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Elisa Monteiro e Kelvin Melo A Adufrj está em busca de soluções contra a falta de segurança na Cidade Universitária e criará em seu site um banco para receber contribuições da comunidade acadêmica. O professor Fabio Ramos, do Instituto de Matemática, tem uma sugestão a partir da experiência no estudo de softwares de monitoramento aéreo para segurança durante o pós-doutorado em Israel. O programa capta imagens por um balão, e um programa que identifica movimentações estranhas. “É preciso definir que tipos de movimentações podem ser considerados suspeitos”, explica o pesquisador. Não seria uma solução no curto prazo, mas com boa chance de resultados positivos. Para reduzir custos, poderiam ser usados balões como de publicidade. Levantar dados sobre a situação da segurança, sistematizar propostas, conversar com autoridades e acompanhar as medidas institucionais implantadas. Esta foi a agenda apresentada pela diretoria da Adufrj em plenária no Centro de Tecnologia, no dia 24. A diretoria se reunirá com a Secretaria de Segurança Pública no dia 29 de maio e em junho realizará uma audiência pública para a qual serão convidadas autoridades. “O objetivo é ouvir as autoridades sobre o que a universidade poderia fazer para diminuir crimes”, diz o vice-presidente da Adufrj, Eduardo Raupp.

O Boletim da Adufrj  ouviu da comunidade universitária esta semana seguidos relatos sobre casos de violência no campus. Abaixo, depoimentos de medo e tensão, exigindo medidas concretas contra o problema.   "Entrei como professor em 1992. A segurança oscilou neste período. Agora, piorou muito. Sempre me preocupo ao entrar ou sair do carro. O Proeis é um primeiro passo. Onde tem policial bem visível, o bandido vai a outro lugar. O trânsito aqui é enorme. O estacionamento teria de ter maior controle." (Jean Louis Valentin, professor aposentado do Instituto de Biologia) "Em janeiro, homens armados bloquearam meu carro. Levaram carro, bolsa, tudo. Fiquei em pânico. A mobilização é importante para mostrar o que estamos vivendo aqui. Estamos com medo." (Sonia Rozental, professora do Instituto de Biofísica) "Trabalho aqui há 22 anos. Antigamente, era furto: meninos entravam de mochila e não dava para saber se era estudante ou não. Agora é uma “equipe”. É o crime organizado, mais organizado que a sociedade civil. Qualquer coisa tem que ser feita, não sei se essa (do Proeis) é a melhor. Dou aula à noite; não tem luz no estacionamento. Aciono o alarme do carro, dou uma volta, não entro imediatamente. Para ver se aparece alguém perto do carro." (Eline Matheus, professora do ICB) "Costumo vir de carro uma vez por semana. Quando saio, fico assustada, olhando pra tudo quanto é lado. Principalmente quando o estacionamento está mais deserto. Não existe política efetiva de segurança no campus. Aqui é uma cidade. Tem que haver policiamento mais ostensivo. É uma ideia (o Proeis). Do jeito que está, está muito difícil." (Claudia S. Thiago Ragon, odontóloga do HU) "O campus está dentro do Rio de Janeiro. Piorou pelo contexto geral, com a crise. Temos de tomar medidas institucionais para melhorar a segurança, mas é como enxugar gelo se a gente não trabalhar em outras instâncias além da esfera universitária. A segurança a gente só resolve se comparece para votar e faz escolhas corretas. Não podemos espalhar medo, mas soluções. Sonia Reis, diretora da Faculdade de Letras O campus está abandonado. A gente acompanha estágio no hospital. Já tive carro furtado, em 2008. Agora a violência está muito pior. Semana passada, uma colega foi assaltada pela manhã perto do HU. Algo precisa ser feito. Não acho que o Prois resolve, não. Devíamos nos organizar para criar mecanismos mais inteligentes,como restringir mais o acesso ao campus." (Rita Batista Santos, professora da Escola de Enfermagem Anna Nery) "A universidade está inserida na cidade com sua dinâmica de violência. Mas a impressão que se tem é que o Fundão está pior. Aqui age uma (ou mais) quadrilha especializada. A gente precisa de inteligência: ter câmeras, estudar e desbaratar as quadrilhas. Estou na universidade, como professor, desde 1976. Este ano certamente é o pior. Sei de professores que deixaram de vir de carro pela insegurança. Estão vindo de ônibus." (Ricardo Medronho, professor da Escola de Química) "Eu e um colega fomos abordados no estacionamento do CCS na volta do almoço, no dia 26 de março. Estavam com duas pistolas, um fuzil e uma metralhadora. Fomos deixados na Maré, pouco mais de uma hora depois. No carro dos bandidos, com insulfilm, passamos por um veículo da PM no campus. Falavam em nos matar várias vezes. Achei que não ia sair daquela não. Mudei minha rotina na UFRJ." ( Jamil Freitas, webdesigner do Sintufrj)

  Mal a comunidade universitária recuperava o fôlego com o sequestro do casal de professores, mais duas estudantes foram vítimas de ações criminosas. Na tarde de segunda-feira, 21, uma estudante do Instituto de Biofísica foi raptada do estacionamento e obrigada a circular no campus no carro dos dois bandidos armados com pistolas. Ela teve a mochila, computador e celular roubados. Menos de 24 horas depois, uma aluna do Instituto de Geociências e o namorado tiveram o carro, um HB20, fechado por um veículo com quatro homens armados em frente ao Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Segundo uma testemunha, os bandidos fizeram arrastão em outros três veículos - às 8h20 da manhã. A impotência é o sentimento da testemunha. “Escolheram o carro dela”, relata a pós-graduanda. “O Voyage de um senhor estava na frente. Mas preferiram o dela”. A estudante, que preferiu não ser identificada, conta que quatro homens, aparentando uns vinte anos, saíram do carro sem máscara, de cara limpa mesmo. Uma patrulha da Polícia Militar estava a trezentos metros. “Os dois carros, o dos bandidos e o dela, passaram em frente à PM”, acrescenta. Pouco antes da coletiva em que a reitoria anunciava medidas, um idoso teve o celular levado por dois homens de moto.

Em tom de desabafo, Mauro Sola-Penna, da Faculdade de Farmácia, fala do medo depois do sequestro no campus e cobra condições para exercer as atividades acadêmicas Uma semana depois do sequestro-relâmpago do qual ele e sua mulher foram vítimas, o professor da UFRJ Mauro Sola-Penna, da Faculdade de Farmácia, não esconde a tristeza e a revolta com o clima de medo no campus do Fundão. Sola-Penna e a mulher, Patrícia Zancan, também professora da Farmácia, foram rendidos quando chegavam ao Centro de Ciências da Saúde no dia 18 de maio e ficaram 11 horas em poder dos sequestradores. Ao Boletim da Adufrj, Sola-Penna falou em tom de desabafo. Aos 48 anos, 30 na UFRJ, 25 como professor, diz que faltam condições de trabalho na universidade e que considera a possibilidade de tirar uma licença. “O sentimento é de impossibilidade de trabalho. Não tem condição de viver nessa situação”, afirmou, em entrevista por telefone na última terça-feira. Por isso a licença: “Não é decidido, estou pensando. É covardia obrigar os docentes a trabalhar nessas condições, em salas cobertas de fungos. Temos colegas afastados por problemas respiratórios. A universidade hoje não nos dá condições de trabalho”, afirmou Sola-Penna, que disse considerar também a possibilidade de processar civilmente a UFRJ. Segundo o professor, o reitor Roberto Leher lhe telefonou e disse que acordou um aumento do policiamento. No entanto, na avaliação do docente, é preciso providências urgentes. “Não adianta empurrar a responsabilidade, que é da reitoria, não é da PM nem da Polícia Federal. A reitoria tem responsabilidade de resolver essa questão. Estou falando em tom de desabafo. Acho que a gente quer solução”, afirmou Sola-Penna. O docente reiterou que os casos de violência no campus são frequentes e comentou o risco em várias áreas da universidade. “Ontem (segunda, 21) estive no Fundão, pois precisava ir ao banco, e mudei meu itinerário. Estacionei em outra área. Saí por volta das 16h30 pelo mesmo lugar onde, dez minutos depois, uma aluna foi levada”, recordou. Segundo ele, é um erro separar em categorias os casos mais e menos violentos. “O aluno que perdeu celular ou carteira no ponto de ônibus também está sendo vítima de violência, não é que seja um mais grave que outro. Até concordo que o que aconteceu com a gente foi icônico, está desencadeando comoção”, afirmou. Seu alerta à comunidade universitária é a necessidade de dar ao problema da violência no campus a dimensão real: “Vejo muitas tentativas de minimizar o que vem acontecendo aqui, mas qualquer tentativa de minimizar é um desrespeito”.  

Mais quatro carros e oito policiais 24 horas por dia para patrulhar a Cidade Universitária. Este é o reforço prometido pela reitoria com a implantação do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), que deve ocorrer até a primeira quinzena de junho. Mas a administração central sabe que só o Proeis não será suficiente para proteger a comunidade acadêmica. “A efetividade vamos garantir com o Proeis, mas não se esgota no Proeis. Seguiremos precisando do suporte da Polícia Militar e da Polícia Civil”, diz o reitor Roberto Leher. O campus será dividido em quatro quadrantes. Cada um terá uma patrulha e dois policiais. “O 17º BPM (Batalhão da Ilha do Governador) está participando do planejamento do Proeis. E vai continuar aqui. A integração vai trazer bons frutos”, afirma o prefeito da UFRJ, Paulo Mário Ripper. Ele atribui a demora na contratação do Proeis, ventilado desde o fim do ano passado, ao “porte” do projeto. Enquanto o Proeis não vem, foi negociado um aumento do patrulhamento junto à Secretaria de Segurança Pública. “São 6 a 8 viaturas, contando motos, além de policiais à paisana”, acrescenta o prefeito. “Normalmente, temos uma viatura fixa e uma circulando”. Questionado se a ampliação da presença da polícia pode dar resultado, Paulo Mário responde que todo aumento de efetivo reduz índices de violência: “Quando vem cometer o delito aqui dentro, a pessoa observa. Quando percebe a presença ostensiva da polícia, desestimula”. MUDANÇAS NO TRÂNSITO O prefeito da UFRJ e o diretor da CET Rio, Joaquim Dinis, reuniram-se no dia 24. Profissionais das duas instituições vão estudar quais alterações no tráfego do Fundão poderiam ser feitas para reduzir o fluxo de veículos, ajudar as estratégias de segurança da PM e causar menor impacto para os motoristas no campus e nos arredores. “Temos três entradas e quatro saídas, cem mil veículos por dia. Vamos fazer mudanças, com possível fechamento de entradas e saídas em determinados horários”, disse Paulo Mário, sem adiantar propostas. Até a primeira quinzena de junho, promete a reitoria, serão instaladas câmeras nos pórticos nos acessos à universidade. O equipamento será capaz de capturar a imagem do motorista para ajudar em investigações. Serão solicitados recursos ao MEC para compra de mais câmeras de vigilância (hoje, são 288), carros e melhoria da iluminação. Foi enviado ao MEC o pleito de R$ 280 mil para comprar carros da Diseg. SUBNOTIFICAÇÃO Um obstáculo para entender a violência do Fundão é a dificuldade de checar números. Muitas vítimas não registram os crimes, de menor ou maior grau, na Diseg. Nem mesmo vão à 37ª Delegacia (Ilha do Governador) registrar boletins de ocorrência. Na DP, não existe separação entre casos do campus e os do bairro da Ilha do Governador. Todos ficam agrupados na Área Integrada de Segurança Pública (AISP)17. Diretor da Adufrj, o professor Felipe Rosa considera as medidas positivas, mas ressalva: “A principal preocupação dos professores é se essas medidas serão concretizadas. Queremos ver as promessas cumpridas”.   CHECAMOS O QUE JÁ FOI PROMETIDO ANTES   Não é a primeira vez que a reitoria promete ações para melhorar a segurança. Em alguns casos, as medidas nunca foram implantadas. Em outros, dependem da polícia, que abandona o campus depois que a repercussão dos episódios some da mídia.   Outubro de 2015– Prefeitura Universitária anunciou que seria intensificado o patrulhamento na área perto da Residência Estudantil, onde um aluno de Psicologia foi assaltado. Nove meses depois, o estudante Diego Vieira Machado foi assassinado perto da moradia. Julho de 2016 – após a morte de Diego, o reitor se reuniu com o 17º BPM. A reitoria informou que seria reforçado o policiamento em horários noturnos e nas saídas da Faculdade de Letras, CT, CCMN, CCS e EEFD. Dezembro de 2016 – Prefeitura passou a receber informações sobre crimes ocorridos na Cidade Universitária, pelo Whatsapp. O número foi atualizado para 99195-0593. O canal está ativo. Novembro de 2017 – Prefeitura disse que estudava novas formas para controlar acesso ao Fundão. A promessa foi feita, pela primeira vez, em outubro de 2016 com o início da instalação de três pórticos e um semipórtico nas entradas do campus. Informou que em cada um haveria câmeras. Os pórticos foram instalados em dezembro daquele ano. A reitoria diz que as câmeras serão instaladas até a primeira quinzena de junho.  

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