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Lucas Abreu
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Nas ruas, mas sem aglomerações. Assim foram as celebrações do 8 de março da AdUFRJ, que preparou projeções com homenagens às mulheres da Ciência e exibiu em pontos do Rio e de outras cidades do Brasil ao longo da semana passada. As projeções exaltavam o papel da mulher na academia e reivindicavam mais inclusão no meio científico. A ação foi fruto de uma parceria entre a AdUFRJ e o Observatório do Conhecimento e contou com o apoio de outras associações docentes e sindicatos de todo o país.

“As projeções, quando filmadas, produzem imagens de alto impacto”, observou a professora Christine Ruta, do Instituto de Biologia, diretora da AdUFRJ e idealizadoraWhatsApp Image 2021 03 12 at 19.31.021 da manifestação. “É como se a AdUFRJ estivesse ocupando momentaneamente aquele espaço. Em ocasiões usuais ocuparíamos a rua. Mas, por enquanto, estamos ocupando alguns prédios”, justificou a professora, lembrando o momento que vive o mundo. “Em tempos sem pandemia, muitas ações podem ser pensadas, mas atualmente temos que ter criatividade para explorar ações sem aglomerações”, pontuou.

Christine Ruta ressaltou a importância de homenagear as mulheres cientistas. “Historicamente, a Ciência tem sido um lugar masculino, com raras exceções. Hoje estamos em um processo de reverter esse cenário, e é importante mostrar que a mulher tem ocupado cada vez mais espaços em todos os ramos da Ciência”, defendeu. “Estamos trabalhando para que Marie Curie, Hipácia, Bertha Lutz e outras não sejam mais exceções”.

As projeções ocuparam os paredões externos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão, a Escola de Música, na Lapa, e o Campus Macaé da UFRJ. Ganharam também as ruas de São Paulo, Campinas, Salvador e Recife, graças ao trabalho dos sindicatos locais (respectivamente ADUFABC, ADUNICAMP, APUB e ADUFEPE). As projeções foram filmadas, e o resultado do trabalho é um vídeo de quatro minutos com as imagens embaladas pela música “Dentro de cada um”, interpretada por Elza Soares. Você pode assistir ao vídeo em youtube.com/adufrj.

WhatsApp Image 2021 03 12 at 19.31.032A estimativa dos organizadores da iniciativa é de que o vídeo com as projeções tenha sido visto por mais de 40 mil pessoas nas redes sociais, com mais de 2.800 comentários, um resultado considerado excelente pelo grupo. Mas Christine Ruta ainda chama atenção para outro impacto importante da ação. “Em termos de política sindical, esta campanha também foi extremamente positiva, uma vez que articulou diversas ADs do Brasil, que representam uma grande diversidade de posições no movimento dos professores”, defendeu a professora.

WhatsApp Image 2020 10 24 at 00.57.18Josué Medeiros
Professor de Ciência Política do IFCS e diretor da AdUFRJ

O título desse artigo poderia ser usado em 1978, quando, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Lula – então presidente da entidade – recebeu um telefonema informando a eclosão de uma greve na Scania e correu para apoiar e dar suporte. Iniciava-se o movimento grevista que se tornou nacional e ajudou a pôr fim à ditadura militar instalada em 1964. Mudou tudo na política brasileira.  

Poderia também ser usado em 1980, quando o mesmo Lula resolveu sair dos limites sindicais e fundar um partido político dos trabalhadores. O PT se tornou o primeiro e único partido de massas nacional do nosso sistema político. Organizou as energias de uma diversidade de movimentos sociais diferentes. Conquistou prefeituras, governos estaduais, presidência. Criou e implementou políticas públicas inovadoras. Mudou tudo na política brasileira.

O título serviria ainda para o fatídico dia 7 de abril de 2018, quando o criminoso juiz Sérgio Moro expediu o mandado para prender Lula no bojo da farsa jurídica da Lava Jato. O ex-presidente foi para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo não para se esconder, mas para fazer um grande ato político de defesa da democracia. Apesar dos pedidos de correligionários para resistir, Lula se entregou e, desde então, lutou para provar sua inocência. Bolsonaro só foi eleito pela ausência de Lula. Mais uma vez, mudou tudo na política brasileira.

Apesar das muitas possibilidades históricas de uso desse título, nossa escolha foi usá-lo para a nova conjuntura de Lula Livre e com os direitos políticos plenamente restituídos. O motivo é simples: é um erro achar que isso ocorreu de dentro dos gabinetes do STF, graças a uma “decisão” do ministro Edson Fachin no dia 8 de março de 2021.

Isso foi resultado de uma luta molecular que foi travada sem parar desde 2016, pelo menos. A começar pelo próprio Lula, que se recusou a desistir. Com o tempo, essa luta conseguiu ir além da esquerda, o que é fundamental para qualquer pauta ser vitoriosa. Setores das classes médias, da mídia, das elites políticas, jurídicas e intelectuais perceberam que a operação Lava Jato mostrou a antessala do autoritarismo no Brasil. Não por acaso, um dos seus principais resultados foi a eleição de Jair Bolsonaro.

Assim, o ato decisivo da nova conjuntura não foi a decisão de Fachin, mas sim o modo como Lula deu consequência a ela. De novo, da sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no dia 10 de março. Em um discurso histórico, o maior líder político do país mostrou o tamanho da sua força. E ao fazer isso, refletiu o tamanho da pequenez do atual presidente. Uma vez mais, tudo mudou na política brasileira.

Uma nova chance para a democracia
O quadro político até fevereiro era extremamente favorável a Bolsonaro. Sua vitória nas eleições para a mesa diretora da Câmara garantiu estabilidade e proteção institucional, complementando um escudo que ele já tinha no Judiciário (vide decisão do STJ que anulou as investigações contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro). Tudo isso foi operado com a ajuda dos militares, o que reforça sua posição institucional.

Na sociedade, apesar da tragédia econômica e da pandemia, o quadro se mostrava previsível. Sem ruas para questioná-lo, Bolsonaro controlava a agenda. A vacinação mais cedo ou mais tarde deslancharia e sobre esse tema ele repetia o padrão de outras polêmicas: ora diz que é contra, ora diz que é favor, e com isso mantém o controle da situação. Na economia, apesar da inflação dos alimentos, aluguel e combustíveis, um novo auxílio emergencial garantia um alívio para os mais pobres e, de tabela, na sua popularidade. Por fim, na pauta dos direitos, Bolsonaro preparava um novo avanço do armamento e da defesa de uma concepção de família que ataca a diversidade.

Ele não enfrentava resistência das ruas. Não enfrentava resistência do sistema político. À direita, DEM e PSDB em crise. À esquerda, as disputas entre Ciro e PT falavam mais alto do que a unidade para lutar contra o governo. Novas lideranças com disposição de mudar isso (Boulos, Manuela, Dino) não têm forças para fazer isso sem os dois principais atores.

E as águas de março trouxeram dois grandes eventos que alteraram a luta política e acabaram com a posição confortável de Bolsonaro. O primeiro foi o tsunami da pandemia. Conforme alertaram cientistas do Brasil inteiro, de todas as universidades e institutos de pesquisa, nossa tragédia sanitária se consolidou. Estamos há 50 dias com média móvel acima de mil óbitos. Somos hoje o país em que mais se morre por covid-19. Os sistemas de saúde estaduais colapsaram de norte a sul. Por dois dias seguidos tivemos mais de dois mil mortos pelo coronavírus.

O segundo foi Lula Livre para disputar as eleições. Seu tamanho e sua capacidade política projetam uma esquerda unificada desde já em torno dele. E, conforme ele mesmo indicou, rodando o Brasil saindo da paralisia. Seu histórico pronunciamento no Sindicato dos Metalúrgicos indica ainda uma disposição para ampliar as conversas com setores da direita democrática. Sem isso, será impossível tirar Bolsonaro e refazer nossos pactos democráticos.

Se vai dar certo, não sabemos. As elites ainda se mostram tolerantes demais com a tragédia Bolsonaro. Sua demofobia estrutural insiste em manter Lula e os setores populares fora da mesa. Mas, até fevereiro de 2021, o jogo estava encerrado. Março reabriu a luta política. É um caminho árduo, mas agora temos a oportunidade de caminhar.

E nós nisso tudo?
De nossa parte, como um sindicato de base e como cidadãs e cidadãos, o que podemos fazer para ajudar é aprofundar nossa capacidade de dialogar e mobilizar. Precisamos fazer mais conversas com os amplos setores da sociedade que não aguentam mais Bolsonaro. Tal como fizemos na AdUFRJ e no Observatório do Conhecimento – especialmente a APUB, da UFBA, que protagonizou o ciclo de debates Pensando a Universidade. Especialmente a mesa “Economistas Pensam a Universidade”, com a presença da economista e nossa colega da UFRJ Esther Dweck, em companhia de Laura Carvalho, Monica de Bolle, André Lara Resende e Armínio Fraga. Com esse debate, conseguimos furar a bolha e consolidar ainda mais a ideia de que a universidade e a pesquisa precisam de mais verbas. Dinheiro para Educação e Ciência não é gasto, é investimento!

Além do diálogo, a mobilização. Participamos ativamente das carreatas contra Bolsonaro organizadas pela Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular. Apesar dos limites desse tipo de ato, a receptividade das pessoas tem sido animadora e indica um ambiente propício para mobilizações de rua assim que a pandemia permitir. E temos também a campanha Educação tem Valor, do Observatório do Conhecimento, pela qual podemos pressionar virtualmente os parlamentares pela recomposição do nosso orçamento. Não deixe de acessar a plataforma http://pressione.observatoriodoconhecimento.org.br/ . A mobilização virtual tem dado resultados em várias frentes e com mobilização vamos reverter os cortes no orçamento das universidades!

Silvana Sá
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O Brasil perdeu 1.910 vidas na quarta-feira (3). Significa 1,3  morte a cada minuto e traduz um país acuado diante de uma escalada sombria. Dos dez maiores totais deWhatsApp Image 2021 03 05 at 09.42.03 mortes registradas em 24 horas desde o começo da pandemia, sete aconteceram nos primeiros meses de 2021. Três desses recordes ocorreram nos últimos dez dias e obrigaram a Fiocruz a lançar um boletim extraordinário sobre a evolução da doença.

Na noite de terça-feira, 2, a Fiocruz lançou um documento sobre a evolução da doença. Os pesquisadores afirmam no boletim que “os dados apresentados, embora alarmantes, constituem apenas a ponta do iceberg de um patamar de intensa transmissão no país”.

O documento da Fiocruz foi fundamental para que a Prefeitura do Rio publicasse no dia 4 um decreto aumentando as restrições para conter o avanço da pandemia na cidade. O decreto permanece em vigor do dia 5 ao dia 11 de março, quando haverá nova avaliação da situação na cidade. As escolas públicas e privadas permanecem abertas.

A norma proíbe:

# O funcionamento de bares e restaurantes das 17h às 6h
# A permanência na rua das 23h às 5h – a circulação ainda está autorizada
# A realização de festas e eventos em espaços abertos e fechados
# A realização de feiras
# O comércio nas praias e orla.

Mas epidemiologistas avaliam que as medidas ainda não são suficientes. O próprio boletim da Fiocruz recomenda medidas mais duras, como restrição de todas as atividades não essenciais, além de ampla testagem da população, rastreamento e isolamento de casos, aceleração da vacinação, abertura de novos leitos, reconhecimento legal do estado de emergência sanitária e aprovação de um plano de recuperação econômica com retorno imediato do auxílio emergencial para os mais pobres.

Segundo a análise da Fiocruz, a pandemia no Brasil acontece de maneira simultânea em todo o território, com tendência de crescimento e com iminente colapso dos sistemas de saúde em várias cidades. Três variantes circulam simultaneamente no país: a do Amazonas, do Reino Unido e da África do Sul. A do Amazonas deu origem a uma nova linhagem do vírus, a P2, encontrada no Rio de Janeiro. Das 27 capitais do país, 19 estão com taxas de ocupação de leitos de UTI-covid acima dos 80%. As mais críticas são Porto Velho (100%), Florianópolis (98%), Curitiba e Goiânia (95%), Natal (94%), Rio Branco e Campo Grande (93%). O Rio está com 88% de ocupação dos leitos.
 
BRASILEIROS BARRADOS
O caos nas políticas de saúde no país teve repercussões internacionais. Nos aeroportos, brasileiros e até estrangeiros que não tenham como destino seu país de nascimento começam a ser barrados. Tudo porque temos o pior cenário de covid em todo o globo e somos celeiro de outras prováveis novas cepas. Nas agências de viagem e companhias aéreas, não é difícil ouvir que o Brasil está sendo visto internacionalmente como “risco à humanidade”. Na última semana, a jornalista Tatiana Lima presenciou seu amigo alemão ter seu bilhete de embarque cancelado horas antes do voo. A atendente explicou: “Nunca vi uma situação como esta, mas o Brasil está com bandeira preta em relação aos outros países, principalmente europeus”. O amigo só conseguiu reaver seu passe quando, horas depois, comprovou residência na Holanda. “Ali eu percebi que estamos num caminho sem retorno rumo ao caos”, afirmou a jornalista.

 SEM CONFIANÇA NOS DADOS
WhatsApp Image 2021 03 05 at 09.42.031Aparentemente com uma situação um pouco mais “confortável”, figurando em cenários de média móvel de casos e de óbitos em estabilidade, o Rio de Janeiro é uma incógnita. “Não temos confiança nos dados mais recentes. A baixíssima qualidade dos dados nos impede de conhecer o cenário real”, afirmou o professor Guilherme Travassos, vice-coordenador do GT Pós-Pandemia da UFRJ e um dos idealizadores do Covidímetro, ferramenta utilizada para verificar a taxa de transmissão no estado e no município. “Nossa expectativa é de que nas próximas duas semanas a gente atinja 750 mil casos. Hoje, temos 561 mil (no estado)”.

 Outro ponto que merece atenção é a taxa de letalidade do município e do estado do Rio: 8,72% e 4,9%, respectivamente. O que pode indicar possível subnotificação de casos, além de sinalizar para o suporte clínico deficitário nos casos mais graves. Mas esta não é uma exclusividade fluminense. “Há um cenário de subnotificações excessivas. Quando o Brasil aponta que temos 10 milhões de casos, nossas estimativas dão conta que teríamos mais de 22 milhões de casos”, afirmou o professor Domingos Alves, da USP, durante debate promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura na última segunda-feira (veja mais abaixo).

 Até o próximo dia 10, a previsão é que o país ultrapasse os 11 milhões de casos. “Em relação às mortes, nossa estimativa é de que o número de óbitos total anunciado é cerca de 60% do total real”, lamenta o pesquisador. E os problemas não param por aí. Segundo Domingos Alves, a defasagem em relação ao número de óbitos chega a 20 dias. É como se, olhando os números, tivéssemos mirando o retrovisor de um carro em movimento. E em alta velocidade. “Atingiremos 300 mil óbitos até 6 de abril, com média móvel de 1.500 mortes diárias até 14 de abril. E o cenário pode piorar por conta das mortes por falta de atendimento”.

Os estudiosos são uníssonos em dizer que a origem do caos sanitário, social e econômico do Brasil está no negacionismo do governo federal em relação à pandemia. “O Brasil nunca seguiu as orientações da Organização Mundial da Saúde para a flexibilização social”, afirmou Domingos Alves. Os indicadores são: declínio do número de mortes por pelo menos três semanas e queda de pelo menos 50% da incidência em um período de três semanas após o pico da pandemia; estrutura hospitalar para suportar a demanda; testagem em massa e em segmentos específicos; rastreamento de infectados. “É urgente que os estados comecem a fazer um lockdown efetivo de 15 a 21 dias para conter o desastre sanitário.

 

“Tragédia anunciada”

“Esse cenário que nós vivemos no Brasil é uma tragédia anunciada por toda a comunidade científica”. A fala acertiva é do pesquisador Domingos Alves, da USP, que participou de debate “Como Está a Pandemia Hoje”, organizado pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, na segunda, 1º de março. Domingos integra a equipe de especialistas do Portal Covid-19 BR, ferramenta desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) para acompanhamento e predição da pandemia no país. Há um ano, apenas quatro capitais eram responsáveis pelos casos de covid-19 no Brasil. Hoje, a pandemia se alastrou por todas as cidades. As festas clandestinas de final de ano e de carnaval contribuíram para tornar o quadro de alta transmissão predominante de norte a sul do país.

Para além das aglomerações em datas comemorativas, o isolamento social caiu a índices praticados antes do início da pandemia. Em todo o país, a taxa de isolamento média é de 31%, mesmo patamar de janeiro do ano passado. No Rio, o índice chega a 45%. Para o especialista, é preciso somar esforços com um lockdown efetivo e com aumento da cobertura vacinal. “O Brasil precisa aumentar em dez vezes a velocidade da vacinação para imunizar a população até o final do ano”, alerta Domingos Alves. “Aumento do número de leitos, isolar grupos de risco, isto é política de enxugar gelo, não está baseado na ciência”.

O professor Claudio José Struchiner, da UERJ, concorda. “As evidências científicas são muito claras. Ficamos com o pior dos mundos: nós temos a mortalidade, temos os problemas sociais, temos os problemas econômicos e nada é resolvido. A alternativa escolhida pela sociedade brasileira é a pior possível, é aquela em que temos todos os prejuízos sem nenhum bônus dessas escolhas”.

O epidemiologista analisou o impacto de uma vacinação lenta. “Se não conseguirmos atingir uma proporção muito grande (da população), a presença de portadores assintomáticos teria um efeito muito nocivo, com o qual devemos nos preocupar muito”.

Vice-coordenador GT-Coronavírus e integrante do GT Pós-Pandemia da UFRJ, o professor Guilherme Travassos, da Coppe, criticou a completa inércia da União, de estados e municípios no controle da pandemia. “Entidades sérias, éticas e responsáveis têm protagonizado ações de combate a esta pandemia. É surpreendente como isso tem sido constantemente desprezado por aqueles que têm a responsabilidade de tomar atitudes e ações”, pontuou. “Eu tenho a impressão de que estou dando murro em ponta de faca. Estou exausto”, desabafou. “Estamos envolvidos nessa guerra desde fevereiro do ano passado. Antes, a guerra era contra o vírus. Hoje, não sei se nosso grande inimigo é apenas o vírus. Virou uma guerra insana, injusta. A sociedade precisa acreditar na ciência e parar de acreditar em mitos”.
 Expansão de leitos não é política de contenção da covid-19”.

Kim Queiroz
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Democratizar o acesso ao conhecimento em serviço da saúde. Com essa premissa nasceu o CovidScan, uma plataforma online desenvolvida por uma empresa spin-off da Coppe/UFRJ, com o objetivo de facilitar o diagnóstico da covid-19. Devido à ausência de profissionais especializados, muitas unidades hospitalares afastadas dos grandes centros urbanos têm dificuldade de avaliar tomografias pulmonares. “Essa identificação de doenças a partir do diagnóstico de imagens não é algo simples de se fazer. Existe uma infinidade de padrões de imagens, e precisa haver um especialista para dizer qual o tipo de patologia no pulmão do paciente”, explica Josias Silva, diretor executivo da Petrec, empresa responsável pelo projeto.

O mecanismo favorece a realização desse prognóstico médico. O hospital precisa apenas de conexão com a internet para fazer o upload da tomografia ou raio-x do paciente na plataforma. O algoritmo, então, encontra imagens com características semelhantes às do pulmão em análise. Após alguns minutos, o sistema disponibiliza informações que permitem indicar qual a enfermidade, se essa está aumentando ou diminuindo, e qual o seu percentual de impacto. “Essa plataforma tem o potencial de otimizar e acelerar o laudo radiológico e, acima de tudo, ser um dispositivo mais quantitativo do grau de extensão e de severidade da doença, ajudando o radiologista a emitir o seu laudo com informações mais apuradas”, destaca o doutor Alysson Carvalho, consultor médico da Petrec.

O banco de dados iniciará com mais de 600 imagens segmentadas, já disponíveis em sites específicos e previamente classificadas pelo tipo de patologia. “A inteligênciaWhatsApp Image 2021 03 05 at 09.37.571 artificial precisa ser treinada. Existem infinitas possibilidades, então é preciso ter muitas imagens para que esse algoritmo aprenda constantemente”, aponta Josias. O algoritmo se baseia na técnica de aprendizado de máquina (machine learning), um método em que sistemas aprendem com os dados a identificar padrões e tomar decisões, com o mínimo de intervenção humana. “Quanto mais imagens, melhor será o algoritmo. Por isso nós estamos desenvolvendo parcerias com hospitais do país, para usarmos também o banco de dados deles. Aí teremos o acréscimo de mais de cinco mil tomografias já anotadas”, comenta.

É a primeira vez que a Petrec trabalha no campo da saúde. A empresa atua no setor de óleo e gás, e usa a inteligência artificial para analisar tomografias de rochas de petróleo. “Com o resultado dessas tomografias, a gente utiliza algoritmos computacionais para extrair dali propriedades, como permeabilidade, porosidade e outras”, descreve Josias, que é doutor em Geofísica pela Coppe.

O novo projeto conta com a colaboração do professor Alexandre Evsukoff, do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce) da Coppe, onde Josias já coordenou alguns projetos. O professor ressalta que, apesar da complexidade da tecnologia, a ferramenta é de fácil acesso. “O ajuste de um modelo de reconhecimento de padrões em imagens é um processo que exige horas em plataformas de processamento de alto desempenho. Já a execução do modelo é rápida e, uma vez ajustado, pode ser utilizada em um computador comum ou estação de trabalho”, afirma Alexandre.

Para atender o contexto da pandemia, o CovidScan será disponibilizado gratuitamente para hospitais públicos carentes de especialistas. “A gente tem um papel social. Estamos sendo financiados pelo governo, pela Finep, e a gente quer ajudar no combate à covid-19”, lembra Josias. Segundo ele, o uso da plataforma por parte dessas unidades hospitalares será vantajoso. “Nós esperamos ter feedbacks constantes desses usuários, o que vai retroalimentar o sistema, treinar o algoritmo e consolidar a ferramenta”. O planejamento da empresa é que esse seja apenas um módulo de uma plataforma maior, que deverá se chamar “HealthScan”. “A gente pretende desenvolver módulos ligados a outras patologias dentro do pulmão e em outros órgãos, e esses sim nós iremos comercializar para hospitais privados”, completa.

INVESTIMENTO ESTATAL
Em meio a um cenário de cortes bruscos no orçamento ligado à ciência, o CovidScan materializa a importância dos órgãos de financiamento à pesquisa. Selecionado em primeiro lugar no edital “Soluções inovadoras para o combate à covid-19”, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o projeto foi contemplado com o valor de R$ 1.249.500,00. “A Petrec já teve o financiamento da Finep em outras ocasiões, então a gente é muito atento a esse tipo de chamada”, conta Josias. O edital faz parte da seleção pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC), com recursos de subvenção econômica à inovação, concedidos por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

O QUE É UMA EMPRESA SPIN-OFF?
A Incubadora de Empresas da Coppe tem o objetivo de estimular a criação de novos negócios baseados em tecnologias inovadoras, que apresentem interação com as atividades de pesquisa da UFRJ. Criada em 2003, a Petrec ingressou na Incubadora em 2013, se graduou em 2019, e hoje é uma empresa instalada no Parque Tecnológico da UFRJ. “No tocante a todo o nosso histórico de evolução técnica e de melhora dos nossos resultados, a Coppe participa ativamente desde que nascemos. Nós temos vários projetos de pesquisas com o Instituto, além de parcerias em aquisição de equipamentos de campo”, diz Josias.

Eleonora Ziller
Presidente da AdUFRJ

 

Neste 8 de março não estaremos nas ruas, como no ano passado, sacudindo nossa bandeira a muitas mãos. Ao contrário, estaremos espremidas em carreatas, gritando das janelas, batendo panelas, cansando os dedos em tuitaços ou apenas nos debruçando sobre a dor de tantas perdas. E talvez tenhamos menos esperança batendo em nosso peito. Mas esses dias sombrios acabam exigindo de nós a fabricação de mais esperança ainda. Nós estamos em todas as frentes. E na luta diária em defesa da vida, nas áreas da Saúde e da Educação, somos a grande maioria. E por isso, somos nós que poderemos gritar mais alto e mais forte “FORA BOLSONARO!”.


Por isso, para o dia 8 de março, com a coordenação da professora e diretora da AdUFRJ Christine Ruta, jogamos nossas cores e nossos sonhos em muros da cidade, em defesa da vida, da Ciência e da Educação. Numa campanha ancorada no Observatório do Conhecimento, ganhamos mais uma vez as ruas, ainda que num jogo de luzes e sombras, em várias cidades do país. Estamos vivas, cada vez mais vivas, e seguiremos em defesa de um mundo mais diverso, e por isso mesmo, mais igualitário.

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