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Quem chega diariamente à Cidade Universitária de carro ou de ônibus não conhece outro ângulo pouco usual da Ilha do Fundão. A vista do campus a partir da Baía de Guanabara é um privilégio dos pescadores que tiram das águas do entorno o ganha-pão de cada dia.
Na sexta-feira (6), o projeto Orla Sem Lixo organizou um evento na Prainha, aos fundos da Faculdade de Letras, que apresentou a Enseada do Fundão para a comunidade acadêmica. Além de passeios de barco, uma feira de Ciências ao ar livre mostrou todas as frentes de ação do programa. O evento fez parte das celebrações da Semana Mundial do Meio Ambiente.
O projeto, que nasceu em 2020, instalou barreiras na Prainha e no mangue da Enseada de Bom Jesus, próximo ao Parque Tecnológico. O objetivo dos projetos-piloto é a recuperação dos ecossistemas nessas duas regiões. “Aqui chega muito lixo. Nossa estimativa é de que aqui chegue uma tonelada de lixo por dia”, disse a professora Susana Vinzon, coordenadora do projeto Orla Sem Lixo.
SABERES TRADICIONAIS
A multidisciplinaridade é uma marca do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores. “A ideia é agregar professores e grupos que tenham interesse em desenvolver pesquisas dentro dessa temática que abrange muitas áreas”, explicou Vinzon. “É um projeto orgânico que cresce em função do financiamento e do interesse de pessoas que querem investigar dentro do universo do impacto do lixo na costa”, completou.
A comunidade de pescadores também é parte fundamental do desenvolvimento do projeto. Mensalmente, os pesquisadores organizam o “Café com Orla” para ouvir as contribuições de quem tem o conhecimento prático.“Os pescadores constroem e participam de todo o processo. Eles têm a vivência e isso é essencial”, pontuou a docente.
A integração entre pessoas e saberes diferentes é o grande desafio do psicólogo Jairton da Silva, estudante de mestrado do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social, envolvido no projeto desde 2021. “São grupos que, muitas vezes, não conversam”, revelou sobre o trabalho de sentar com pesquisadores de diferentes áreas e com os pescadores. “Juntar todas essas pessoas representa um avanço no pertencimento e na valorização de saberes tradicionais”.
O trabalho desempenhado pelos pesquisadores do projeto é um fio de esperança para as águas da Guanabara. “As barreiras são efetivas e as melhorias já são evidentes”, afirmou a professora Vinzon. A pescadora Ana Paula Amorim confirmou o avanço na qualidade da água na Prainha. A paraibana trabalha no entorno da Ilha do Fundão desde 2005. “Tem espécies de peixes voltando a entrar aqui”, celebrou. “Antes tínhamos que ir longe para conseguir pescar, agora a gente joga a rede por aqui mesmo e pega tainha, robalo, siri, camarão”.ORLA SEM LIXO Para Susana Vinzon, a vivência dos pescadores é essencial no projeto
A Prainha é mais que apenas lugar de trabalho para a pescadora. Moradora da Maré, Ana Paula leva os filhos ao local nos momentos de lazer. “Não precisamos ir para longe tendo uma praia maravilhosa ao lado de casa. O que precisamos é que esse trabalho tenha continuidade para manter essas boas condições”, disse, esperançosa.
A preocupação com a saúde mental e as condições de trabalho dos pescadores está entre os temas discutidos pelos pesquisadores. “A Cidade Universitária foi construída a partir do aterro de sete ilhas onde viviam comunidades de pescadores”, apontou a professora Vinzon. “Esse é também um trabalho de resgate”, definiu.
Com o apoio da Petrobras, está em estudo a construção de uma base de apoio para os pescadores na Prainha. Será a primeira estrutura do Parque da Orla que consta no Plano Diretor 2030 da UFRJ. “O conceito é trazer a biodiversidade, o ambiente natural e soluções modernas que ajudem na conscientização das pessoas sobre a importância do meio ambiente”, explicou Susana Vinzon.
Roberto Guedes é um dos pescadores que serão beneficiados com a construção da estrutura de apoio. Morador de Belford Roxo, Roberto pesca na Prainha há 28 anos. Todo domingo, o pescador e a esposa Livânia pegam a cadelinha Pimenta e embarcam na Kombi do casal em direção ao Fundão, onde montam acampamento para trabalhar até quarta-feira. “Temos que trazer água potável, bateria para ter luz, um fogareiro para cozinhar e gelo para armazenar os peixes”, contou sobre a rotina.
Os passeios de barco fizeram sucesso com o público. Caroline Dantas, estudante de Engenharia Civil, participou do roteiro que levou os visitantes até a Ilha do Catalão, na outra extremidade da enseada. A jovem conheceu o projeto em uma ação realizada na Ilha do Governador, perto de onde mora. “É importante conhecer o entorno de onde a gente vive e estuda”. A estudante ficou impressionada com a quantidade de lixo retida pelas barreiras instaladas pelo projeto. “Sabia que a baía é poluída, mas só vendo a quantidade de lixo boiando é que se tem noção real do problema e da importância de ações como essa”, refletiu.
Na cidade que recebeu a maior quantidade de africanos escravizados durante a diáspora negra, o sangue de corpos pretos continua escorrendo diariamente. O jovem Herus Guimarães, morto em ação do Bope durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, está entre as vítimas mais recentes da violência de Estado que atinge a população negra no Rio de Janeiro.
Olhar para o passado e revisitar a história da escravidão no Brasil é uma oportunidade de repensar um futuro diferente. Pensando no poder da educação e da cultura como mecanismo de transformação, a AdUFRJ promoveu no sábado (7), um passeio ao Museu Memorial dos Pretos Novos, na Gamboa.
“Esse roteiro não é sobre o passado”, destacou o historiador Gabriel Siqueira, guia do passeio. “A escravidão pode parecer parte do passado, mas corpos pretos continuam sendo vítimas de violências do Estado”, completou.
O roteiro começou no Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, onde entre 1811 e 1843 historiadores estimam que até dois milhões de africanos escravizados desembarcaram. Do cais ao museu, Gabriel — que também é capoeirista — cantou e tocou ao berimbau canções que relembram o sofrimento e a resistência do povo negro.
“Navio negreiro, tumba flutuante, terra mãe distante, dor e desespero”, dizem os versos da canção de Mestre Toni Vargas entoada pelo guia.
Os pretos novos eram os africanos escravizados recém-chegados ao Brasil. Aqueles que não resistiam aos maus-tratos na longa travessia do Atlântico eram lançados ao mar ou jogados em uma vala comum, junto com o lixo depositado pela população. Até o fechamento em 1830, entre 20 e 30 mil pessoas foram enterradas no antigo Caminho da Gamboa, hoje Rua Pedro Ernesto, no que é considerado o maior cemitério de pessoas escravizadas das Américas.
A professora Nedir do Espirito Santo, vice-presidenta da AdUFRJ, reforçou a importância do roteiro para divulgar uma história ainda pouco conhecida. “Só aqui podemos ter noção de toda dor e sofrimento que essas pessoas passaram”.
O cemitério foi descoberto em 1996, quando moradores do local iniciaram obras de reformas na casa que hoje abriga o museu. Na fundação da casa foram encontrados milhares de fragmentos de ossos que as pesquisas arqueológicas apontaram pertencerem majoritariamente a crianças e adolescentes.
A visita ao museu comoveu o professor Hugo Nóbrega, do Instituto de Computação. “Fiquei arrepiado do começo ao fim. É muito impactante ver esses pedaços de ossos de pessoas que foram brutalizadas”, comentou. O docente refletiu sobre a condição em que os restos mortais foram encontrados. “É simbólico que tenham sido descobertos sob a fundação de uma casa, diz muito sobre a fundação na nossa sociedade. Precisamos sempre olhar as coisas com essa lente para entender o presente”.
A professora Rozane Tardin, da Escola de Educação Física e Desportos, participou pela primeira vez de um passeio cultural promovido pela AdUFRJ e aprovou a experiência. “Achei um espetáculo. É uma história muito profunda da escravidão e dos movimentos de resistência do povo negro”, exclamou. A atividade foi a oportunidade que a docente precisava para conhecer o museu. “Sempre tive vontade de conhecer esse local. Com certeza, estarei presente nos próximos passeios”.
O impacto do passeio nos docentes fomentou o desejo por novos programas com essa temática. Nedir garantiu novas atividades para divulgação da história da escravidão e da herança africana no Rio de Janeiro. “Os professores pediram e nós faremos novamente um passeio pela região da Pequena África para dar continuidade a esse processo de aprendizagem”, afirmou, ao final da visitação.
A Pró-reitoria de Pessoal emitiu comunicado na última semana com atualizações sobre os processos de afastamento laboral. O mecanismo deve ser utilizado toda vez que um servidor pretende se ausentar do trabalho por variados motivos como, por exemplo: participação em eventos, atividades de pesquisa, representações institucionais, qualificação. A principal novidade é que os 13 tipos processuais foram resumidos a apenas três: afastamento no país; afastamento para o exterior; e afastamento para o exterior Capes/Print – quando a viagem acontece no bojo do Programa de Internacionalização da Capes.
Outra novidade bem-vinda é a ampliação do prazo do afastamento no país de curta duração, que passou de 15 para 30 dias. Para esses casos, a tramitação é mais simples. “É o RH da unidade que faz a publicação do afastamento, apenas com a autorização da direção, sem que o processo seja encaminhado para a PR-4”, explica Katia Cardoso, chefe da Seção de Amparo Legal da Pró-reitoria de Pessoal.
Ela conta que as alterações pretendem facilitar os processos e resguardar os servidores. “Enxugar os processos foi uma necessidade para reduzir erros e agilizar as publicações desses afastamentos”, analisa. “Por mês chegam para nós, em média, 400 pedidos de afastamento. Os docentes são o principal público solicitante pela natureza de sua função”, conta.
As chamadas ‘bases de conhecimento’, que são as razões do afastamento, também foram reduzidas e agrupadas. Deixaram de ser 12 bases para apenas duas. Uma para afastamento no país e outra para afastamento para o exterior.
FORMULÁRIO SEI
O pedido de afastamento deve ser formalizado em formulário próprio via Sistema Eletrônico de Informação (SEI). A PR-4 solicita que os processos sejam iniciados pelo menos 30 dias antes da viagem, para que a publicação ocorra antes do prazo requerido pelo servidor. “Nossa preocupação com os procedimentos e prazos de publicação é resguardar o professor ante qualquer questionamento de órgãos de controle”, afirma Rogerio Cruz, diretor da Divisão de Direitos e Deveres da PR-4.
O procedimento é importante para evitar dores de cabeça futuras. “Sem que a publicação aconteça, esse professor não estará efetivamente liberado de suas atividades laborais, mesmo que tenha a dispensa de sua chefia imediata”, adverte. “Os documentos servem para comprovar a importância daquela atividade que o docente irá desempenhar fora da universidade e impedem eventuais solicitações de reposição de ônus”.
TIPOS DE ÔNUS
Cabe ao docente indicar no processo se o afastamento terá ônus e quem pagará esse custo. A indicação de “ônus limitado” mantém o salário e principalmente o vínculo com a previdência própria do Regime Jurídico Único. Ou seja: o afastamento segue contando tempo para a aposentadoria. Para afastamentos “sem ônus”, o professor se ausenta da universidade sem recebimento de salário. “Nesses casos, a gente orienta que ele continue recolhendo a contribuição previdenciária”, indica Rogério Cruz. “Sem esse recolhimento, o professor fica sem direitos em caso de doenças, licença-maternidade ou morte”, pontua.
“Também é importante apontar se trata de ‘ônus diversos’, quando o pesquisador será financiado por algum órgão de fomento à pesquisa”, acrescenta Katia Cardoso.
Os afastamentos têm prazo máximo: para qualificação de mestrado são dois anos; de doutorado, quatro anos. Já para pós-doc, um ano. Afastamentos para o exterior têm limite de quatro anos.
Diretor da AdUFRJ, o professor Rodrigo Nunes da Fonseca celebra as melhorias nos procedimentos. “Nós, docentes, somos bombardeados com uma série de burocracias internas e externas. Então, iniciativas que buscam facilitar o dia a dia são sempre muito bem-vindas”.
A professora Denise Pires de Carvalho, presidente da Capes e ex-reitora da UFRJ, assumiu no último dia 27 a presidência do Conselho Científico do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), da França. O IRD é uma instituição pública que realiza parcerias com países do Sul Global, como o Brasil, pelo cumprimento dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).
A docente já havia sido nomeada conselheira científica do IRD neste mês. O Conselho Científico do instituto é formado por 30 integrantes, sendo 15 eleitos pelos pesquisadores do próprio IRD. Os outros 15, como a presidente da Capes, são nomeados para representar a diversidade da pesquisa internacional. Denise foi escolhida para presidir o órgão por unanimidade, em reunião presencial na sede da instituição, em Marselha (França).
Caminhos para o desenvolvimento da cultura científica e digital para aumentar o interesse e a participação de estudantes do ensino básico no ambiente escolar. Esse foi o tema do Simpósio de Pesquisa em Rede “Escolarização aberta com tecnologias digitais: aproximando currículo, escola e sociedade”, organizado pelo Laboratório de Tecnologias Cognitivas do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde no Auditório Hélio Fraga, na quarta-feira, 21. O projeto coordenado pela professora Miriam Struchiner envolve pesquisadores da UFRJ e de outras seis universidades de diferentes regiões do Brasil.
Todas as pesquisas apresentadas adotam a perspectiva da escolarização aberta. Trata-se de uma abordagem de educação que rompe com o modelo disciplinarizado e funcionalista e propõe um processo de aprendizagem que estimula a crítica, o debate e a colaboração.
O protagonismo do estudante é central para a aplicação desta abordagem. “A ideia é conseguir ampliar os conhecimentos dos alunos a partir do que lhes interessa aprender, levando as pessoas da comunidade e da universidade para conversar com eles”, disse Struchiner. “Eles são autores, estão à frente dos projetos pensando em questões que são importantes para a coletividade deles”.
A docente atua em parceria com professores da Escola Municipal Madrid, em Vila Isabel, no projeto “Web Rádio Fala, Madrid”. Andréa Rodrigues Dias, professora de história da rede municipal de educação, comentou o funcionamento da atividade que começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19. “Os alunos decidem os temas abordados e ficam muito empolgados. Já abordaram assuntos como racismo, bullying, diversidade, o lugar da mulher na sociedade, entre outros”, explicou a professora que recebeu o prêmio Anísio Teixeira da Escola de Formação de Professores Paulo Freire.
No primeiro ano do projeto, a escolha do tema pelos alunos chamou a atenção da professora Miriam. “Achei que eles iriam escolher falar sobre a Covid, mas quiseram debater o racismo. Foi ótimo”, exaltou. O desenrolar da pandemia trouxe recortes que enriqueceram e ampliaram o debate dos estudantes. “Eles pediram para discutir o porquê de a população preta estar mais vulnerável à doença. Convidamos cientistas e professores que trabalham história e filosofia da ciência para conversar com eles”, recordou Struchiner.
A valorização do contexto em que os estudantes estão inseridos também fez parte do trabalho da professora Karine Pinheiro de Souza, do Instituto de Formação de Educadores da Universidade Federal do Cariri. Na pequena Porteiras, cidade de 15 mil habitantes no Ceará, o patrimônio cultural local passou a fazer parte do currículo escolar. “A primeira atividade na escola é abrir a janela. Trazer para a escola não apenas os saberes teóricos, mas também as vozes dos mestres das culturas e os saberes locais”.
Para a docente, o movimento de abrir a janela e observar as problemáticas do entorno é o ponto de partida para alunos da educação básica e estudantes de pedagogia envolvidos no projeto se desenvolverem como pesquisadores. “O quadripé ensino, pesquisa, extensão e cultura é fundamental para o desenvolvimento de práticas sociais”, explicou a docente.
Em Santa Catarina, o professor Marcio Vieira de Souza, do departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC, destacou o trabalho em conjunto com professores da rede pública da cidade de Sombrio, a 250 km da capital Florianópolis. “Queríamos aprofundar para influenciar em políticas públicas de educação. Fizemos um trabalho de formação, mas o principal foi o resgate e valorização de ações que já eram desenvolvidas pelos professores há muito anos”, revelou Marcio. O projeto resultou em um livro digital escrito por 27 professores da cidade com a orientação dos pesquisadores da universidade.
A professora Maria Elizabeth de Almeida, da Faculdade de Educação da PUC-SP, desenvolve pesquisa em uma escola municipal localizada na Brasilândia, em São Paulo. Para a docente, a potência da colaboração entre universidade, escola e sociedade é fundamental para a formação de professores e pesquisadores. “Acho até que aprendemos mais com a escola do que a escola aprende conosco”, diz a docente. “A gente sai da escola e continua trabalhando com tudo o que vivenciou lá dentro”.