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WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25 9Foto: Alessandro CostaEm 13 de maio de 1976, um jovem argentino chegou ao bloco G do Centro de Ciências da Saúde com apenas 57 dólares no bolso. Fugia da ditadura recém-implantada no país natal e buscava emprego no Instituto de Biofísica (IBCCF). Conseguiu. Quarenta e oito anos depois, dirigentes, colegas e ex-alunos se reuniram para reverenciar a vida e a obra do hoje professor emérito Adalberto Ramon Vieyra, em um lotado auditório do mesmo bloco.
A solenidade, realizada na quarta-feira (26), comemorou os 80 anos do homenageado, completados três dias antes. “Inegavelmente, um exemplo para todos nós. Quem conhece o professor sabe da sua dedicação, da sua competência, do seu compromisso”, afirmou o reitor Roberto Medronho. O dirigente contou que Adalberto comparecia à universidade mesmo durante os tempos mais agudos da pandemia de coronavírus. “Embora estivéssemos em isolamento social, o professor vinha aqui diariamente, saindo às nove ou dez horas da noite”.
Estar a serviço da Ciência todos os dias é uma característica da trajetória do mestre. Com uma extensa e ainda ativa produção acadêmica — a última atualização do currículo Lattes aconteceu no dia 11 de junho —, Adalberto formou gerações de pesquisadores.
Entre eles, o atual presidente da Faperj, professor Jerson Lima. “Há 45 anos, conheci o professor Adalberto, como aluno. Nunca faltei a uma aula dele. Entendi logo que esse era um mestre a seguir”, disse. Jerson também chamou atenção para o poder de convencimento do homenageado, que o levou para a agência de fomento à pesquisa no estado. “É como um anjo que vai, silenciosamente, influenciando. Ir para a Faperj abriu minha visão para outros saberes. Nada disso teria acontecido se não fosse o Adalberto”, completou.
A professora Tatiana Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas, foi a primeira aluna a defender o doutorado sob orientação de Adalberto. “Eu lembro que, no meu primeiro dia no laboratório, com 18 anos, já tinha o protocolo pronto na bancada, com a letra lindíssima que ele tem. E que ficou ao meu lado para me explicar como as coisas seriam feitas”, disse.
Durante a solenidade, não foram poucas as brincadeiras dos ex-discípulos sobre o lado exigente do professor. Havia cobrança, mas muito carinho também. “Sempre foi uma pessoa muito acolhedora, mas o fundamental era que dava muita segurança para a gente: dizia que você pode arriscar, que você pode fazer mais do que você pensa que é capaz e que vai dar certo. Mas vai precisar trabalhar duro pra isso”, contou Tatiana.
Tinha tanta confiança nos estudantes a ponto de passar cheque em branco para eles. Literalmente. Ex-aluno do curso de Ciências Biológicas (modalidade médica) e diretor da AdUFRJ, o professor Rodrigo Nunes da Fonseca contou uma passagem do período em que Adalberto dirigiu o Instituto de Ciências Biomédicas (1998 a 2007). “Foi quando criamos a Semana de Biomedicina. O professor Adalberto nos proporcionou isso”, afirmou Rodrigo, hoje atuando no NUPEM-Macaé. Mas para um destes eventos, que teria um convidado importante da USP, estava faltando um datashow. “Ele nos deu um cheque em branco. Disse que, se a gente não conseguisse emprestado, era para alugar”.
Enquanto os colegas celebravam a oportunidade de desfrutar a orientação do mestre por alguns anos, a professora Claudia Dick, da Biofísica, ganhou o privilégio desta influência desde a infância. Adalberto era amigo de seu pai e se tornou seu padrinho. “Essa convivência foi essencial. Aquela menina pobre foi bastante estimulada para estudar. Recebia muitos livros. Antes de qualquer passeio para cinema ou museu, a gente tinha que passar primeiro no laboratório, todo sábado”, disse. “O amor do professor Adalberto pela Ciência e, principalmente, pela universidade foi contagiante para mim”.

CAPES
Um amor que não cabe apenas na UFRJ. O mestre coordenou a área de Ciências Biológicas II junto à Capes de 2005 a 2011 e de 2014 a 2018. “De forma sintética, posso afirmar que suas contribuições fizeram das Ciências Biológicas II uma das áreas mais pujantes da Capes. Uma área aberta ao novo”, elogiou a professora Débora Foguel, titular do Instituto de Bioquímica Médica.
Foguel citou a criação de dois programas multicêntricos que existem no sistema nacional de pós-graduação. “Talvez uma das melhores, quiçá a melhor forma, de se construir programas de pós-graduação em rede e solidários que se tem conhecimento”. A professora também destacou a valorização de iniciativas dos programas de pós junto à educação básica e a extrema preocupação do mestre com a integridade e ética na pesquisa.

DESPRENDIMENTO
Além de resultados científicos, o emérito sempre cultivou amizades. Na parte final da homenagem, o professor José Roberto Meyer, titular do IBqM, comoveu o auditório ao contar uma história de véspera de carnaval, de muitos anos atrás. A única televisão da casa havia quebrado e sua mãe e sua avó perderiam o tão aguardado desfile das escolas de samba.
Na sexta-feira antes do carnaval, Adalberto lhe deu a costumeira carona, mas não parou na Leopoldina como sempre fazia. “Eu morava na Tijuca. Mas fomos até a casa dele, em Copacabana. Pegou a única televisão que tinha em casa, botou dentro do fusquinha dele, me levou até a Tijuca e disse ‘agora elas vão assistir ao desfile das escolas de samba’”, encerrou, emocionado.
Este desprendimento apareceu de novo quando o próprio Adalberto fez uma breve apresentação de sua biografia. Não citou sequer uma vez os prêmios recebidos ou algum trabalho científico de sua autoria. Pelo contrário, valorizou as conexões criadas ao longo de 50 anos de vida acadêmica, a começar pelo saudoso professor Leopoldo de Meis — a primeira pessoa que conheceu na UFRJ —, que dá nome ao Instituto de Bioquímica Médica.
O compromisso de uma vida inteira resumiu no slide final da apresentação. Na imagem, segurava a faixa durante um ato na praça Mauá, antes da pandemia. “Nós manifestamos, com força, a convicção de que um país sem ciência e tecnologia é um país sem futuro”, concluiu, sob aplausos.
Ao final das homenagens, questionado se teria mais algo a dizer, Adalberto, muito simples, limitou-se a falar: “Muito obrigado, amigos”.
Nós que agradecemos, professor.

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 3SANTORO: “A primeira coisa que fiz foi solicitar a abertura do processo de reforma elétrica” - Foto: Fernando SouzaEntre as 77 construções avaliadas pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU) no ano passado, o prédio compartilhado entre o IFCS e o Instituto de História figurou em quinto lugar entre as mais deterioradas. Falta de orçamento, entraves burocráticos da administração pública e a dificuldade extra da realização de obras em um prédio tombado ajudam a explicar o resultado e os desafios dos gestores.
A tão sonhada reforma elétrica da edificação, perto de sair do papel graças a um acordo com a prefeitura, é fruto de um complexo processo iniciado há quase três anos. Uma semana antes de assumir a direção do IFCS — instituto responsável pela administração do prédio —, em setembro de 2021, o professor Fernando Santoro tomou conhecimento de uma vistoria de segurança do município que apontava os problemas infraestruturais da edificação. “A primeira coisa que fiz foi solicitar a abertura do processo de reforma elétrica. O processo começou no dia da minha posse”.
Mas o calvário da gestão com a burocracia também começou naquele momento. O diretor foi informado de que os processos só poderiam ser disparados com a indicação de recursos — que não existiam. “Era um absurdo. Você não podia abrir o projeto porque não tinha a previsão orçamentária e você não conseguia a previsão orçamentária porque não tinha projeto”. Após uma negociação com a reitoria, a situação foi finalmente destravada para a direção do IFCS conseguir incluir a previsão de todas as reformas no planejamento de compras para 2023.
Os empecilhos não pararam por aí. Para a realização de grandes obras no prédio do Largo de São Francisco, tombado desde 1962, é necessária a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional. Só que o Iphan quer derrubar o terceiro e quarto pavimentos da edificação, construídos no século XX. “Eles escolheram arbitrariamente um dos momentos históricos do prédio, que já foi Academia Real Militar, Escola Politécnica e Escola de Engenharia.Esse projeto impedia qualquer reforma nos terceiro e quarto andares, que estavam condenados, digamos assim, pelo Iphan”.
Após mais uma delicada negociação, o órgão autorizou a obra. “O Iphan aprovou o projeto básico com o argumento de que, sem essa reforma emergencial elétrica, também o primeiro e o segundo andares estavam em perigo. Afinal, se começa um problema no terceiro ou quarto andar, destrói o prédio inteiro”, afirma Santoro.

Reforma Elétrica
O custo estimado da reforma elétrica era de R$ 3 milhões. Hoje, com o projeto quase pronto, está em R$ 6,5 milhões. “Obviamente superior ao que temos no orçamento participativo (receitas que unidades e decanias têm para despesas correntes)”, informa o diretor. O IFCS tem apenas R$ 268 mil. Daí a parceria com a prefeitura do município, que também vai fazer a reforma das fachadas.
O diretor enfatiza que esta será uma reforma elétrica emergencial. “Vamos ainda precisar das ramificações finais. Isto é, colocar em situação regulamentar, sobretudo, os aparelhos de ar-condicionado”. A direção conta com uma emenda parlamentar do deputado Glauber Rocha, de R$ 1,5 milhão para ajudar nesta parte.

Fachada e infiltrações
A reforma da fachada, já aprovada pelo Iphan em 10 de junho, deve promover a limpeza das tubulações de água que correm nas paredes e acabar com a maioria das infiltrações. A direção estima o prazo de um ano para ser concluída.

Segurança
A administração do prédio solicita rotineiramente aumento do efetivo da PM na praça, principalmente após as 21h, com o 5º BPM. O pedido é atendido por um tempo, mas os policiais acabam sendo remanejados.

Água
O diretor ainda aguarda laudo do Escritório Técnico Universitário sobre o problema dos bebedouros. A prefeitura Universitária reformou a caixa de gordura do restaurante e cedeu uma cisterna complementar para normalizar o serviço. Falta fazer a impermeabilização e higienização da cisterna original do prédio, o que aguarda licitação.

Incêndio
Uma parte que não depende de autorização do Iphan, de sinalização em caso de sinistro, aguarda licitação na Pró-reitoria de Finanças; a segunda parte, que depende do Iphan, envolve as estruturas hidráulicas. O prédio conta com brigadistas, 24 horas por dia, sete dias por semana.

DECANIA
Em parceria com o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) — ao qual o IFCS e IH são vinculados — mantém um contrato de manutenção de redes elétrica e hidráulica para todas as suas unidades (nove, ao todo). “Para o emergencial, a gente tem uma equipe”, afirma o decano, professor Vantuil Pereira.
Desde 2020, por imposição do governo em todo o serviço público federal, a universidade precisou reduzir suas unidades gestoras de 30 para 19. No caso do CFCH, houve centralização dos gastos na decania, mas o planejamento é das unidades. “Quem diz onde vai gastar é a unidade”, diz o decano. O Centro montou um calendário e cada instituto ou faculdade tem prazos específicos para indicar quanto quer comprar de cada item. Por exemplo, ventiladores. O CFCH soma tudo e faz uma compra única, com o valor que as unidades ganham de orçamento participativo.
“Existe uma limitação dos órgãos do controle que você não pode fazer uma mesma compra duas vezes no ano. Se eu comprei datashow no dia 1º de janeiro, eu não posso comprar outro datashow no dia 1º de fevereiro”, esclareceu Vantuil.
O dinheiro é escasso. O CFCH tem R$ 331 mil para dar conta do prédio próprio, do aulário (junto do CCJE) e da biblioteca, no campus da Praia Vermelha, além do contrato de manutenção (que custa aproximadamente R$ 80 mil). “Se somar o orçamento do IFCS (R$ 268 mil) e do IH (R$ 87 mil), ele é superior ao da decania”, exemplificou Vantuil. “Ano passado, tivemos que fazer uma reforma no piso do aulário, que custou R$ 300 mil. A reitoria que pagou”, completou.

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 7

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 7Arte sobre foto de Kelvin MeloKelvin Melo e Renan Fernandes

Não precisa nem entrar no prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e do Instituto de História para começar a entender as péssimas condições de trabalho e estudo enfrentadas por professores, técnicos e estudantes. Plantas crescem nas paredes e tubulações de escoamento da água. As paredes, desbotadas, estão pichadas. Muitas vidraças, quebradas. No esvaziado Centro do Rio, o entorno é inseguro. Principalmente, na saída dos cursos noturnos.
Por dentro do imóvel de quatro pavimentos e 14 mil m² de área construída, a sensação de insegurança é alimentada pelo risco de incêndio. A rede elétrica, do século passado, demanda uma ampla reforma. Em caso de sinistro, quem frequenta os três pavimentos superiores só tem dois caminhos para alcançar o térreo: uma elegante escadaria toda feita em madeira (!) e um apertado acesso de cimento, nos fundos do prédio.
O sistema elétrico antigo, unido à falta de recursos, repercute na falta de climatização da maioria das salas. A reportagem constatou muitos aparelhos de ar quebrados ou pendentes de manutenção e instalação adequada. E uma profusão de ventiladores velhos, insuficientes para refrescar as amplas salas dos institutos, com um pé direito altíssimo.
Nas salas, além do calor em dias muito quentes, docentes e alunos sofrem com o mobiliário antigo. A reportagem viu muitos quadros a giz e poucos quadros brancos de qualidade. Os docentes também encontram dificuldade para conseguir equipamentos de projeção.
Já a falta de água para beber nos dias de calor se tornou um problema recente do prédio. Um acidente com a caixa de gordura do restaurante universitário contaminou os bebedouros do prédio, em maio, e forçou a suspensão das aulas por vários dias. Nesta semana, desta vez por um problema de fornecimento da companhia no centro da cidade, a comunidade do IFCS-IH ficou novamente sem água na quinta-feira (20).
Estes e outros problemas que compõem o drama da comunidade do prédio são abordados nesta edição especial do Jornal da AdUFRJ.

POSSIBILIDADE DE INCÊNDIO COMO O DO MUSEU NACIONAL

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 2Fotos: Fernando SouzaO receio que o IFCS-IH sofra um incêndio das mesmas proporções do Museu Nacional é constante. A rede elétrica defasada é o principal foco de preocupação de professores, técnicos e alunos que frequentam o prédio histórico do Largo de São Francisco.
“Já tivemos três princípios de incêndio em dois anos”, afirmou o estudante Washington Yuri, do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em um deles, no ano passado, começou a sair faísca de um disjuntor antigo do quarto andar. “Alguém, por pura sorte, viu e desligou o disjuntor”, disse.
No início deste semestre letivo, uma professora substituta do Instituto de História tomou um tremendo susto ao tentar ligar um dos ventiladores. O aparelho deu curto-circuito e a docente levou um choque muito forte. “Ela ficou muito assustada, mas continuou a aula mesmo assim, com o braço dormente ali na hora”, afirmou o professor João Paulo Rodrigues, do IH.
Se algum destes “sustos” fugir ao controle e o prédio pegar fogo nos pavimentos superiores, as pessoas terão apenas duas opções para alcançar a saída: uma elegante escadaria toda feita em madeira e um apertado acesso nos fundos.
O professor Antonio Saturnino Braga, do departamento de Filosofia, revelou preocupação com as rotas de fuga do edifício. “É um medo com que convivemos aqui. Um tópico que deveria ser atacado prioritariamente. São feitos treinamentos e manutenção dos extintores, mas isso é paliativo. A questão das rotas de escape é muito grave”, teme.

“SAUNAS” DE AULA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 3Não é fácil dar aulas em dias de calor. No verão, nem se fala. A rede elétrica antiga, somada à falta de recursos da universidade, impacta também a climatização do IFCS-IH. Não há aparelhos de ar-condicionado na maioria das salas. Parte dos que existem é apenas decorativa: os aparelhos estão completamente quebrados ou precisam de manutenção para voltar a operar.
A solução encontrada é a instalação de ventiladores. Muitos, mas insuficientes para refrescar as amplas salas do prédio histórico, com um pé direito altíssimo. Além de barulhentos, concorrendo com a voz dos professores.
“Os aparelhos de ar-condicionado que existem não funcionam e os ventiladores são velhos e ineficazes. Quando ligados, a gente se pergunta se é pior o barulho ou o calor”, lamentou o professor Saturnino Braga.
A professora Adriany Ferreira de Mendonça, da Filosofia, conconcorda. “Nos dias de calor, a gente passa mal. É desumano. Ainda temos medo de ligar os ventiladores, porque podem cair do teto”, disse.

INFILTRAÇÕES SÃO CONSTANTES

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 5As infiltrações estão por toda parte. Ao lado do Salão Nobre, no segundo pavimento, existe uma cratera no teto do banheiro feminino. Na biblioteca, perto de uma estante do setor de periódicos, uma das paredes está bastante descascada pela ação da umidade. As obras são protegidas por um plástico improvisado.
Diretor adjunto de graduação do Instituto de História, o professor João Paulo Rodrigues já teve a sala afetada por vazamentos duas vezes, em menos de seis meses: em novembro e abril. No episódio mais recente, detritos do teto ficaram espalhados pela mesa e pelo chão.
“O de novembro inundou a sala toda e vazou água para o corredor”, disse. “Os armários, com documentos, ficaram molhados. Tivemos que abrir para secar. Mas os armários estão deteriorados. E perdemos o filtro de água, que pifou”. O piso perdeu o sinteco e o cheiro de mofo só desapareceu por volta de maio, segundo o docente.
O mofo inviabiliza o uso de algumas salas do edifício. É o caso da sala 107, no térreo, que não tem janelas de ventilação para a rua. O professor Pedro Vitor, da Faculdade de Educação, que trabalha no prédio ministrando o curso de Didática especial em História, foi alocado na 107 no último período e precisou buscar outro local para dar aula. “É impraticável. A sala parece um calabouço. Tem um cheiro de mofo muito forte, ninguém consegue ficar mais de 15 minutos ali. Eu e os alunos começamos a espirrar e tive que interromper a aula para procurar outra sala”, contou.
A professora Isabele Mello, do IH, relacionou a falta de infraestrutura no prédio com um ambiente de desestímulo à continuidade nos cursos. “Por vezes, me sinto constrangida em sala de aula. Como promover a continuidade na carreira acadêmica, na pós-graduação, quando o estudante observa as condições em que ele está assistindo aula e que seu professor está trabalhando?”, questionou.

RISCO À SAÚDE NA BIBLIOTECA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12Com quatro pavimentos e um acervo de 135 mil documentos, a biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos é um dos destaques do prédio. Mas a beleza das paredes de pedra, originais da construção do século XIX, esconde um risco à saúde de quem estuda e trabalha no local.
“As paredes estão se desfazendo, soltando um pó que é respirado pelos frequentadores”, informa Sulamita Nicolau de Miranda, subchefe da biblioteca. “As pedras guardam o aspecto histórico dos anos 1800, mas estamos em 2024. É preciso um trabalho de recuperação, uma análise técnica de como estão essas paredes”, afirma.
A demanda por mais tomadas é outro problema do espaço. “Hoje, os alunos estudam com tablets e notebooks. Precisamos de uma rede elétrica estável, mas não temos nem tomadas suficientes para oferecer. E as que temos são do padrão antigo, de dois pinos”, conta Sulamita.
A falta de climatização também desafia quem trabalha e estuda no local. O aparelho de ar está quebrado. A reportagem do Jornal da AdUFRJ constatou o clima desconfortável na biblioteca na terça-feira, 18, dia em que a cidade registrou máxima de 34°C.
Mas as temperaturas altas também são prejudiciais ao acervo. “É uma questão de preservação do patrimônio da universidade. Os livros expostos ao calor e às janelas abertas se deterioram com o tempo”, aponta a bibliotecária.
O padrão determinado pelo manual de conservação de acervos bibliográficos da universidade estipula a temperatura ideal nas bibliotecas entre 19°C e 23°C e a umidade relativa do ar entre 50% e 60%.

ÁGUA CONTAMINADA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 1O episódio recente da crise de infraestrutura foi a contaminação da água dos bebedouros. O problema foi causado por um vazamento da caixa de gordura do restaurante universitário, em maio. Nas redes sociais, estudantes relataram mal estar, vômito, dor de cabeça e de barriga. As aulas foram suspensas até a normalização do serviço.
O bicentenário prédio do Largo de São Francisco conta com quatro bebedouros (um por andar) para atender a uma “população” de 157 professores, 93 técnicos e mais de dois mil alunos com matrícula ativa. E isso contando apenas as graduações do IFCS e do IH.
Estudantes de Psicologia, Enfermagem e Odontologia também recebem aulas de Ciências Sociais ou Filosofia no local. Além disso, o bandejão localizado no térreo — que serve 800 refeições no almoço e 400 no jantar — serve o público das demais unidades da UFRJ no Centro.
Bem antes deste incidente, Adriany Ferreira, docente da Filosofia, já havia passado por uma experiência desagradável com os bebedouros. “Não tenho mais coragem de beber a água do IFCS. Tive problemas de saúde ano passado e nunca mais bebi”, revelou.
A professora destacou a qualidade da água como uma condição básica para a permanência de estudantes nos cursos. “A universidade tem que ser cada vez mais aberta e mais inclusiva. Agora, sem água potável, não tem restaurante universitário. O estudante, que por vezes vem de longe, fica sem água e sem comida”, concluiu.
O IFCS-IH comporta oito banheiros — um deles interditado —, que não estão em boas condições. Um aviso no sanitário feminino do segundo andar dá a dimensão de como o problema é antigo. “Em 2016, o IH gastou mais de R$ 6 mil com a manutenção dos banheiros. Em menos de seis meses, seis tampas de privada, um espelho e dois ganchos de bolsa foram quebrados”, diz um trecho.

MOBILIÁRIO ANTIGO E PRECÁRIO

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 2Kelvin MeloNo Salão Nobre, no segundo pavimento, um bonito relógio de parede marca sempre a mesma hora: cinco para as duas. O tempo parece ter parado também quando se trata de mobiliário e equipamentos básicos para as aulas no prédio. Em várias salas, os professores precisam trabalhar com o tradicional quadro negro a giz.
Há quadros brancos que só podem ser apagados, entre uma disciplina e outra, pelos funcionários terceirizados, usando produtos de limpeza mais fortes. “Comecei a trabalhar no ensino básico em 2016 e nunca dei aula em uma escola com quadro negro. Como o IFCS ainda tem salas sem quadro branco?”, questiona o professor Pedro Vitor dos Santos, da Faculdade de Educação.
Pedro foi aluno do IFCS, mas ainda é surpreendido com a falta de estrutura do edifício. “O IFCS funciona por meio de improviso e gambiarras. Os projetores instalados nas salas não funcionam. O departamento de Ensino de História tem um cedido pela Faculdade de Educação. Somos sete professores e a gente tem que fazer rodízio. Tenho uma aula sobre o uso da imagem na sala de aula e tenho que combinar com meus colegas para poder usar o projetor”, lamentou.

INSEGURANÇA NA SAÍDA DO NOTURNO

Três cursos noturnos — bacharelado e licenciatura em História e a licenciatura em Ciências Sociais — funcionam no Largo de São Francisco, com disciplinas até 21h40 ou 22h. Mas não é incomum que os professores liberem as turmas antes por conta da insegurança no centro do Rio.
A professora Isabele Mello, do Instituto de História, expôs o medo de alunos com a violência no entorno do prédio. “A questão da insegurança afeta principalmente os alunos do noturno. Vários estudantes já relataram assaltos no trajeto até os pontos de ônibus ou o metrô”, revelou.
Uma alternativa para reduzir os riscos seria a abertura do portão dos fundos do prédio, que dá acesso ao Largo Alexandre Herculano, próximo à Praça Tiradentes. “A liberação do portão facilitaria a vida dos estudantes. Mas por limitação de segurança e por necessidade de reformas não podemos usar a saída”, acrescentou.

 

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 1Foto: Silvana SáO Conselho de Ensino de Graduação (CEG) aprovou na quarta-feira, dia 19, um conjunto de medidas – reivindicadas pela bancada estudantil do colegiado – que beneficiam especialmente estudantes em greve e são extensivas a todos os mais de 50 mil alunos de graduação.
Os estudantes justificaram o pleito por três motivos: a greve discente, questões de infraestrutura e a greve dos técnicos, que inviabilizou aulas práticas em vários cursos. A sessão, com mais de seis horas consecutivas, acabou somente às 16h40.
Pela decisão do CEG, está estabelecido um novo período de trancamento de disciplinas, que começou no dia 20 e vai até 26 de junho. Não será permitida a contagem de frequência para reprovação em 2024.1. Os conselheiros autorizaram, ainda, a redução do número mínimo de seis créditos a serem integralizados em 2024.1 e flexibilização dos critérios para manutenção de bolsas acadêmicas.
Jubilamentos ficam suspensos no atual semestre. Avaliações poderão ser aplicadas, mas será garantida segunda chamada para todos os estudantes que faltarem às provas, independentemente do motivo. Não houve unanimidade, mas praticamente toda a pauta estudantil foi aprovada.
Apenas dois itens solicitados pelos alunos foram rejeitados: o congelamento do calendário por unidades acadêmicas e a não contabilização das reprovações no cálculo do Coeficiente de Rendimento (CR).
O congelamento do calendário não foi aprovado, mas ficou acertado que a PR-1 poderá negociar com as unidades uma adequação das datas de procedimentos acadêmicos, desde que não haja prejuízos ou mudanças em 2024.2. Não houve pedido de suspensão do calendário geral.
Alexandre Borges, aluno da Letras, diretor do DCE, foi o relator do tema e defendeu as mudanças. “Nós vemos a situação da universidade de forma muito grave e por isso defendemos a greve. Por outro lado, respeitamos as consultas nos cursos. Reconhecemos a decisão grevista de 58 cursos e também de outras dezenas que não optaram pela greve. Por isso, nossa proposta é que a PR-1 analise o calendário em nível das unidades”, explicou.
A UFRJ tem 176 cursos de graduação. Em mais de dois terços deles, os estudantes não aderiram à greve. Mesmo assim, o representante discente enfatizou a necessidade do período de trancamento especial. “A gente considera ruim o trancamento, mas quer evitar um mal maior, que é o excesso de reprovações”, disse. “A gente quer aprender. E, para aprender, a gente quer ter a disciplina por inteiro, com condições de assistir”, justificou.
Logo no início da reunião, a pró-reitora Maria Fernanda Quintela informou seu posicionamento. “Minha proposta desde o início é, independentemente da greve, que a gente converse curso a curso para adequações conforme as necessidades”, disse. “A instituição não suspende calendário geral, porque a instituição não entra em greve”.

Técnicos
O representante dos técnicos, Luiz Felipe Cavalcanti chegou a apontar preocupação com o período de trancamento especial. “A questão do trancamento para a gente é péssima, porque traz sobrecarga de trabalho. Não significa que a gente não vá fazer, mas é um ponto sensível para as secretarias acadêmicas”.
“O tempo todo eu ouvi nas falas ‘direito, direito, direito’, mas a todo direito corresponde um dever”, ponderou o professor Joaquim Martins, representante do CFCH. “Os pontos colocados são todos importantes, mas a gente tem que entender nossas diferenças”, completou.

PONTOS DE VISTA
Os professores foram informados em comunicação enviada pela PR-1 no dia 20 de junho sobre as novas regras para o semestre letivo. Diretor da AdUFRJ, o professor Rodrigo Nunes da Fonseca expressa preocupação com as medidas aprovadas pelo CEG. “Recebi diversas mensagens de docentes descontentes com a decisão. Todos entendem que as questões estruturais e financeiras são graves, mas este não deveria ser um argumento para a flexibilização global”, justifica Rodrigo.
“Os professores rejeitaram a greve em duas assembleias e continuaram lecionando, realizando pesquisa e extensão durante todo o período. Por que vamos flexibilizar faltas discentes, períodos de trancamento etc.?”, questiona. “Não acredito que isso seja justo nem com os docentes, que optaram por não entrar em greve, nem com a maior parte dos alunos, que se dedicaram às suas atividades acadêmicas integralmente”.
Professor do Instituto Politécnico de Macaé e da Coppe, Diego Malagueta também considera excessiva a pauta aprovada pelo colegiado. “O trancamento e segundas chamadas considero bastante pertinente. É esse tipo de solução que compete ao CEG deliberar. E afeta mais a vida do aluno, seu histórico escolar, do que o exercício profissional do docente”, acredita. “Mas considero que certas decisões são até mesmo desrespeitosas com a classe docente”, disse.
Uma das críticas é sobre a não contagem de faltas para fins de reprovação e jubilamento. “Sinto meu trabalho desrespeitado, ao impor ao docente que não atenda a regras básicas do seu exercício profissional”, critica o professor Malagueta. “Ao me impedir de exercer devidamente critérios de aprovação/reprovação, a decisão está invadindo a alçada do docente”, justifica. “Fora a irresponsabilidade de aprovar eventualmente um discente que não deveria. Temos de lembrar que, um dia, ele exercerá a profissão que está cursando”.

ufrjminervaFoto: Artur Moês (CCS/UFRJ)O Conselho Universitário do dia 6 aprovou a matriz para distribuição do orçamento participativo em 2024. Os conselheiros optaram pelo parecer de vistas do professor Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do Instituto de Economia.
A matriz repete os valores de 2023, mas acrescenta verbas ao campus de Caxias e ao Centro Multidisciplinar de Macaé. Para Duque de Caxias haverá aumento de R$ 23,3 mil. Já para o Centro, o acréscimo é de R$ 39,47 mil. O valor total a ser distribuído entre todas as decanias e unidades passa de R$ 12.904.773 para R$ 12.991.853,95. O incremento é de pouco mais de R$ 87 mil. Ficou estabelecido, ainda, o compromisso de o colegiado se debruçar sobre uma nova matriz orçamentária para distribuição de recursos do orçamento participativo a partir de 2025.
Apesar do aumento recebido, houve protesto dos professores de Macaé em relação a todas as propostas que entraram em discussão. Nenhum dos pareceres considerou aportar recursos separadamente para os institutos que compõem o Centro. “O centro é visto apenas como uma unidade simples e o valor fica restrito apenas à decania”, criticou o professor Habib Montoya. Todas as demais decanias têm recursos destinados separadamente para os centros e para as unidades.

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