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Neste 15 de outubro, a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck Vianna, também comenta os desafios atuais do magistério na defesa da democracia e da universidade Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck Vianna, parabeniza os docentes e comenta os desafios atuais do magistério: "Em nome da diretoria da Adufrj, quero dar os parabéns a todos os professores e professoras por este 15 de outubro. Nós temos, hoje, desafios bastante rigorosos, profundos, porque vivemos um momento particularmente importante e complexo da nossa história, que é este período pré-eleitoral. Período em que algumas ameaças, que já vinham se colocando em relação à UFRJ, têm se aprofundado. Por isso, eu conclamaria professores e professoras a resistirem. E, principalmente, a apostarem que somos capazes de vencer este momento. Temos instituições democráticas sólidas, profundas. Devemos apostar na institucionalidade democrática. Qualquer que seja o eleito, ele conviverá com o Congresso, com o Legislativo, com o Judiciário. Precisamos estar juntos, conscientes, apostando na democracia para fazermos do Brasil um país mais justo. A autonomia universitária é outro ponto que necessita de atenção. A própria manutenção da universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada está em jogo. Este momento é complexo justamente porque ameaça a existência da universidade e a autonomia universitária. Nossa resistência, portanto, é no sentido de defender a universidade e apostar que a democracia vai resistir, vencer. E, com isso, a nossa universidade também será preservada."

Buscar o centro é a saída óbvia da candidatura de Fernando Haddad (PT). Para o cientista político e professor da UFRJ Jairo Nicolau, o petista deve apostar na formação de uma frente política ampla, em defesa da democracia, que seja abraçada inclusive pelo eleitor que não é de esquerda, mas não quer um recuo autoritário. Em nome da democracia, deve buscar apoios de adversários históricos, como Fernando Henrique Cardoso, para construir uma aliança ampla, republicana. Nicolau destacou ainda que, no primeiro turno, Haddad não foi além do petismo clássico e não fez nenhuma sinalização ao eleitor de centro. Para o segundo turno, a estratégia teria que ser outra. “As pessoas estão cobrando uma nova Carta aos Brasileiros, mas ela tinha que ter sido feita ontem. Haddad não tem dado sinais a este eleitor”, afirmou Nicolau. Segundo ele, Haddad, mesmo quando parou de crescer, não mudou a estratégia. “Ele é menos petista que a campanha que ele fez”, afirmou. Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas (Ebape/ FGV), Otávio Amorim Neto também sinalizou o centro como saída, mas disse não ter certeza se haverá tempo para o sucesso da estratégia. Em sua avaliação, o antipetismo se tornou a maior força política do primeiro turno e Bolsonaro encarnou justamente o sentimento antipetista. O cientista político Ivo Coser, professor da UFRJ, prevê, da parte de Bolsonaro, um movimento para se redefinir, dizer que não é homofóbico nem contra direitos trabalhistas. Por outro lado, analisa Coser, Haddad vai ter que ser Haddad, indo além do lulismo e do petismo, que já lhe garantiram os 29% de votos válidos do primeiro turno. Para o docente, o petista tem que, sobre e para o futuro, dizer algo que não foi feito no governo Lula: “Ele tem que se desvencilhar da herança positiva do PT e do segundo governo e ir além”. O caminho é, assim, buscar o centro, onde está o eleitorado majoritário do país. “Ele tem que se encaminhar para o centro, indicar alianças ao centro. Vão dizer que é continuidade de tudo isso que está aí? Vão dizer. Mas o polo antissistema já está ocupado; é o Bolsonaro. O que resta ao Haddad é ir para o centro, buscar aval para uma política moderada”, analisa Coser.

Na noite de domingo, dia 7, logo após saber que disputaria o segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que vai “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil”. A frase acendeu o sinal vermelho dos movimentos sociais país afora e fez crescer a mobilização para buscar votos contra a sua candidatura. Gizele Martins, jornalista e militante dos direitos humanos, explica que a estratégia para chegar aos moradores das periferias é o corpo a corpo. “Já vivemos o fascismo nas favelas. Um governo de extrema-direita pode piorar nossa vida”, disse. “Vamos lembrar as ações do PT que mudaram o dia a dia das pessoas, como o bolsa família, as cotas”, explica. O movimento de mulheres fará novo ato em 20 de outubro, com o mote “Mulheres pela democracia”, contra a candidatura de Bolsonaro. Militantes LGBTI formaram uma frente em favor de Haddad. “É um projeto que defende a democracia, com proposta clara sobre direito e igualdade. O outro propõe ódio e negação de direitos”, afirma Cláudio Nascimento, integrante da Aliança Nacional LGBTI. O desafio é conseguir falar para quem não defende a mesma causa, alerta o professor Ivo Coser. Ele lembra que o horário eleitoral gratuito perdeu influência diante das redes sociais, e a mobilização também terá de se dar nesse nível, onde Bolsonaro nadou de braçada no primeiro turno. “Não só se parte atrás em termos de números, mas também nas táticas de jogo”, afirma. AÇÕES NA UFRJ Preocupada com o futuro da universidade, a comunidade acadêmica reage. As entidades representativas de alunos, professores e técnicos lançaram nota conjunta em defesa da democracia (veja na página 4). A diretoria da Adufrj convocou assembleia para quarta-feira, dia 17, às 14h, na sala 426, 4º andar do Bloco A do CT. A discussão da conjuntura eleitoral e uma proposta de construção da Frente pela Democracia fazem parte da pauta. “Não é mobilização partidária. É posicionamento político. A briga é em defesa da universidade pública”, diz a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck. A movimentação na UFRJ não é isolada. O Andes indicou a realização de assembleias de docentes em todo o país para debater a criação de frentes antifascistas, além de propor a discussão de estratégias para a defesa de direitos e das universidades públicas. No Rio, sindicatos e movimentos sociais já iniciaram a mobilização. Diretor da Adufrj, o professor Eduardo Raupp tem participado dos encontros: “O clima é de apreensão, mas não de recolhimento. Estão todos mobilizados”. Raupp informa que estes fóruns terão caráter permanente: “A mobilização contra o fascismo não se encerra no segundo turno, qualquer que seja o resultado, diante da eleição de um Congresso Nacional de perfil bastante conservador”, disse.

Mais do que a eleição das redes, esta é a eleição do Whatsapp. A campanha de Haddad terá de intensificar a estratégia diante da máquina bolsonarista – cerca de 15 mil grupos de zap que começaram a agir há pelo menos três anos. Uma das tarefas decisivas do segundo turno, destaca a diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, professora Ivana Bentes, é responder com máxima velocidade às fake news no zap. A docente, que participou de uma reunião de coletivos de mídia em São Paulo, destaca iniciativas que começam a ser montadas nas redes sociais. “Serão criados grupos de Whatsapp com links públicos para oferecer uma contranarrativa”, disse. “Começou uma campanha de cada um virar dois votos por dia. As pessoas têm que reaprender a conversar”. Ivana criticou a decisão da candidatura do PSL de não ir aos debates do segundo turno, mas vê coerência: “Quanto mais ele fala, mais explicita o vazio da argumentação. É lamentável”. Sem ir a debates, Bolsonaro reagenda o confronto público e o desloca para seu palco favorito, as redes, onde tem seguidores fiéis e não é contestado. Outro ponto importante, para a diretora da ECO, é simplificar a linguagem para dialogar com outros grupos sociais. “A esquerda se acostumou a trabalhar com análise de conjuntura, com um discurso que não fura a ‘bolha’. É preciso investir em memes, em humor”, afirma. O cientista político Antônio Lavareda acompanha grupos de whatsapp de um lado e outro. “O volume que recebo de material de Bolsonaro, em relação ao de Haddad, é de 10 para um”, afirma. Mesmo numa eleição tão polarizada, Lavareda entende que é possível “converter” votos e furar a bolha. Na verdade, afirma Lavareda, as bolhas vão se ampliando e há chance de argumentação. Para o professor de Publicidade e Propaganda da UFRJ Marcelo Serpa, é preciso ouvir: “É preciso se desarmar e entender o eleitor. Sem isso, não tem como tocá-lo”. O docente lista grupos a serem conquistados, e o maior deles é o que não foi votar: são quase 30 milhões de eleitores, o que gerou uma abstenção de 20,33%. “O público que não quer saber de política é mais fácil de conquistar”, afirma Serpa. Votos nulos somaram 7,2 milhões (6,14%), e os em branco, 3,1 milhões (2,65%) — e também são votos a serem conquistados. Outro grupo é o de eleitores de outros candidatos, como Ciro e Marina. Por fim, se houver tempo, é possível buscar eleitores de Bolsonaro. “Em uma ponta, temos o bolsonarista que faz campanha. Na outra, o confuso, que não sabe bem se posicionar, e opta pelo Bolsonaro. Eu faria pesquisa com bolsonaristas, tentaria entender seu grau de convencimento. E encontrar um discurso que seduza o bolsonarista que não é fechado”, afirma Serpa.

Eleições 2018: uma história de mulheres e camadas

Faz mais ou menos um mês que recebi o convite para escrever este texto. Na época, as coisas já estavam difíceis. Imaginava que ficariam mais. A que ponto exatamente chegaríamos? Impossível precisar. Hoje tenho em mãos a missão de entregar meu artigo. Pergunto-me: sobre o que escrever? A princípio, poderia produzir um balanço sobre o que o último domingo significou para história do Brasil. Um grande retrocesso na luta por democracia. Ao mesmo tempo precisamos reconhecer: o processo eleitoral de 2018 não cabe por completo nessa sentença. Assim, poderia apresentar um quadro estatístico, enaltecendo as conquistas heroicas de mulheres negras, como Erica Malunguinho (PSOL). Autora do projeto revolucionário Aparelha Luzia Quilombo Urbano, a arte-educadora torna-se a primeira deputada federal transexual do estado de São Paulo. Como ela diz: “Reintegração de posse”. Eu, que ando por aí, destemida e rebelde, afirmando que mulheres negras são intelectuais em seus múltiplos fazeres, celebro a conquista de Erica e de todas as mulheres — cis e transgêneras — de meu grupo racial, evocando a imagem de D. Sonia. Na infância, adorava quando minha mãe fazia torta salgada. Ela explicava que o segredo para a receita dar certo era a quantidade de camadas que fazíamos. E, ao bom estilo da pobreza brasileira, identificada pela sociologia branca como “ralé”, a professora e cozinheira caprichava nas misturas. Geleia, frango, carne, sardinha, maionese, iogurte, purê de batata. Milimetricamente distribuídos em fatias de pão de forma sem casca, encomendadas com antecedência na padaria da esquina, a organização dos ingredientes garantia o sucesso do resultado. A tal torta, que em minha memória ficou associada à “semana do pagamento” de uma tradicional família brasileira, composta por mulheres da classe trabalhadora, é metáfora do agora. Nosso tempo presente é uma história de mulheres e camadas. O retrocesso é indiscutível. A gravidade chega ao ponto de termos no segundo turno um candidato acusado de sonegar impostos, receber propinas, ser beneficiado por caixa dois de campanhas eleitorais. Um político que defende o fim dos Ministérios do Trabalho, da Ciência e da Tecnologia. O porte de armas, a redução da licença-maternidade, a castração química como punição para crimes de estupro. Sob a narrativa de moralizar e proteger a sociedade, Jair Bolsonaro tornou-se a principal opção da população no Brasil, exceto no Nordeste. Região que, de novo, “deu um vira” no estereótipo de atraso e burrice. Água, comida, educação integram a gramática de uma democracia de marcas profundas. Voltando à torta salgada, prefiro acreditar que o crescimento da extrema direita, exemplificado pela eleição expressiva de políticos conservadores, homens, brancos, heterossexuais, em estados e na federação, pode ser lida como o meio. Por estranho que pareça, esse meio é dependente. De quem? Da primeira e da última camadas da torta. Elas são compostas pela passagem de Fernando Haddad para o 2º turno da eleição presidencial. Um político que, como prefeito de São Paulo, aumentou o piso salarial dos professores, construiu três hospitais gerais e mais de quatrocentas creches. Que, à frente do Ministério da Educação, notabilizou-se por programas revolucionários como o ProUni, pela abertura de 18 universidades federais e pelo Plano de Desenvolvimento da Educação. A base da torta traz a indicação de Fátima Bezerra, do PT, para disputar o 2º turno no Rio Grande do Norte. E, não menos importante: a eleição de mulheres negras para deputadas estaduais e federais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador. No Brasil irreversível, Áurea Carolina (PSOL-MG), Dani Monteiro (PSOL-RJ), Mônica Francisco (PSOL-RJ), Olívia Santana (PcdoB-BA), Renata Souza (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), entre outras, apresentam propostas que articulam equidade racial, de gênero e direitos humanos. Urbanização das favelas, desmilitarização do estado, desencarceramento, combate ao racismo institucional. Atenção à educação pública, às pessoas em situação de rua, legalização do aborto, estado laico, creches noturnas. Autonomeadas sementes da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018 por seu compromisso com o combate à violência e à corrupção, seus mandatos já começaram nas ruas. Nos milhões de votos recebidos. Hoje só dá para pensar que essas mulheres ocuparão a Câmara e as Assembleias Legislativas com a categoria das camadas que transformam a história. Elas chegam para ficar na política partidária. Merecem o nosso apoio. Nosso cuidado. Parabéns, meninas! GIOVANA XAVIER Historiadora, professora Faculdade de Educação UFRJ, coordenadora do Grupo Intelectuais Negras e do Grupo PET Diversidade UFRJ, colunista do Nexo Jornal

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