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Professores na mira

Silvana Sá
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O sequestro de um professor da Coppe, no dia 29, infelizmente não é uma exceção no Fundão. Há relatos deste tipo de crime pelo menos desde 2006. Só neste ano, a Divisão de Segurança da UFRJ tem cinco registros. O diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Bruno Leite Moreira, confirmou que três profissionais do hospital foram sequestrados em 2016. O último caso aconteceu no início de novembro. O modo de agir é sempre o mesmo: andam fortemente armados, fecham os carros das vítimas, encapuzam e aprisionam as pessoas, roubam as senhas dos cartões, realizam compras em lojas físicas e pela internet e sacam o dinheiro das contas até o limite.

Os docentes são alvos preferenciais porque têm “bons salários” e “recebem em dia”, conforme dois entrevistados pela reportagem ouviram dos bandidos. Um professor do Instituto Coppead já sofreu dois sequestros assim. Um, em 2011; outro, em 2013. “Nas duas vezes, era um carro estacionado, com vidro muito escuro que, de repente, arrancou na minha frente e me fechou. Saíram três assaltantes armados”, relembrou.

Na primeira vez, o professor passou mais de seis horas sob a mira de armas, dentro do carro dos criminosos. Foi rendido próximo ao Coppead. O professor foi libertado no estacionamento do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Realizaram compras no valor de R$ 24.500, além de um saque de R$ 1 mil. Dois anos depois, um novo sequestro, desta vez quando ele chegava ao Fundão pelo Portão 4, hoje fechado permanentemente. Era um sábado, às 10h. “Aquilo era um ‘corredor polonês’, sem ter para onde escapar. Fiquei duas horas com eles”.

Outro docente, também do Coppead, foi vítima de sequestro em julho de 2013. Ele dava carona para um colega quando foi abordado no caminho para a Linha Amarela, entre a Eletrobras e o Cenpes. Ele ficou em poder dos sequestradores por três horas e meia, dentro do carro. Os professores foram soltos também na Maré, próximo ao carro. “É um trauma. Há dois lugares que temos como sagrados: nossa casa e nosso local de trabalho. Infelizmente, aqui, já perdemos o nosso sossego”.

 

O docente parou de sair com cartões, mudou o carro, passou a usar vidro escuro, ficou anos sem usar celular. “Podemos olhar para os lados, ficar atentos, mas não há cuidado que nos proteja. Além da polícia, a própria UFRJ tem que prover alguma coisa”.

Patrimônio priorizado

Jan Niklas Jenkner
Estagiário da Adufrj

É enorme a diferença de recursos entre as empresas terceirizadas que cuidam apenas do patrimônio da UFRJ e a Divisão de Segurança (Diseg), formada por servidores, que também acumula a função de proteger as pessoas.

Levantamento feito pela reportagem da Adufrj na página da Pró-reitoria de Governança encontrou seis contratos em vigor com duas empresas de vigilância patrimonial. No campus do Fundão, atua a Front Serviço de Segurança Ltda, com 518 vigilantes. Nos demais campi, a Angel’s Vigilância e Segurança Ltda faz o serviço com 376 empregados. As empresas trabalham monitorando e patrulhando, com equipes armadas e desarmadas. No total, são 894 terceirizados a um custo de R$ 3.298.903,40 por mês.

Mesmo tendo como atividade-fim a vigilância patrimonial, a responsabilidade pela proteção da comunidade universitária acaba ficando nas mãos da Divisão de Segurança — um órgão com condições precárias de trabalho e em vias de extinção. São apenas 107 técnicos-administrativos no órgão, segundo a reitoria. O último concurso para a área foi em 1988 e grande parte do quadro está para se aposentar. “Há pelo menos seis anos, não há um investimento na Diseg. As últimas viaturas vieram de doações do Centro de Tecnologia”, relatou o coordenador Robson Gonçalves. Para toda a extensão do Fundão, atuam em média 15 seguranças por dia, divididos em dois turnos. Normalmente disponíveis para operar, estão de seis a oito viaturas em más condições, devido ao longo tempo de uso. Alguns carros da frota ficam constantemente em conserto. Robson afirmou ainda que a Diseg, a prefeitura universitária e a reitoria têm buscado parcerias com órgãos do poder público, como a Polícia Militar.

O 17º BPM, responsável pelo patrulhamento da Ilha do Governador e adjacências, não forneceu informações sobre sua atuação na Cidade Universitária devido ao caráter “estratégico e sigiloso” dos dados.


Por um Campus seguro

Docente da Coppe sequestrado em estacionamento cobra ações contra violência

Elisa Monteiro e Kelvin Melo
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Foram quatro horas de terror vividas por um professor da Coppe. Ele foi sequestrado, dia 29, de um dos estacionamentos do Centro de Tecnologia. Passado o susto e já com investigação em andamento na polícia, o docente pede que a universidade tome providências para melhorar a segurança da ilha do Fundão: “De tudo, o que acho mais relevante é ter sido abordado dentro do estacionamento. Eu estava dentro das instalações físicas da universidade, não estava na rua. Ali não era a Polícia Militar que devia estar vigiando”.

No estacionamento onde ocorreu a abordagem dos bandidos, apenas dois dias depois do crime, a reportagem da Adufrj não encontrou nenhum segurança. No meio da área, em uma improvisada torre, apenas uma cadeira vazia. Nas guaritas dos acessos às vagas, ninguém: “A segurança interna, sim, é da administração”, reforça o professor.

“Temos o nosso dever de casa”, desabafou. “Aqui, qualquer um entra e sai sem controle”. Ele completa: “Não adianta você colocar vigilante tomando conta de três computadores, quando a vida de uma pessoa vale muito mais”. O docente acredita que “está faltando inteligência” para usar da melhor forma os recursos para segurança. Além de reivindicar medidas concretas da Administração Central, o professor sugere a realização de uma campanha por mais segurança no campus. “Estou propondo que cada um traga uma cartolina para reportar a agressão que sofreu aqui. Todo mundo tem um caso”.

Morte de Diego sem laudo

Kelvin Melo
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Mais de cinco meses depois, a morte do estudante Diego Vieira Machado continua sem explicação. O corpo de Diego foi encontrado nas imediações do alojamento, em 2 de julho, com ferimentos nos braços e na cabeça. Desde então, por falta de recursos, o Instituto Médico-Legal sequer conseguiu concluir todos os exames com o sangue, urina e vísceras recolhidos da vítima.

 

Segundo informações do Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica, foi realizada a necropsia do corpo e um dos exames complementares, mas dois exames estão pendentes. “No momento, os resultados não podem ser divulgados para não prejudicar as investigações” da Delegacia de Homicídios da Capital, disse a assessoria da Polícia Civil, por e-mail. Em encontro com o secretário de Segurança do estado, Roberto Sá, no fim de novembro, entre outras demandas, a reitoria da UFRJ pediu atenção às investigações do assassinato do aluno.

PEC 55: menos R$ 1,2 bilhão para a UFRJ

Estudo mostra quanto a universidade teria deixado de receber, se as regras do teto de gastos já estivessem valendo há uma década

Silvana Sá
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A reitoria fez um estudo do impacto da Proposta de Emenda à Constituição 55, que impõe teto aos gastos primários do governo por 20 anos, no orçamento da UFRJ. A projeção foi feita entre 2007 e 2016, considerando apenas os valores executados pela universidade em cada período. A diferença é espantosa. Em uma década, a perda de financiamento seria da ordem de R$ 1,2 bilhão.

Se estivesse em vigor, a “PEC do Fim do Mundo” representaria, somente para este ano, um prejuízo de R$ 156,6 milhões. Também teria sido impossível expandir a universidade, com um orçamento reduzido a menos da metade entre 2011 e 2013.

“A PEC 55 coloca como teto o que foi executado no orçamento do ano anterior, ou seja, cria uma espécie de subteto e achata ainda mais o orçamento das universidades”, explica o reitor Roberto Leher.

A tabela abaixo mostra a progressão dos cortes. No ano inicial da aplicação dos efeitos da PEC, 2007, não há diferença no orçamento. Em 2008, a redução já é de R$ 2,4 milhões. O valor pula para R$ 34,9 milhões em 2009; R$ 64,8 milhões em 2010; e praticamente quadriplica em 2011.

  tabela pec

Contas da universidade voltam à pauta

O orçamento voltou à pauta do Conselho Universitário neste dia 8. Desta vez, o assunto foi abordado como uma prestação de contas de 2016. Sem caráter deliberativo, a discussão se resumiu à apresentação dos números e os conselheiros puderam, no máximo, esclarecer dúvidas daquilo que foi executado ao longo do ano.

A reitoria chamou atenção para o esforço de rever contratos e racionalizar seus gastos, o que diminuiu a dívida de 2015 de R$ 121,4 milhões para R$ 94,1 milhões. Também houve redução do déficit projetado para o fim deste ano. Ainda assim, o rombo é grande. Faltarão R$ 126,2 milhões para a universidade fechar 2016.

Os conselheiros destacaram a necessidade de a reitoria propor ações de redução do impacto, sobretudo da energia elétrica, nas contas da universidade. Houve, ainda, preocupações sobre o planejamento das despesas da administração e das unidades. “Temos um sistema que nos empurra a gastar o mais rápido possível o que recebemos. Isso diminui a qualidade do gasto”, disse o professor Ericsson Almendra.

A reitoria rechaçou que o rombo nas contas seja resultado de má gestão de recursos: “Se temos déficit, não é porque gastamos mais. É porque recebemos menos”, disse o pró-reitor de Planejamento, Roberto Gambine. 

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