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O governo federal anunciou a doação de um terreno ao lado da Quinta da Boa Vista para o Museu Nacional. A área tem 49 mil metros quadrados e já abrigou as antigas cavalariças imperiais. A direção pleiteia o espaço desde o ano passado, mas só agora a Secretaria de Patrimônio da União acatou o pedido. Devido à restrição de distribuição de bens durante o período eleitoral, o local será concedido temporariamente, com a promessa de doação. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria, o espaço está desocupado e sua destinação – que atualmente é moradia – está sendo modificada. Ainda não há previsão da entrega definitiva do terreno ao museu. Durante a concessão temporária, a ocupação se dará por contêiner para abrigar o setor administrativo, gabinetes, salas e uma espécie de guarda de acervo. Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, afirma que terreno possibilitará uma “extensão” do parque da Quinta da Boa Vista, com atividades para o público. O imóvel fica localizado em frente ao Corpo de Bombeiros, na Rua Bartolomeu Gusmão, no bairro de São Cristóvão. Para o diretor, a continuidade das atividades realizadas pelo Museu Nacional depende deste espaço: “Sem esse terreno, a instituição acaba”, afirma. No dia 19, o MEC autorizou a liberação de R$ 8,5 milhões para a reconstrução do Museu. O dinheiro faz parte dos R$ 10 milhões prometidos após o incêndio.

A distribuição de renda foi um dos elementos do crescimento econômico do Brasil no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A afirmação foi feita pela professora Laura Carvalho, durante o curso “Interpretações sobre o Brasil Contemporâneo”, promovido pela Adufrj. Docente da Faculdade de Economia e Administração da USP, Laura lançou este ano seu primeiro livro, “Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico”, que faz um diagnóstico dos erros e acertos macroeconômicos dos governos do PT. O estudo da professora localiza o apogeu petista entre 2006 e 2010. “Os trabalhadores beneficiados foram os de baixa escolaridade e renda de até três salários mínimos. Foram pessoas empregadas por ramos relacionados à construção civil e a serviços como restaurante e salões de beleza”, explica. O “milagrinho”, segundo a autora, se caracterizou por uma distribuição “muito além dos programas sociais como Bolsa Família e da valorização do salário mínimo”. Foi fruto também de uma forte política de investimentos em infraestrutura (Programa de Aceleração do Crescimento, por exemplo) e de crédito, com grande efeito multiplicador na geração de emprego e de renda. Laura refuta as teses de que o PT apenas surfou na combinação favorável da estabilização econômica (inflacionária e cambial), anterior ao governo, com um cenário internacional propício à exportação das commodities brasileiras, sobretudo para a China. Mas ela também discorda de que a crise atual não tem relação com erros macroeconômicos das últimas gestões petistas. “A partir de Dilma, temos uma agenda marcada por isenções fiscais para setores específicos que não dão o retorno esperado”, analisa. PROGRAMAÇÃO ATÉ OUTUBRO Laura foi a palestrante convidada para ministrar a segunda aula do curso da Adufrj, no dia 15. No sábado, 22, é a vez do diretor do Instituto de Economia da UFRJ, David Kupfer, no auditório da Casa da Ciência. A programação segue até outubro. ENTREVISTA I LAURA CARVALHO Que lições a experiência petista deixa em relação à política econômica? Que o combate às desigualdades e a distribuição de renda, mas também o acesso a infraestrutura e a serviços públicos em geral, podem funcionar como importantes motores de crescimento da economia e da geração de empregos. E que continuam sendo a melhor alternativa para que a gente saia da mais lenta recuperação da história das crises. Essa agenda acabou se perdendo nos últimos anos quando, na verdade, foi feito o contrário. Está se retirando o acesso a serviços públicos e se ampliando desigualdades nas suas mais diversas dimensões. Qual a perspectiva de crescimento diante da Emenda Constitucional 95? Todos os estudos feitos até agora mostram que o teto de gastos não vai conseguir ser cumprido. Independente se isso está ou não no programa do candidato, o fato é que esse governo deixou uma bomba-relógio para 2019: cumprir o teto significaria paralisar a máquina pública. Sabemos que isso vai ter que ser substituído por um outro tipo de regra, talvez mais realista. A questão que fica é o que vem no lugar. É muito importante o debate na universidade e na sociedade para que a nova regra não tenha as mesmas características. As candidaturas colocadas apresentam alternativas mais promissoras de ajuste? Houve, pelo menos dentro dos programas econômicos, uma atenção especial para a questão da reforma tributária. Ou seja, o reconhecimento da necessidade de mudar a forma como atualmente o orçamento público acaba concentrando renda na hora que está taxando relativamente mais os mais pobres. E menos aos mais ricos. No momento que isso ganha centralidade em todas as plataformas, já há um entendimento da importância de tornar o orçamento público o mais redistributivo possível, para que ele passe a atuar como um novo motor de retomada de crescimento de longo prazo.

Luiz Bevilacqua (Coppe); Mauro Osorio (Direito); e Fernando Rochinha (Coppe) dissecam propostas para as universidades estaduais, como a Uerj (foto); para C&T; e para a economia do Rio Kelvin Melo e Silvana Sá Todos têm projetos de governo. Nenhum tem projeto de Estado”, afirma o professor Titular da Coppe, Luiz Bevilacqua. O docente foi um dos três especialistas convidados pelo Boletim da Adufrj para avaliar os programas dos principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro. Ex-reitor da Universidade Federal do ABC, Bevilacqua analisou os programas no quesito universidade. O economista Mauro Osorio examinou os projetos para a retirada do Rio de Janeiro de sua maior crise econômica. Já o professor Fernando Rochinha, diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, dissecou as propostas para Ciência e Tecnologia. Apesar de a UFRJ ser uma instituição federal, o próximo ocupante do Palácio Guanabara pode influenciar de maneira decisiva as ações da universidade, sobretudo em ciência e tecnologia. Os atrasos nos pagamentos de bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) deixam isso bem claro. Nas próximas páginas, serão apresentadas e analisadas as formulações de Eduardo Paes, Romário Faria, Anthony Garotinho e Tarcísio Motta. São os quatro primeiros colocados na última pesquisa realizada pelo Ibope, no dia 19 de setembro. Apesar de Tarcísio estar empatado com Índio da Costa na enquete estimulada, a pesquisa espontânea indica o psolista à frente de Índio, com 3% contra 1% das intenções de voto. Na contramão do discurso liberal de que o Estado precisa cortar gastos, o professor Mauro Osorio, da Faculdade Nacional de Direito, afirma que o problema das finanças fluminenses é de receita: “Um exemplo é a injustiça federativa: em 2017, o Governo Federal arrecadou em torno de R$ 145 bilhões no Rio e devolveu apenas cerca de R$ 25 bilhões”, diz. Ele também destaca a importância de o governador trabalhar com o conceito de “complexos produtivos”, “em que grandes, médias e pequenas empresas se articulam para viabilizar adensamento produtivo”. A questão da articulação entre áreas também preocupa o professor Rochinha, escolhido para analisar as propostas em C&T. “Os candidatos demonstram preocupação com a recuperação do aparato institucional do Estado em Ciência e Tecnologia”, mas não apresentam estratégias de articulação entre os diversos setores de C&T. “Em Minas Gerais, por exemplo, já vemos esse esforço do poder público”, completa.   Universidades: propostas e avaliação Ciência e Tecnologia: propostas e avaliação Economia: propostas e avaliação

Em debate realizado na Coppe no último dia 18, especialistas reivindicam utilização de recursos com origem na exploração do petróleo nas políticas sociais do país “O volume de recursos que gira em torno da área do petróleo e gás é muito grande. Há muitas possibilidades para saúde, educação. Será que queremos atender apenas a acionistas?”. A indagação é do professor Ildo Sauer, ex-diretor executivo da Petrobras, que participou do seminário “Política do Petróleo, Educação, Ciência, Tecnologia e Saúde”. O debate, idealizado pela reitoria, Adufrj, DCE Mário Prata e Sintufrj, foi realizado dia 18, na Coppe. O professor Nelson Souza e Silva, Emérito da Faculdade de Medicina, abriu o encontro. “A descoberta do pré-sal gerou esperança de um novo patamar no desenvolvimento do país. Mas, ano a ano, as legislações sobre o tema vêm sendo muito modificadas, de forma que ao invés de termos mais recursos, estamos perdendo recursos importantes para o desenvolvimento nacional”, afirmou. O sensível momento político do país influenciou a discussão na Coppe. “Este debate acontece num momento em que os rumos precisam ser repensados e o período eleitoral nos permite pensar estes cenários. Hoje, vivemos profundos cortes em áreas sociais e os recursos do pré-sal podem alterar a escala de investimentos na educação”, disse o reitor Roberto Leher. O ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Guilherme Estrella, também analisou o momento político. “Estamos diante de dois projetos: um é de um país submisso, alinhado ao sistema financeiro internacional, racista, escravagista. O outro prevê o fortalecimento de um país soberano, cujo povo usufrua das riquezas nacionais”, comparou. Emérito da Coppe, o professor Luiz Pinguelli Rosa criticou a atual orientação de negócios realizada pela Petrobras. “Pelo seu novo Plano de Negócios e Gestão, haverá a retirada integral da companhia do setor de biocombustível. A Petrobras está na contramão da história. Outras empresas produtoras de petróleo e gás estão justamente investindo em biocombustíveis”, afirmou. A segunda mesa do seminário contou com a participação do professor Eduardo Costa Pinto e da professora Esther Dweck, ambos do Instituto de Economia da UFRJ. Costa Pinto salientou que o projeto de desenvolvimento do país, iniciado em 2003, começou a ser desmontado ainda em 2010. “Pela primeira vez vi um país dar subsídio para empresa estrangeira explorar e criar empregos para fora do país”, lembrou. Já a economista Esther Dweck focou no novo regime fiscal que impõe limite para a destinação de recursos para as áreas sociais. “A Emenda Constitucional 95 tende a impor cortes no orçamento discricionário, que são os gastos não obrigatórios, como investimentos na área de Ciência e Tecnologia, por exemplo. A tendência é termos zero recursos discricionários nos próximos anos, caso não seja revogada a emenda”, alertou a professora. “O que está em jogo é o modelo de financiamento do Estado, com imposição de cortes absurdos em áreas fundamentais, acabando com nossa capacidade de tornar a sociedade mais igualitária”, completou.

O Museu Nacional é literalmente a segunda casa de Vera Huszar. Dos seus 67 anos, 40 são dedicados a pesquisas e ensino no antigo palácio imperial. Hoje professora Titular, ela ingressou em 1979. “Toda a minha vida de produção e orientação científica foi aqui”, diz a docente, primeira personagem da série “Talismã, publicada a partir desta edição no Boletim da Adufrj. A ideia é homenagear e resgatar as histórias das pesssoas que dedicam suas vidas ao Museu. “Eles são o nosso maior patrimônio. Perdemos parte da construção, mas os cérebros continuam contribuindo para a nação”, resume o diretor Alexander Kellner. Vera Huszar se emociona ao contar sua trajetória. “Meu envolvimento é com cada pedacinho do palácio”, destaca. “Foi uma perda enorme de um acervo insubstituível”, lamenta. Graduada em Licenciatura em História Natural, pela Universidade Católica de Pelotas, Vera é mestre em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos. Tem pós-doutorado no Institute of Ecosystem Studies, em Nova York. Além de pesquisadora de Ecologia Aquática, ela é presidente da Associação Amigos do Museu Nacional, organização sem fins lucrativos criada em 1937 para apoiar projetos de conservação, educação, ciência e cultura do espaço. Apesar da dor pela tragédia, a professora enfatiza a solidariedade para superar a crise. “É um momento muito duro, mas de muita solidariedade, de receptividade e acolhimento”, conta. E indica os passos para seguir em frente: “O museu tem muitas parcerias internacionais, produção acadêmica relevante, coleções importantíssimas e únicas”, afirma. O futuro, para ela, será um cenário de descobertas. “Buscaremos repor o que foi perdido, mas, certamente, será um novo museu. O prioritário é estarmos juntos geograficamente e retomarmos nossa rotina acadêmica”, defende. (Colaborou Larissa Caetano)

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