muita gente do curso me conhecia, inclusive professores da instituição, mas eu nem tive a chance de ser ouvido.” Com o passar dos anos, não quis mais voltar para a universidade. O novo estímulo veio só depois da criação da Comissão da Verdade da UFRJ, em 2013, quando foi convidado a dar um depoimento. Ali, a CMV assumiu a responsabilidade de ajudá-lo.
Jaime relembra que a reparação é simbólica: o tempo que perdeu por conta da ditadura não voltará nunca mais. Mesmo ainda não convencido a voltar às salas de aula, o ex-militante está otimista: “Eu me desiludi com o PT e com a militância sindical, principalmente da CUT, mas acho que ainda posso contribuir. Fico refletindo que gostaria de entrar em contato com a juventude para tomar fôlego e rejuvenescer politicamente”, afirma, enquanto aguarda o término do processo de reingresso, ainda sem prazo.
História do ex-militante
Jaime Santiago, após deixar a UFRJ, ganhou uma nova identidade: Luis Carlos Rodrigues Filho. Transferiu-se para Belo Horizonte, onde militou junto à célula operária. Foi em Minas Gerais que conheceu sua atual mulher, Carminda Batista Ferreira. Ela era metalúrgica e também fazia parte da Polop. Apesar da militância conjunta, só em 1977 contou a ela seu nome verdadeiro. Os dois voltaram para o Rio de Janeiro e se casaram. Em 1978, Jaime saiu da clandestinidade.
Em terras cariocas, trabalhou em diversas empresas. Mas não saiu da militância política: Jaime esteve presente nos congressos de fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e no processo de criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Tornou-se presidente da CUT-RJ na gestão 1990/1991 e Secretário Geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM- CUT), de 1991 a 1994.
Quando já tinha tempo de contribuição suficiente para se aposentar, seu pedido foi negado no INSS, por conta da incompatibilidade dos nomes durante a vida clandestina. Para solucionar o problema, em 2006 pediu anistia ao Ministério da Justiça, o que ocorreu em 2011.
Leia mais: UFRJ estuda reparação a ex-aluno, vítima da ditadura
Conselho de seções sindicais vai discutir metodologia dos próximos congressos da categoria
Evento será em Aracaju (SE)
De 21 a 24 de agosto, seções sindicais de todo o Brasil vão se reunir em Aracaju (SE) com a diretoria do Sindicato Nacional para a realização do 59º Conselho do Andes-SN (Conad). O evento ocorre uma vez ao ano e é responsável por atualizar o Plano de Lutas geral e dos setores. Este ano, o tema do Conad é: “Luta em defesa da educação: autonomia da universidade, 10% do PIB exclusivamente para a educação pública”.
Esta edição, em especial, se encarregará ainda de propor mudanças na metodologia dos congressos anuais do Sindicato Nacional. O 59º Conad também será o espaço em que tomará posse a nova diretoria, eleita em maio desse ano, que tem como presidente o professor Paulo Rizzo (Seção Sindical da UFSC) e, na 1ª vice-presidência, Marinalva Oliveira (Sindufap). A professora Cláudia March (Aduff-SSind) integra a diretoria como secretária-geral. Amauri Fragoso (Adufcg) é o 1º tesoureiro eleito.
Tomaram posse na universidade 23 novos professores no dia 14 de agosto. A cerimônia foi realizada no Auditório Roxinho, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Cláudio Ribeiro, presidente da Adufrj-SSind, saudou os novos docentes. Ele afirmou que os professores já entram na universidade com o desafio de se constituírem em uma carreira que foi piorada pelo governo: “Os ataques à educação vêm acontecendo em velocidade assustadora”.
A Seção Sindical distribuiu materiais informativos sobre a carreira, contra a Fundação de Previdência Complementar dos servidores públicos (Funpresp), bem como fichas de filiação.
O professor Marcelo Gomes Ribeiro, que assumirá o cargo como Adjunto-A do IPPUR, contou que ouvir o presidente da Adufrj-SSind o ajudou a se “situar dentro da realidade universitária” e a pensar como pode contribuir para melhorar a instituição.
O desatino neoliberal pretende ferir a Universidade de São Paulo (USP), uma das maiores do país. A instituição, como se sabe, aos poucos foi sendo mergulhada pela direção tucana numa turbulência política sem precedentes no ápice de uma crise de financiamento. É esse o cenário no qual se anuncia a intenção do governo estadual de lançar um cardápio de medidas de arrepiar: programa de demissão voluntária que alcance três mil funcionários; incentivo para que professores reduzam as jornadas de trabalho e, com isso, diminuir seus salários; transferir da secretaria de Educação para a secretaria de Saúde o Hospital Universitário (HU em São Paulo) e o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC, em Bauru). A Adusp (Associação dos Docentes da USP) define essas medidas como “brutais” e “encaminhadas à revelia de qualquer discussão prévia com a comunidade universitária”. Se confirmadas, denuncia a Adusp, “representarão novas e insuportáveis violências contra a USP, perpetradas pela atual gestão, e colocarão em risco a instituição tal como a conhecemos hoje”. A Adusp conclui: “Seria o desmanche da USP”.
Inquisição na PUC-SP
Scherer. Conservador. Foto: Antonio Cruz/ABr - 18/08/2006A PUC de São Paulo, sob as bênçãos e o comando de dom Paulo Evaristo Arns, à época da ditadura, foi um importante espaço de resistência ao regime.
No entanto, a mesma instituição que nos anos 1970/1980 recebeu Otávio Ianni e Florestan Fernandes, nas mãos do autoritarismo da atual direção chegou a abrir um processo contra os professores Peter Pelbart, Yolanda Gamboa e Jonnefer Barbosa.
A alegação: supostamente terem convidado, idealizado, apoiado e divulgado a encenação do diretor de teatro Zé Celso Martinez, ocorrida na universidade em novembro de 2012.
Na época, alunos, professores e funcionários protestavam contra a nomeação, pelo Cardeal D. Odilo Scherer, da terceira colocada na eleição para Reitor, quebrando uma tradição democrática de respeito à vontade da maioria.
Bem: a pressão de um abaixo-assinado que correu o mundo acadêmico no Brasil e no exterior contra a violência autoritária acabou obrigando a reitoria da PUC-SP a recuar e arquivar o processo na semana passada.