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WhatsApp Image 2024 09 27 at 21.34.33 1Foto: Walterson Rosa/MINISTÉRIO DA SAÚDEUma semana depois das cenas de violência que marcaram a desocupação do Pavilhão João Lyra Filho, no campus Maracanã da Uerj, o Jornal da AdUFRJ ouviu dois personagens marcantes do episódio. Para a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo, o pedido de reintegração foi a única alternativa que restou depois de várias tentativas de diálogo com os estudantes. Já para o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que foi preso pela PM na ocasião, a reitoria é responsável direta pelos acontecimentos. A seguir, as duas visões opostas da crise na estadual.

Olhando agora o que aconteceu, voltaria a pedir a reintegração de posse na Justiça, com uso da força policial?
O pedido de reintegração de posse não envolvia obrigatoriamente a ação policial. O uso da força foi solicitado pela juíza após o descumprimento de sua decisão. Nas condições em que manifestantes radicalizaram a sua posição, confrontando a Justiça, e impondo riscos à própria vida e à vida dos servidores que tinham acesso ao Pavilhão João Lyra Filho, já que ignoraram todos os avisos da necessidade de desbloquear saídas de incêndio e portas de fuga, não houve outra alternativa.

Como viu a prisão de estudantes e do deputado Glauber Braga?
Poderiam ter sido evitadas. Antes de a polícia entrar foram feitas várias tentativas de negociação para a saída pacífica. A intenção era mostrar que, com decisão da Justiça, seria inevitável a desocupação. Eles preferiram permanecer.

Os estudantes denunciaram a presença de seguranças privados na ação de desocupação. Chegaram a chamá-los de milicianos. A senhora identificou esses seguranças?
Os agentes patrimoniais são trabalhadores de empresa terceirizada e, em função disto, a chefia da Segurança pediu reforços, ante às graves ameaças de resistência do movimento, ao descumprirem a decisão da Justiça. Apesar de não estarem com uniforme usual dos agentes que trabalham regularmente na Uerj, estavam todos identificados com blusas pretas, orientados e sob a supervisão da chefia. Chamar os agentes de milicianos é um desrespeito com os trabalhadores.

O que fará a reitoria em relação ao patrimônio avariado?
Os danos causados pela ocupação ainda estão sendo apurados, assim como o sumiço de discos rígidos (HDs) com informações sensíveis para a Uerj, que seguem desaparecidos. Ainda não há a contabilização de todos os prejuízos materiais. Foram instauradas sindicâncias para identificar os envolvidos nos atos de depredação. As medidas podem ser de natureza administrativa, conforme o regimento interno da universidade.

Como fica a questão do calendário acadêmico? Será mantido?
Adequações no calendário acadêmico foram debatidas no Fórum de Diretores que aconteceu na quarta-feira (25), e que contou com a participação de representantes das unidades acadêmicas e administrativas. Propostas de ajuste no calendário serão debatidas no Conselho Superior de Ensino e Pesquisa.

Após essa crise, abriu-se uma janela de negociação de recursos junto ao Governo do Estado?
Não foi a crise. Essa suplementação já vinha sendo pleiteada por nós em várias reuniões desde o início do ano. No dia 27 de agosto, o Governo do Estado autorizou uma suplementação para despesas gerais da universidade e R$ 9 milhões com destinação específica para obras de construção do Restaurante Universitário da Faculdade de Formação de Professores, no campus São Gonçalo. O valor vai possibilitar o pagamento das bolsas transitórias até dezembro de 2024, entre outras despesas, como o pagamento de serviços terceirizados. Por enquanto, o Governo do Estado não indicou mais nenhuma verba suplementar. Em 2023, a suplementação total do governo foi de mais de R$ 300 milhões.

Como será administrar a universidade após episódio tão lamentável? Teme que o diálogo com as lideranças estudantis fique mais difícil?
As aulas e demais atividades acadêmicas retomaram na terça-feira, dia 24. Esperamos, sinceramente, que as lideranças estudantis percebam que avançamos no diálogo ao acolher grande parte de seus pleitos. E pretendemos avançar ainda mais na construção de uma nova política de assistência estudantil, contando com a contribuição de vários segmentos da nossa Universidade.

WhatsApp Image 2024 09 27 at 21.34.32 6Foto: Beatriz MagnoO Salão Pedro Calmon, no campus Praia Vermelha, foi palco de um ato de desagravo à equipe da reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, nesta quinta-feira (26). Intitulado “A importância da Uerj para a CT&I do Rio de Janeiro”, o evento foi promovido pela Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Rio de Janeiro, e contou com a participação de nomes de peso da UFRJ, UFF, UniRio, Fiocruz e CBPF. A dirigente vem enfrentando uma crise na universidade com a resistência dos estudantes a mudanças nos critérios de concessão de bolsas e auxílios assistenciais.
O ápice da crise aconteceu na semana passada. Na sexta-feira (20), o Batalhão de Choque da PM cumpriu determinação judicial de retirar os estudantes que ocupavam, havia 55 dias, o Pavilhão João Lyra Filho, o principal do campus da Uerj no Maracanã. Os policiais usaram bombas de efeito moral e spray de pimenta contra os estudantes. Dois deles, um jornalista e o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que prestava apoio ao grupo, foram presos e liberados horas depois.

SOLIDARIEDADE
A mesa do evento foi conduzida pelo presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro (USP), pela conselheira Lígia Bahia (IESC-UFRJ) e pelo secretário regional da entidade, Thiago Signorini Gonçalves (OV-UFRJ). Logo na abertura, Janine deixou claro que todos estavam ali para apoiar a gestão da Uerj. “A SBPC considera que a Uerj é decisiva, essencial para a área de Ciência e Tecnologia, e não só do estado do Rio de Janeiro, mas do Brasil. Foi a primeira instituição brasileira a instituir cotas de ingresso na graduação de forma democrática. Viemos aqui para dar apoio à reitora. Esse tipo de luta fratricida enfraquece a democracia”, pontuou Janine.WhatsApp Image 2024 09 27 at 21.34.33
A reitora da Uerj — foi eleita para o período 2024-2027 — iniciou sua fala agradecendo a solidariedade da comunidade científica e não escondeu os desafios de sua gestão. “Estamos vivendo momentos bem difíceis. Não imaginávamos que a crise tomaria essa proporção. Não temos autonomia financeira, dependemos integralmente do governo do estado para funcionar”, disse a dirigente.
Ao falar da desocupação da universidade na semana passada (veja mais detalhes na entrevista da página 6), a professora disse que a alternativa foi a que restou diante da falta de diálogo com os estudantes. “Nesses 50 dias, fizemos de tudo para não pedir a reintegração. Houve quebra de patrimônio, uso de dados, invasão de computadores, uma escalada da violência. Não sabíamos mais quem estava participando da ocupação. Não eram só estudantes. Foram oito rodadas de negociação. Na última, ficou nítido que alguns ocupantes não deixavam espaço para estudantes com uma visão diferenciada, com tendência de aceitar nossa proposta de transição. Chegou a um ponto sem limite, não havia mais segurança no prédio, as portas de emergência trancadas, professores e alunos impedidos de ter aulas. Nosso Fórum de Diretores decidiu que não havia alternativa a não ser pedir a reintegração de posse. Até hoje vivemos o reflexo de tudo isso”.
Gulnar estava acompanhada de seu vice-reitor, Bruno Deusdará, e de vários pró-reitores, diretores, superintendentes e professores da Uerj. Representando a reitoria da UFRJ, o superintendente-geral da PR-2, professor Felipe Rosa, disse que o evento ia além da solidariedade. “Esse encontro gira em torno da preservação da universidade pública e da democracia. Há medidas que ninguém quer tomar, como o que aconteceu na Uerj. Mas quando uma parte é intransigente, às vezes não tem jeito. Ficamos felizes porque a Uerj está voltando a ter aulas, com suas políticas inclusivas”, disse Rosa.
O professor Luiz Bevilacqua viu no encontro uma oportunidade de maior aproximação entre as instituições que atuam no Rio de Janeiro. “Vamos trabalhar juntos? Não só nos momentos de crise, mas nos momentos de paz. Trocar estudantes, trocar professores, nos comunicar mais. É um apelo que faço. Vamos nos dar as mãos também nos momentos de paz”, disse.
Já o ex-reitor Carlos Frederico Leão Rocha fez uma defesa enfática da autonomia universitária e advertiu que ela deve ser preservada, independentemente do campo político. “Não podemos tratar reitores eleitos da forma como a Gulnar foi tratada. Eles têm que ser respeitados tanto pela direita, quanto pela esquerda. Gulnar foi eleita para tomar as decisões que tomou. A universidde voltou, e temos que te agradecer por isso”.
Ao terminar o encontro, a professora Ligia Bahia fez um alerta. “Fizemos um processo de inclusão nas universidades públicas e estamos com dificuldades de manter essa inclusão. Não podemos ser derrotados. O que foi uma vitória não pode se transformar numa derrota Esse processo democrático tem que seguir. A inclusão na universidade pública não pode se transformar em um problema. Ela é a solução para o país. A gente vai lutar muito para que essa juventude consiga concluir o ensino superior no Brasil. Isso é a defesa da democracia”.

QUEM ESTAVA LÁ

UFRJ
•Ex-reitor Nelson Maculan
•Ex-reitor Carlos Frederico
•Christine Ruta, diretora do Fórum
•Felipe Rosa,
superintendente da PR-2
•Eleonora Ziller, diretora
da Universidade da Cidadania
•Luiz Bevilacqua,
professor emérito
•Luiz Davidovich,
professor emérito
•Ricardo Madronho,
professor emérito
•Pedro Lagerblad,
professor do IBQM
•Thereza Paiva,
secretária municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Fiocruz
• Claudia Travassos
•José Noronha

Unirio
•José da Costa Filho, reitor

UFF
•Mônica Savedra, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

CBPF
•Marcio Albuquerque, diretor

•Além do deputado federal Reimont (PT-RJ) e do ex-deputado estadual Waldeck Carneiro.

Pianista mais laureado da história do Brasil, o carioca Arthur Moreira Lima, de 84 anos, recebe nesta terça-feira, dia 24, o título de Doutor Honoris Causa da UFRJ. A cerimônia de outorga acontece a partir das 14h no auditório do Parque Tecnológico e poderá ser acompanhada pelo canal oficial da UFRJ no Youtube. A homenagem foi aprovada por unanimidade no Conselho Universitário de 22 de agosto.

O pianista ganhou seu primeiro prêmio aos 9 anos, em 1949, no Concurso Jovens Solistas. Aos 12 anos, venceu o concurso pela segunda vez. Foram apenas os primeiros de incontáveis prêmios nacionais e internacionais, além de ser um importante nome na formação de novos músicos.

A análise orçamentária da Universidade do Estado do Rio de Janeiro comprova o subfinanciamento da UFRJ. O Jornal da AdUFRJ comparou os principais dados das duas instituições e constatou que o orçamento da Uerj em 2024 é maior que o da federal. Isso em números absolutos. Se relativizamos pelo tamanho das duas instituições, o assombro é ainda maior.
A estadual equivale à metade da UFRJ. Lá estudam 32.746 alunos e trabalham 2.497 docentes e 4.978 técnicos-administrativos. São 64 cursos de graduação, 67 de mestrado e 46 de doutorado, além de 182 especializações. Todos os campi somados correspondem a 2,34 milhões de m², o que inclui o Hospital Universitário Pedro Ernesto.
Para manter essa estrutura, a Uerj se desdobra com R$ 333,57 milhões para custeio e R$ 177,12 milhões para assistência estudantil, o que totaliza um orçamento de R$ 510,69 milhões em 2024, sem incluir os recursos de investimento e pessoal.
Pois bem, se o dinheiro da Uerj já é insuficiente para financiar as necessidades da coirmã estadual, imaginem os da UFRJ. Aqui temos 69.200 estudantes, 4.242 professores e 8.802 técnicos-administrativos. A área total dos campi corresponde a 7,15 milhões de m² que precisam de segurança, limpeza, luz, água, internet e manutenção. São 176 cursos de graduação, 132 programas de pós-graduação, além de 200 especializações.
Para manter essa estrutura, incluindo o complexo hospitalar, a UFRJ conta os centavos de um orçamento previsto de custeio e assistência estudantil de R$ 435 milhões. Na realidade, esse valor está ainda menor — em agosto, o governo federal contingenciou R$ 64 milhões

ASSSISTÊNCIA ESTUDANTIL
Planilhar os dados das duas maiores universidades da cidade do Rio é um exercício doloroso quando se trata da assistência estudantil, política pública essencial para manter os estudantes mais carentes dentro da universidade.
O programa de assistência da Uerj é pioneiro no país, criou as cotas e totaliza R$ 177 milhões. Já na UFRJ, a assistência responde por apenas R$ 62 milhões, um dinheiro que não só é insufiente como obriga docentes, técnicos e gestores a ‘escolhas de sofia’ diárias.
“Temos que escolher entre os mais vulneráveis”, lamenta Eduardo Mach, professor e pró-reitor de políticas estudantis. “Hoje temos muito mais alunos que se encaixam no perfil de vulnerabilidade, mas não temos recursos para atender a todos. É horrível, não temos o que fazer”, diz o pró-reitor. “O desafio é que a situação não se agrave para que alunos que têm os benefícios não deixem de receber”, afirmou.
“É realmente impressionante olhar esses números e descobrir o quanto temos um orçamento defasado, sobretudo de assistência. A UFRJ tem o equivalente a um terço do orçamento da Uerj, sendo que possui o dobro de estudantes”, observou o diretor do Instituto de Economia, professor Carlos Frederico Leão Rocha.

COBERTOR CURTO
O resultado prático dessa conta que não fecha se traduz numa infraestrutura degradada, em auxílios insuficientes para a demanda e em dificuldades de financiamento de ações de ensino, pesquisa e extensão.
“Vejo esse problema orçamentário como um cobertor curto”, analisou o professor Thiago Signorini Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo e secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/RJ), durante evento em apoio à Uerj (leia mais na página 5). “No momento, tenho que escolher entre consertar a rede de esgoto do meu instituto ou consertar o teto do prédio que está caindo”.
Veja a seguir os comparativos entre as duas instituições de ensino.

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WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.49.57 5Fotos: Alessandro CostaForam mais de três séculos de espera. Se considerarmos o seu registro de entrada no acervo da família real dinamarquesa, em 1689, foram exatamente 335 anos longe de casa. Mais longa que a distância entre Copenhague e o Rio de Janeiro foi a negociação para que ele deixasse uma vitrine de vidro no Museu Nacional da Dinamarca e voltasse ao Brasil: os primeiros esforços começaram em 2000. Está agora em uma sala da biblioteca do Museu Nacional da UFRJ, mas seu destino ainda é incerto. Na tarde de quinta-feira (12), uma cerimônia na Quinta da Boa Vista, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcou oficialmente o retorno ao Brasil do manto tupinambá que foi levado do país nos tempos coloniais.
“Esse manto traz ao Brasil toda a força dos nossos encantados, dos nossos ancestrais, para termos de volta nossos direitos de vida. Não só para o povo tupinambá, mas para todo o povo originário do Brasil”, disse a cacica Jamopoty, líder da tribo tupinambá de Olivença, na Bahia, de onde é originário o manto de penas vermelhas de ave guará e fibras vegetais, de 1,20 metro de altura por 60 centímetros de largura, confeccionado no século XVII, e considerado sagrado pela etnia. Na tradição tupinambá, a vestimenta é usada em cerimônias de casamento e rituais diversos, e abriga um espírito ancestral.
Em sua fala de boas-vindas, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, destacou as contribuições da universidade. “Desde o pré-sal à repatriação deste maravilhoso manto, a UFRJ teve papel fundamental para o desenvolvimento do país. A ciência voltou, o Brasil voltou, e nós estamos na linha de frente da reconstrução.”WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.24.30 1Foto: Ricardo Stuckert/PR
As negociações finais para a volta da relíquia ao Brasil foram feitas entre os dois museus, com apoio das embaixadas e do Ministério das Relações Exteriores. Mas começaram há 24 anos, mais exatamente nas controversas comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Naquele ano, o manto tupinambá foi trazido da Dinamarca e exposto em uma mostra no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Ali, foi reconhecido pela tupinambá Nivalda de Jesus, conhecida como Amotara, cuja memória foi lembrada na cerimônia pela cacica Jamopoty. Os tupinambás chegaram a pedir à Procuradoria da República para que o manto ficasse no Brasil, mas ele voltou para a Dinamarca — de onde só voltou em julho deste ano.
A repatriação da peça foi cercada de sigilo — e muito criticada pelos tupinambás por isso. Os representantes indígenas queriam ir até Copenhague para acompanhar o retorno do manto, mas não houve recursos para a viagem. O sigilo foi uma exigência do Museu Nacional da Dinamarca, por questões de segurança, e os tupinambás só souberam da chegada da relíquia quando ela já estava no Rio de Janeiro. Os indígenas tiveram duas sessões privadas de recepção e vigília ao manto no início da semana passada, antes da cerimônia oficial de quinta-feira (12).
O Museu Nacional da Dinamarca tem outros quatro mantos tupinambás confeccionados no Brasil entre os séculos XVI e XVII e um deles saiu da reserva técnica e foi colocado na vitrine onde estava o que foi repatriado. Há outros seis mantos em museus da Itália, Bélgica, Suíça e França. O governo brasileiro tem se empenhado na repatriação de objetos levados daqui pelos colonizadores europeus. Só este ano, 585 artefatos indígenas foram recuperados. Eles estavam no Museu de História Natural de Lille, na França, e são oriundos de mais de 40 povos originários brasileiros.
WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.24.30Fotos: Alessandro CostaO Museu Nacional espera que o manto seja uma das principais atrações de seu acervo, a ser aberto ao público assim que forem concluídas as obras de reconstrução do Palácio de São Cristóvão, consumido por um incêndio em 2018. Os tupinambás, contudo, querem que a peça volte à Bahia. Contam, para isso, com um apoio de peso: o do presidente Lula. Em seu discurso na Quinta da Boa Vista, ele encomendou ao governador petista da Bahia, Jerônimo Rodrigues, presente à cerimônia, a construção de um museu para abrigar a relíquia.
“É um privilégio extraordinário participar como presidente da República deste momento tão especial, não só para os povos indígenas, mas para todos nós. Ao longo de nossa história, diversos itens indígenas atravessaram fronteiras e foram parar em museus europeus e de outros cantos do mundo. O retorno do manto sagrado tupinambá é o marco de uma nova história de conquistas dos povos indígenas. Ele está agora no Museu Nacional, mas eu espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Quero pedir a compreensão do governador da Bahia, que me disse que é tupinambá também. Ele tem a obrigação e o compromisso histórico de construir na Bahia um lugar que possa receber e preservar esse manto. Para nós ele é uma obra artística de rara beleza, mas para os tupinambás é uma entidade”, defendeu o presidente, ovacionado pelos tupinambás que lotavam a plateia com seus maracás.
O diretor do Museu Nacional, professor Alexander Kellner, não compareceu à cerimônia, pois estava em viagem ao exterior. O Jornal da AdUFRJ pediu a ele um posicionamento sobre a guarda da relíquia e sobre a reivindicação dos indígenas para que ela seja levada para a Bahia, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Instado por cobranças de lideranças indígenas, Lula também falou que seu governo tem como prioridade a demarcação de terras indígenas. Os tupinambás reivindicam a demarcação de territórios no sul da Bahia. As áreas estão delimitadas desde 2009 e ainda aguardam a demarcação. “O povo tupinambá, da mesma forma que as demais etnias indígenas, tem direito ao seu território. É uma luta justa, legítima”, disse o presidente, que prometeu se reunir esta semana com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para tratar da demarcação dessas áreas. Com 47 mil hectares, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença abriga 23 aldeias, com 8 mil habitantes, entre os municípios de Ilhéus, Uma e Buerarema.

CACICA JAMOPOTY LEMBRA LONGA LUTA E PEDE DEMARCAÇÃO

“O manto foi reconhecido por Amotara em 2000 em uma mostra dos 500 anos. Daquele dia para cá, nós lutamos para que o manto sagrado ficasse no Brasil. Mas ele voltou para a Dinamarca depois da exposição. Estou aqui representando Amotara, uma mulher forte, decidida, dedicada à família tupinambá”
“Eu sou a primeira mulher cacica do povo tupinambá de Olivença, sou a segunda do Brasil, e venho travando uma luta pela demarcação de nosso território. Esse manto traz ao Brasil toda a força dos nossos encantados, dos nossos ancestrais, para termos de volta nossos direitos de vida. Não só para o povo tupinambá, mas para todo o povo originário do Brasil. Há outros mantos como esse lá fora, mas esse é o manto sagrado de Amotara”.
“Senhor presidente, demarque as terras indígenas, dê um sossego ao povo indígena. Eu falo pela voz do meu ancestral. Estamos aqui no Rio de Janeiro desde 7 de setembro para fazer nossa vigília, para dizer ao manto: “Nós estamos aqui”. Ele voltou para que o Brasil seja um novo Brasil com sua história verdadeira, a história dos povos originários. Hoje eu estou feliz”.

PARLAMENTARES E LIDERANÇAS APOIAM INICIATIVA DO SINDICATO

A diretoria da AdUFRJ entregou um documento às autoridades presentes à cerimônia do manto tupinambá sobre a grave situação orçamentária da UFRJ. O texto ressalta a importância social, cultural e científica da universidade, mostra a contribuição dos pesquisadores para o desenvolvimento tecnológico do país e pede socorro para garantir a continuidade das aulas. “Estamos com mais de R$ 50 milhões contingenciados. Até recursos empenhados foram bloqueados “, explicou a presidenta da AdUFRJ, Mayra Goulart, para a deputada estadual Elika Takimoto (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj. “Estou junto com vocês, vamos tentar marcar audiências e reverter essa situação”, prometeu a parlamentar.
Mesma solidariedade foi declarada pela deputada estadual Marina do MST (PT). “Podem contar comigo”, garantiu. “Precisamos muito do apoio dos parlamentares. Nossa situação é muito grave, estamos sem recursos até para pagar as contas de luz e água. Os prédios estão péssimos”, contou a vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo, docente universitária desde a década de 1970. “Nunca vi um quadro tão grave no campus. O mais triste é que a universidade muda a vida das pessoas, muda o destino. A falta de infraestrutura interrompe o cotidiano acadêmico e afasta os alunos”.
Um dos apoios mais emocionantes recebidos pela AdUFRJ durante a cerimônia do manto tupinamba foi da deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). Professora ativista indígena do povo Xakriabá em Minas Gerais, Célia encantou as diretoras da AdUFRJ. “Foi uma honra para nós o encontro com a deputada Célia nesse contexto aqui. Ela é uma referência na educação indígena e sabe das agruras de ser professora no Brasil”, ponderou a presidente da AdUFRJ, Mayra Goulart.
Uma das lideranças indígenas presentes também se solidarizou com a carta da AdUFRJ. Mari Tupinambá lidera o movimento de mulheres da aldeia de Olivença, na Bahia, pela construção de escolas indígenas. “Eu sei o que é ficar sem escola. A dos nossos curumins é de barro e está caindo”, contou Mari.
A integra da carta da AdUFRJ abaixo.

CARTA DA ADUFRJ AO PRESIDENTE LULA

Caro presidente Lula,

Bem-vindo. Somos professoras e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integramos a diretoria do sindicato docente e estamos profundamente emocionados com sua visita.
A presença de V. Exa. reacende o entusiasmo que nos mobilizou, em 2022, quando, de braços dados com o senhor, as universidades lutaram bravamente para livrar o Brasil de quatro anos de obscurantismo. Assim, com imensa alegria e alguma esperança, lhe entregamos esta carta. Alegria porque lutamos pela sua eleição e pela reconstrução de um Brasil justo, democrático e próspero. Esperança porque recebê-lo, é uma oportunidade de mostrar a importância da UFRJ para o país.
Somos mais de 65 mil estudantes, 4 mil professores e 8 mil técnico-administrativos em Educação. Atuamos em 175 cursos de graduação, 132 programas de pós-graduação stricto sensu e 1.779 ações de extensão. Temos mais de 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas, um Parque Tecnológico com 350 mil metros quadrados, com startups e empresas de protagonismo nacional e internacional, nove hospitais universitários e oito museus.
A universidade formou uma sucessão de ex-alunos notáveis, como o indicado ao Prêmio Nobel da Paz Osvaldo Aranha; os escritores Jorge Amado, Vinícius de Moraes e Clarice Lispector; o arquiteto Oscar Niemeyer; os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; o historiador Sérgio Buarque de Holanda; e o matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, prêmio oferecido a matemáticos com até 40 anos e considerado equivalente ao Prêmio Nobel.
Aqui respeitamos nossa História, construímos e pensamos o futuro. Há duas semanas, organizamos o Festival do Conhecimento com o tema da Inteligência Artificial. No final do primeiro semestre, celebramos vitórias notáveis em pesquisas sobre o Alzheimer. O maior centro de pesquisa em engenharia da América Latina, a Coppe da UFRJ, descobriu o pré-sal e continua sendo a principal referência na área de óleo, gás e energias alternativas.
Na pandemia de Covid, nos desdobramos para ampliar a vacinação, realizar mais de 100.000 testes moleculares no Rio de Janeiro e em Macaé, difundir as medidas de combate ao vírus, pesquisar vacinas e combater ações anti civilizatórias defendidas pelas autoridades da época. Como fruto desse esforço, criamos o Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier). A unidade é responsável por estudar e dar respostas rápidas às epidemias e pandemias que afligem o mundo contemporâneo.
Hoje, graças à política de cotas, os alunos pretos e periféricos ocupam 50% das vagas na Graduação. São diversos, são muitos e têm pressa. De se formar, de trabalhar, de mudar de vida. Deixá-los sem aulas na universidade pública é deixá-los sem futuro. É também abrir a guarda para o retorno do negacionismo e do ódio ao conhecimento. Não queremos isso. De maneira alguma. Mas, para garantir que esta Universidade permaneça aberta, precisamos do apoio do governo brasileiro.

A UFRJ pede socorro.

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