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Professores da Faculdade da Educação debatem com senadores, deputados, reitor e Adufrj os rumos da política no país. Evento na Casa da Ciência teve apoio do sindicato dos professores

 

Elisa Monteiro
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Foto: Claudia Ferreira

“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu. A noite esfriou. E agora, José? E agora, você?”. Com um vídeo de pouco mais de um minuto no qual um menino rua recita o conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, a Faculdade de Educação da UFRJ (FE) recebeu sete convidados para discutir os rumos da democracia brasileira no governo interino de Michel Temer. Ao longo da noite, a questão de gênero, a bandeira da ética e o contraponto de um decano da política nacional se destacaram.

 

Tatiana Roque, presidente da Adufrj, era a única mulher na mesa, com exceção da mediadora do evento, na noite de segunda-feira, 6, na Casa da Ciência. Os outros palestrantes eram os deputados federais Alessandro Molon (Rede Sustentabilidade-RJ), Chico Alencar (PSOL-RJ) e Wadih Damous (PT-RJ); o senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade-AP), o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS); e o reitor da UFRJ, Roberto Leher. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) confirmou a presença, mas faltou sem explicar antecipamente para os organizadores.

 

A composição majoritariamente masculina do debate não passou despercebida pela professora da UFRJ, que fez um apelo ao avanço das práticas democráticas: “Qual a probabilidade de uma mesa com sete pessoas ter apenas uma mulher?”, provocou. “Estamos vendo as manifestações com grande protagonismo das mulheres, mas há uma diferença entre as ruas e gabinetes”. A organização do evento explicou que convidou outras palestrantes, mas que nenhuma aceitou o convite.

Tatiana Roque continuou: “Há um consenso de que chegamos a um esgotamento do pacto democrático expresso na Constituição de 1988, de que é preciso uma renovação, e de que esta renovação implica em um apoio das ruas”, ressaltou Tatiana Roque. A diretoria da Adufrj avaliou que as perdas para os setores denominados “minorias”, no atual governo, são “de natureza qualitativamente distinta” em função de um recuo do “espírito democrático” presente na Constituinte. “Já convivíamos com o ajuste fiscal”, avaliou. “A novidade é o fim do pacto em torno de princípios de 1988, representado pela proposta de Desvinculação de Receitas da União (DRU), do desmonte de estruturas básicas do Sistema Único de Saúde (SUS) ou do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação”.  “A extinção do MCTI não é apenas uma questão de recurso, mas de ter uma política de estado”. A dirigente frisou que as manifestações de junho de 2013 representaram uma “explosão por mais direitos, mais democracia” e que a incapacidade dos setores progressistas de responder aos anseios populares acabou sendo “capturada” por setores mais conservadores.

O debate durou quatro horas, com provocações da plateia e intervenções corajosas dos palestrantes. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por exemplo, arrancou aplausos ao tocar no delicado tema da corrupção: “O combate à corrupção nunca foi bandeira do PSDB. Nós (esquerda) é que sempre fomos essa referência, porque nunca acumulamos patrimônio na vida pública”.

Como exemplos, ele citou as ameaças à “previdência social para todos, inclusive trabalhadores rurais”, “a saúde como dever do Estado”, ao “Ministério Público como defensor de direitos difusos”, “a extinção da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão central para o combate à corrupção”, “a desvinculação das correções do salário mínimo”.

Contraponto

Outro momento com participação do público foi no começo da fala do ex-senador Pedro Simon: “Nosso inimigo não é a Lava Jato”. Simon destoou das críticas à intervenção recente do Judiciário na política. Para Simon, “pode ter havido exagero de juiz aqui, delegado ali, mas é a primeira vez que uma coisa assim acontece no Brasil”, disse em relação à possibilidade de prisões de figuras do alto escalão do poder. 

“Teve presidente da Câmara cassado, líder de partido cassado, senador cassado, príncipe da Odebrecht um ano preso”, advertiu. “O (Paulo) Maluf foi condenado 300 vezes e nunca passou um dia na cadeia. Quando ele mexeu com a merenda eu disse: opa, agora vai; merenda tem frango! Porque no Brasil só ladrão de galinha vai para prisão”, brincou.

 

Em sua visão, o ciclo petista não deu a atenção devida aos desvios de corrupção, contribuindo para “oficialização” de um sistema: “O problema de corrupção com o PT é algo real. Já havia corrupção, havia na Petrobras, mas não oficialização, como passou a ter”. “Quando as denúncias começaram, não houve as demissões sob a justificativa de que não eram condenações”. “Poderia ter sido diferente”, observou.

Golpe ou rearranjo?

“Quando camadas subalternas se insurgem, tal como em 2013, mas a crosta de poder impede transformações profundas, figuras assombradas ganham protagonismo”, avaliou Chico Alencar. Para o parlamentar, o caminho para o Brasil é “a democratização radical de tudo” e resgate da dignidade da vida humana e ambiental. “Nesta sociedade do descartável, ou o Estado se democratiza ou vai cair de podre”, completou sobre o esgotamento do modelo político do “presidencialismo de coalizão”.

Chico destacou que a trajetória política brasileira é marcada por um “contínuo de autoritarismo” que alimenta uma “crise civilizatória ambiental, econômica e social” ao qual o Partido dos Trabalhadores teria aderido. Sobre a derrubada de Dilma, Chico definiu como golpe. “É um golpe de novo tipo, teve respaldo constitucional e seguiu rituais, com maioria avassaladora no Congresso”.

A mudança nos mandatários do país, no entanto, não reflete, segundo o parlamentar uma transformação no projeto de poder. Ao contrário.  “Um grupo tomou o poder à força, mas não houve uma mudança significativa. Não há com nitidez dois projetos em disputa. A nova composição tem muitos do ‘velho regime’”.

“É golpe!”

 “Há previsão constitucional para impeachment, como há para homicídio no Código Penal; se não houve crime responsabilidade, é golpe!”, afirmou o petista Wadih Damous. “Não teve tanque, baioneta e coturno. Mas um modelo de golpe clássico, com militares, hoje é improvável”. Para ele, o desrespeito ao devido processo legal põe em riscos direitos fundamentais e mantém uma legalidade “de aparência”.

Além da ausência de militares, Damous enumerou como “novidade” a “presença do sistema brasileiro de Justiça” no golpe institucional. Segundo ele, orquestrado pelo Ministério Público e Polícia Federal e “operacionalizado pelo Congresso”. A favor de seu argumento, o deputado enfatizou a abordagem de “golpe” da imprensa internacional e alfinetou a nacional: “Uma democracia não pode conviver com uma mídia monopolizada”.

Universidade na conjuntura

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, participou do encontro reafirmando sua posição contrária à “extinção do MCTI por Medida Provisória de um governo provisório”. “Estamos diante de uma expropriação da massa de direitos fundamentais”, disse, referindo-se também aos anúncios de cortes das áreas sociais como saúde, previdência e educação. O dirigente também falou sobre o avanço conservador no campo da Educação. “A pretexto de uma neutralidade ética, o que verificamos é a intolerância ao pensamento critico”’, afirmou em relação ao projeto Escola sem Partido.

Sobre o tema da corrupção, Leher fez coro com o petista Damous: “O valor ‘combate à corrupção’ não pode comprometer valores de direito democrático”. O dirigente argumentou que a pauta não é exclusiva da esquerda e está “imbricada ao movimento de direita da UDN, de Lacerda”.

Crítica à imprensa

Alessandro Molon reforçou a crítica à imprensa, questionando o abandono das publicações de pesquisas de opinião, depois do afastamento de Dilma. E destacou que, além do direito civil da mandatária ao devido processo legal de defesa, o afastamento sem provas viola o direito coletivo dos eleitores.

 

O deputado afirmou que o interesse em “frear a Lava Jato” serviu de “motor” para o golpe acordado entre PSDB e PMDB. E ainda que o resultado será “a implantação de um programa de retirada de direitos que não ganha eleição há 14 anos”.  O exemplo estaria na imposição de um novo teto de gastos para a Educação abaixo do mínimo constitucional: “Como se gastássemos o suficiente”, criticou.


Veja a íntegra do debate: 

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?time_continue=406&v=bD_7RNaUHwk

Parte 2: https://www.youtube.com/watch?time_continue=167&v=zK0_OPtlvYc



Gestão Leher enfrenta primeira crise

Depois da demissão do professor Ivan Marques, da Pós-Graduação e Pesquisa, Regina Dantas pede exoneração da Pró-Reitoria de Pessoal

Silvana Sá
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Foto: Elisa Monteiro

A reitoria de Roberto Leher enfrenta sua primeira crise interna. Em nove dias, dois pró-reitores foram trocados na gestão de Roberto Leher. Ivan Marques foi demitido da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa em 25 de maio. Ele recebeu com surpresa a notícia (leia mais em ). Em 3 de junho, Regina Dantas deixou a Pró-Reitoria de Pessoal, alegando falta de entrosamento com a dinâmica da equipe do reitor.

Em carta encaminhada à Adufrj, Regina explica por que deixou a PR-4: “Agora, com quase um ano de gestão, avaliei e constatei minha dificuldade de adequação à dinâmica de atuação da atual Reitoria, por isso, solicitei minha exoneração ao cargo de Pró-reitora de Pessoal”, disse.

Diretores da Adufrj avaliam que falta espaço para atuação de quem não está politicamente tão ligado ao núcleo duro da administração central. E que esses seriam os casos de Ivan Marques e Regina Dantas.

No lugar de Ivan, será nomeada a professora Leila Rodrigues, da História. Quem assume provisoriamente a PR-4 é André Luiz Chagas Pereira, até então superintendente de Pessoal de Regina. De acordo com o reitor Roberto Leher, o nome do próprio André será apresentado no Conselho Universitário deste dia 9, como pró-reitor efetivo.

Em entrevista à reportagem da Adufrj, Regina Dantas diz que, apesar de ter recebido com surpresa a notícia do desligamento de Marques, sua saída não está relacionada à dele: “Uma coisa não tem ligação com a outra. Eu já tinha conversado com o reitor e comunicado que não estaria mais à frente da PR-4, quando o Ivan foi exonerado. Inclusive, em janeiro já havia pedido para sair da gestão, mas o reitor me pediu que reavaliasse e esperasse a gestão completar um ano”. 

Reitoria fala

Roberto Leher confirmou que a saída de Regina Dantas da Pró-reitoria de Pessoal aconteceu por solicitação da servidora. “Nós vínhamos conversando com ela para postergar (a saída)”, disse o reitor. O objetivo seria conseguir que a ex-pró-reitora concluísse algumas etapas de planejamento dentro da PR-4: “Ela foi solidária e generosa. E estamos muito felizes que ela tenha contribuído para a gestão”, afirmou Leher.

Para o reitor, o motivo principal para a decisão de Regina Dantas foi a difícil tarefa de conciliar sua intensa atuação acadêmica com o trabalho administrativo “pesado” de uma pró-reitoria tão complexa como a PR-4. Questionado se a nova baixa na equipe — formalizada no fim da semana passada — teria alguma relação com a demissão do professor Ivan da Costa Marques da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, ocorrida dias antes, Leher respondeu negativamente: “São questões distintas”.

A carta de Regina

Rio, 7 de Junho de 2016

Inicialmente, agradeço à equipe da ADUFRJ por proporcionar este espaço de esclarecimento frente às informações sobre minha saída da Pró-reitoria de Pessoal (PR-4). Estou na UFRJ desde 1985, iniciei minha jornada na COPPE, mas os 10 anos que passei no Museu Nacional (1994-2004),  motivaram os temas de minhas pesquisas no mestrado, no doutorado, nos projetos de extensão e nas atuações na graduação (Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação/CBG) e na pós-graduação (no PPG em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia/HCTE).

Aceitei fazer parte da atual Reitoria, pois acreditei no projeto de Universidade e tive muito prazer em participar da equipe.

Durante minha gestão, não convidei servidores externos à PR-4.  Portanto, desenvolvi, junto com o Superintendente André Pereira, a construção de equipes contando com os próprios servidores da área.

Agora, com quase um ano de gestão, avaliei e constatei minha dificuldade de adequação à dinâmica de atuação da atual Reitoria, por isso, solicitei minha exoneração ao cargo de Pró-reitora de Pessoal. Em 3 de Junho a portaria foi devidamente assinada sem dificuldades.

A PR-4 representa a engrenagem que mistura ação e amor nas questões referentes aos servidores (docentes e técnico-administrativos), por isso, trata-se de um desafio do qual adquiri muitas experiências. Tive contato com muitos diretores de Unidades, coordenadores de Pós-graduação e chefes de departamentos, que aqui agradeço o apoio e a compreensão em meio às dificuldades, mas me senti muito realizada com os atendimentos diários de servidores ativos e inativos. Pude exercer as atividades de ouvir e propor soluções as muitas vozes dos ”invisíveis” que procuraram a PR-4.

Aproveito a oportunidade para registrar a responsabilidade e o envolvimento dos atuais servidores da PR-4, pois realizam suas atividades com muita dedicação.

Referente às novas expectativas, continuarei desenvolvendo os projetos de pesquisa, ensino e extensão frente à vice-coordenação do HCTE e também atuando no curso de graduação em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação/CBG.

Regina Dantas

Historiadora, Regina Dantas é técnica-administrativa da UFRJ desde 1985. Ela também é vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, programa inter-unidades, constituído principalmente pela Coppe, Instituto de Química, Instituto de Matemática e Núcleo de Computação Eletrônica (NCE). E professora colaboradora do mesmo programa.

 

Atividade na praça mostrou importância da Ciência para a sociedade

Ação de protesto contra a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação supera expectativa dos organizadores

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Silvana Sá
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Fotos: Claudia Ferreira 

No sábado (4), professores e estudantes da UFRJ realizaram uma série de experimentos e demonstrações no Largo do Machado, zona sul do Rio. O objetivo do ato era dialogar com a população carioca sobre a importância do trabalho de pesquisa das universidades e protestar contra o fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) ocasionado pela reforma ministerial do governo interino de Michel Temer. O “Ciência na Praça” foi organizado pela Frente da UFRJ contra a extinção do MCTI e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com o apoio da Adufrj-SSind.

Experimentos com ciências básicas, aulas de como manusear o microscópio e atividades lúdicas atraíram crianças e adultos. Fabio Waltenberg, professor de Economia da UFF, levou sua filha, a pequena Manuela. “Viemos porque tem bastante coisa voltada para as crianças. É uma forma de nos divertirmos juntos e principalmente porque sou completamente contra a extinção do ministério”, disse.

Muitos dos que circulavam pela praça não sabiam da extinção do MCTI. Flora da Silveira, aposentada, era uma delas: “Achei que o Temer só tinha feito isso com a cultura. A ciência é muito importante. Não sabia que o governo tinha mexido nela também”. Eduardo de Moraes, morador da região, também ficou sabendo da extinção da pasta a partir da atividade dos professores. “Isso teve pouca publicidade. Eu, particularmente, não sabia disso. Acho que foi uma decisão muito grave para o país”, disse.

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Ato também reuniu representantes de outras instituições de pesquisa

Trabalhadores da Fiocruz se somaram ao ato com palavras de ordem. Com gritos de “Fora, Temer”, eles chamaram atenção do público. Muitas pessoas aderiram ao protesto. O Espaço Ciência Viva, museu interativo de ciência que funciona na Tijuca, também se juntou ao ato dos professores. Houve, ainda, a participação de ativistas contra a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Tatiana Rappoport, professora do Instituto de Física da UFRJ e uma das organizadoras do evento, falou da necessidade de a universidade dialogar com a sociedade. “A UFRJ deveria estar semanalmente em praça pública, prestando conta de suas ações, mostrando sua importância”, avaliou. Ela considera que atividades de sensibilização são mais eficazes que outras ações que acabam interferindo negativamente no dia a dia da sociedade. “É importante levantar bandeiras, fechar ruas, mas nós estamos querendo trazer para nosso lado quem ainda não está sensibilizado ou quem ainda não sabia dos cortes nas áreas”, disse.

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Solução da crise está na educação, ciência e cultura

Diretor da Adufrj, Fernando Santoro foi categórico: “A solução das crises está na educação, na ciência e na cultura. O déficit fiscal não se resolve com corte nessas áreas”. Para ele, a receptividade das pessoas que transitavam pelo Largo do Machado se deveu a um fator principal: “O tom de defesa do ministério foi veiculado a partir dos valores positivos da universidade. Conseguimos sensibilizar as pessoas para o que pode ser prejudicado ou deixar de existir se a ciência, tecnologia e inovação, se a educação e a saúde forem colocadas como objeto de ajuste fiscal”.

Santoro também comentou o envolvimento dos professores e estudantes de pós-graduação. “Foi muito boa a participação. Tivemos diferentes áreas do saber atuando juntas, comprometidas em passar a mensagem contra o fim do MCTI. A comunidade da UFRJ está de parabéns. E o que conseguimos fazer com a população superou nossas expectativas”, disse.

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Campanha pela volta do MCTI conquista as redes

Elisa Monteiro
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Com menos de 48 horas no ar, a plataforma digital criada por professores da UFRJ contra a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação registrou o envio de mais de 350 e-mails para os parlamentares da comissão do Senado encarregada de debater o tema.

Outra iniciativa da campanha da Adufrj é a troca de fotos dos currículos Lattes por avatares com o lema “Fica MCTI”.

A ideia conquistou pesquisadores importantes de todo o país e repercutiu na imprensa nacional (confira abaixo alguns "recortes"): “A mudança da foto teve um impacto muito legal com representatividade em todo o Brasil, principalmente pela participação de pesquisadores como o ex-ministro Sérgio Rezende, Artur Ávila, Paulo Artaxo, Vanderlan Bolzani e o antropólogo Otávio Velho. São pessoas de referência. Muita gente está aderindo e manifestando a inconformidade com essa extinção sem qualquer discussão”, avaliou o vice-presidente da SBPC, Ildeu Moreira, professor do Instituto de Física da UFRJ, e um dos líderes do movimento.  

Com a hashtag #FicaMCTI, o protesto está no twitter, facebook, blogs e chegou à imprensa tradicional. Os principais jornais do país noticiaram o tema. Na manhã de terça-feira, 7, professores da UFRGS deram um abraço simbólico na universidade pela volta do Ministério. Outras agendas, como a mesa-redonda no Instituto Politécnico da Uerj nesta quarta-feira 8, chamam atenção para o tema.

Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Química, Vanderlan Bolzani diz que, se todos os cadastrados mudassem a foto no Lattes, demonstraria uma unidade entre colegas. “Seria importante para termos uma visibilidade como a alcançada pelo movimento de artistas”. Vanderlan externou sua contrariedade com a transformação da pasta em secretaria: “Não há como termos uma nação soberana e desenvolvida sem uma Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação fortes. Não há qualquer benefício em converter um Ministério, que sequer tem orçamento alto, em uma secretaria. Ciência, Tecnologia e Inovação são políticas de Estado”.

Para a pesquisadora, a pesquisa não pode ser encarada como custo, mas como investimento estratégico, inclusive na crise: “A produção de commodities como a soja só é possível graças ao avanço da Embrapa”.

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Reitor demite Ivan Marques da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Caiu também a pró-reitora de Pessoal, Regina Dantas

Silvana Sá
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A gestão Roberto Leher sofreu sua primeira baixa no dia 25. O reitor demitiu o então pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), Ivan da Costa Marques. O professor Ivan da Costa Marques, que tem 47 anos de sua vida dedicados à UFRJ, se surpreendeu com a decisão: “Passado o momento da indefinição eleitoral, logo percebi que a parceria em um projeto amplo de discussão sobre a pós-graduação e a pesquisa, por mim inicialmente imaginada, não correspondia bem ao que já estava planejado pela reitoria”, disse. “Mas, ainda assim, acreditei na possibilidade de um espaço de convivência construtiva, já que os projetos que logramos iniciar, assim como os atendimentos cotidianos, iam bem e em plena execução. Certamente minha exoneração interrompe procedimentos importantes, na minha opinião”, acrescentou o pró-reitor demitido.

A demissão ocorreu 15 dias depois de Ivan Marques ser o único da equipe da reitoria a se abster em uma votação que desrespeitou decisão da Faculdade de Medicina sobre a promoção de um docente daquela unidade ao cargo de Adjunto.

Na quarta, Leher escolheu a professora Leila Rodrigues, Titular do Instituto de História da UFRJ, para assumir a pasta. Ela é uma das coordenadoras do Programa de Pós-Graduação em História Comparada. Coordena, ainda, o Programa de Estudos Medievais. Seu nome será apresentado ao Conselho Universitário deste dia 9. Cabe ao Consuni a decisão final sobre quem assume a PR-2. Até lá, o professor João Graciano, decano do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, assume o cargo.

Outro lado

Em reunião na manhã de sexta-feira (3), no Conselho de Ensino Para Graduados (CEPG), o reitor explicou que exonerou o professor mediante as novas exigências da universidade a partir da extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. De acordo com o representante do CCJE no CEPG, professor Fábio Freitas, o reitor teria dado a entender que sua intenção é colocar um perfil “mais adequado” para buscar novas parcerias na captação de recursos especialmente para infraestrutura de pesquisa.

Em entrevista à reportagem da Adufrj, Roberto Leher voltou a dizer que trocou de pró-reitor porque a universidade tem desafios diferenciados a partir da extinção do MCTI. Ele negou que a demissão de Marques seja fruto de divergências políticas.  “O professor Ivan sempre mostrou muita afinidade com nosso projeto, mas hoje a pesquisa na universidade exige um trabalho de monitoramento, acompanhamento mais intenso. E uma maior articulação com a Capes na defesa de recursos Proap e Proex. A atuação do professor Ivan teve maior ênfase no debate mais amplo da ciência e na organização dos grandes temas”, disse.

A avaliação da Adufrj

A diretoria da Adufrj também se surpreendeu com a mudança repentina na equipe da reitoria. Para Carlos Frederico Leão Rocha, 1º vice-presidente da Seção Sindical e professor do Instituto de Economia, os fatos precisam ser melhor esclarecidos. “Devemos chamar atenção para o quão brusca e surpreendente foi a mudança, a inconsistência da justificativa e a surpresa dos conselheiros que realmente não esperavam. Conclui-se por uma agenda secreta e sugere-se falta de rumo”.

A carta de Marques

Em texto enviado à Adufrj, o professor Ivan Marques explica sua saída. Leia abaixo a íntegra da carta do professor.

Ivan da Costa Marques

Rio, 2 de junho de 2016

Entrei para a COPPE contratado pelo Professor Alberto Coimbra em janeiro de 1968, logo após a conclusão da graduação em Engenharia Eletrônica no ITA. Foi apoiado pela COPPE / UFRJ que pude fazer o mestrado e o doutorado em Berkeley (Universidade da Califórnia), em Engenharia Eletrônica e Ciência da Computação, concluídos em 1973. Dediquei-me desde então, até 1990, a diferentes atividades na UFRJ e, a partir de 1978, no governo, em empresa privada e em empresas estatais, mantendo sempre vínculo em tempo parcial com a UFRJ. Fiz isso munido dos referenciais da engenharia e da economia que, cheguei à conclusão após longo tempo, são, no meu entender, necessários mas insuficientes para suplantar a, digamos, colonialidade científico-tecnológica do Brasil.

De 1990 a 1992 estive na New School for Social Research (Nova York), na condição de visiting scholar, fazendo a travessia profissional que me permitiu incorporar as ciências ditas humanas e sociais em meus referenciais. Voltei ao Brasil e após três anos, a partir de 1995, passei a dedicar-me em tempo integral DE, na UFRJ, ao chamado campo CTS (ciências-tecnologias-sociedades) atuando no programa de pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE, um programa inter-unidades nascido da COPPE, IQ, IM e recentemente também incorporado pelo NCE).

Nas últimas décadas as ciências sociais e humanas, especialmente a antropologia, propuseram novos referenciais sobre a feitura das ciências e das tecnologias modernas. Convenci-me de que, apesar da lebre ter sido levantada na Europa e nos EUA, discutir estes novos referenciais em conjunto com os cientistas das ciências naturais, abriria brechas e oportunidades para que nossos coletivos pudessem tratar a colonialidade científico-tecnológica de maneiras mais autônomas e consequentes. Manter os referenciais de cada disciplina como compartimentos separados e estanques limita o leque das possibilidades da pós-graduação e da pesquisa no Brasil. Por exemplo, as condições de sucesso duradouro para os desenvolvimentos e aproveitamento das pesquisas nas engenharias brasileiras não são independentes das pesquisas nas ciências jurídicas brasileiras. Para ter sucesso genuíno é preciso juntar as pesquisas dos engenheiros e cientistas com as pesquisas dos advogados e juristas, porque os retornos possíveis do trabalho dos engenheiros não independem das leis vigentes no país. Digo que a lebre foi levantada lá porque foram os próprios europeus que “descobriram” isso nas últimas décadas, diante da China e da índia. Esses temas estão em minhas palestras e publicações e foram também já abordados em outras entrevistas que dei no momento de minha entrada na PR2.

Com desculpas pelo longo preâmbulo, fui convidado, no momento da disputa no segundo turno para as eleições de reitoria em meados de 2015, para compor a possível futura equipe dirigente da UFRJ, caso a chapa 20 fosse eleita. Vi neste convite para ocupar a pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa uma oportunidade de retribuir à UFRJ o que dela recebi em mais de 45 anos de vida profissional e, ainda mais, fazer isso na tentativa de colocar em pauta uma discussão renovada, abrangente e democrática, sobre a pós-graduação e a pesquisa na própria UFRJ e, porque não dizer, no Brasil.

Hoje, após minha exoneração em 25/05/2016, considero que pude encerrar mais um período de grande experiência na vivência universitária e logo aproveito esta oportunidade oferecida pela ADUFRJ para agradecer todos aqueles com quem trabalhei neste período, funcionários da PR2, integrantes do CEPG, coordenadores dos programas de pós-graduação, professores e estudantes que me procuraram com os mais diversos problemas, e também pessoas externas à UFRJ como as que compõem as Comissões de Premiação do Prêmio Gilberto Velho de melhor tese da universidade.

Eu e minha equipe buscamos sempre corresponder com todo zelo e dedicação às demandas que nos eram enviadas. Apesar de todas as dificuldades que atravessamos, especialmente as de cunho financeiro, amplamente conhecidas, é para mim uma enorme alegria poder afirmar que não tenho conhecimento de insatisfações com a PR2, tanto da parte de indivíduos quanto institucional­mente, da parte dos programas e do CEPG, muito pelo contrário. Nossa orientação sempre foi que cada demanda, de quem quer que viesse (professor, estudante ou funcionário), fosse imediatamente respondida, mesmo nos casos em que a solução da questão não fosse imediata, sempre prestando contas ao demandante e, muito importante, com transparência. Disse "muito pelo contrário" porque só ouvimos elogios a nossos procedimentos, não só por parte de funcionários e professores, como também por parte dos estudantes. Por exemplo, nos dois editais para distribuição de bolsas que tivemos a oportunidade de fazer, tanto os que ganharam como os que deixaram de ganhar bolsas declararam-se satisfeitos com as discussões e explicações nítidas e abertas sobre os critérios de distribuição, e contribuíram entusiasticamente para o aperfeiçoamento de tais critérios.

Por outro lado, é sempre muito difícil ter completo conhecimento do que se passa na vida de uma instituição do porte da UFRJ e não posso responder a questões que precisariam ser feitas diretamente para a atual reitoria, já que não fui consultado com antecedência sobre possíveis problemas ocorridos com a PR2.

Em solidariedade a mim, meus dois superintendentes, Eduardo Paiva e Henrique Cukierman, igualmente docentes do HCTE, pediram exoneração dos seus cargos logo na segunda-feira, dia 30 de maio, pela manhã. Cukierman é também docente da COPPE (PESC) e da Escola Politécnica. É claro que o reitor tem o direito de definir aqueles que compõem a sua equipe de trabalho. Passado o momento da indefinição eleitoral, logo percebi que a parceria em um projeto amplo de discussão sobre a pós-graduação e a pesquisa, por mim inicialmente imaginada, não correspondia bem ao que já estava planejado pela reitoria. Mas ainda assim acreditei na possibilidade de um espaço de convivência construtiva, já que os projetos que logramos iniciar, assim como os atendimentos cotidianos, iam bem e em plena execução. Certamente minha exoneração interrompe procedimentos importantes na minha opinião, mas ninguém é insubstituível e faço votos que tudo seja encaminhado da melhor forma possível pois, afinal, somos todos UFRJ.

Quanto ao que pretendo fazer, não me faltam tarefas! Algumas que sofreram várias interrupções durante este período: orientações, aulas, grupo de pesquisa, além das minhas atividades relacionadas aos estudos sobre a construção de conhecimento em nossas universidades, aos quais me referi no início desta entrevista. Temos uma associação brasileira destes estudos - ESOCITE.BR - da qual sou presidente. A ida para a PR2 interrompeu também a escrita de um livro visando contribuir para colocar em cena novos ângulos nas abordagens das pesquisas científico-tecnológicas no Brasil. Vou agora poder retomar também esta tarefa. 

 

 

 

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