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Comissão combate violência e preconceito nos campi

Texto e fotos: Elisa Monteiro
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“Não é que o racismo não acontecesse, mas, com as cotas, se potencializam os casos de violência”, avaliou Luciene Lacerda, psicóloga do Departamento de Bioética do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, durante o evento que lançou, neste dia 31, uma comissão interna de combate às opressões e à violência na UFRJ.

Medicina, Engenharia e Direito são cursos tradicionais. Correspondem também aos locais dos depoimentos mais fortes de violências sofridas por estudantes. “Aqui não é o seu lugar”, disse uma veterana da FND para Gabriela Barreto em seus primeiros dias no curso, em 2014. Em 2015, a estudante passou a compor o Coletivo Negro Claudia Silva Ferreira.  Seu depoimento, no encontro promovido pela reitoria, apontou a violência simbólica da quase completa ausência de docentes negros na faculdade.

Em separado, a jovem conta do exercício de conscientização trabalhado entre alunos: “Nós fazemos uma brincadeira de observar quantos negros sobem e descem a escada da FND. Nós nos identificamos com a pessoa da limpeza, o cara que guarda carros”. Mentalmente, Gabriela soma quatro nomes de docentes negros, apenas uma mulher. Do seu campo de preferência, Direito Penal, não recorda de um autor negro ou autora. “Eu tenho que estudar Direito Romano e quase nada sobre a sociedade brasileira”, critica.

Para a jovem, a falta de informação dificulta direitos elementares como o acesso a um órgão da universidade, como a Ouvidoria-Geral. Segundo ela, na FND, são comuns as denúncias de opressão e violência serem abafadas ou se reverterem em perseguições: “Quando você vai à coordenação, pedem que você prove. E o professor te reprova na disciplina. Aconteceu comigo”.

IMG 9076bGabriela Barreto, Cissa Soares e Paula Rodrigues relataram casos de violência em unidades tradicionais da UFRJ

“A Medicina é o curso das piadas do cospe ou engole, de que mulher para ter vaga em ambulatório ou fazer exame tem que jogar charme”,  depõe Cissa Soares, estudante do curso e participante do Coletivo Mulheres (e Trans)de Março. Um conservadorismo que se reflete na grade curricular é criticado: “A saúde trans(dos transexuais) não é questão. A grade se recusa a tratar dos hermafroditas por serem considerados raros. Bioética é opcional”. Segundo a jovem, que participa também da Comissão de Direitos Humanos aprovada na Congregação da Medicina, o assédio no curso, além da conotação sexual, desqualifica profissionalmente as mulheres. Como se não bastasse, o trote possui histórico de violência.

Violência em festas

Recorrentes denúncias de abusos e assédio durante a festa estudantil da Engenharia Naval provocaram a formação do Coletivo de Mulheres “ComCiência”, em novembro de 2015. De acordo com Paula Rodrigues, uma de suas integrantes, o último evento teria chegado a socos e chutes em uma estudante. “O Centro Acadêmico montou uma tenda com oito mulheres e uma segurança para circular no evento, coibindo situações do tipo”. Ironicamente, uma das ocorrências apartadas pelas mulheres foi a de um segurança atacando um casal de lésbicas. O caso foi parar na delegacia.

A estudante compartilhou as dificuldades que as mulheres ainda enfrentam no curso. “Você ouve que mulher está roubando vagas dos homens, que tudo de errado no país é por ter uma mulher na presidência, que você tem um rosto bonito demais para estar na sala de aula com homens”.  De cabeça, Paula se lembra de apenas duas professoras mulheres.  Paula avalia que o pouco peso da representação estudantil (15%) na eleição para dirigentes universitários contribui para bloquear mudanças de mentalidade: “São sempre as mesmas pessoas sendo eleitas”.

Campanha “Não se cale”

O evento realizado no auditório do CCMN (Roxinho) faz parte da campanha “Não se Cale”, lançada no início do mês de maio. E contou com a participação do reitor Roberto Leher: “A universidade é o espaço do conhecimento e deve difundir valores libertários”.  Leher repudiou “qualquer manifestação de ódio e intolerância”, argumentando que “o não reconhecimento da alteridade impede uma universidade pulsante”. Questionado sobre a proposta de divisão da Comissão por subgrupos temáticos: raça, gênero, trabalho, política estudantil e LGBTT, o dirigente afirmou que a agenda “corresponde a movimentos sociais já com expressão de demandas na universidade”. Participaram da mesa ainda Cristina Riche (Ouvidoria) e Elidio Borges (Superintendência Geral de Políticas Estudantis).

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Professores preparam protestos contra medidas do governo interino

O governo interino de Michel Temer ameaça conquistas históricas dos defensores da universidade pública e gratuita. Dois dos principais ataques – o fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a desvinculação das verbas da educação ­ já mobilizam a comunidade acadêmica da UFRJ. Desde a semana passada, a Adufrj prepara uma série de eventos em toda a cidade e convoca os colegas para dizer um sonoro não à sensação de que estão metendo a mão em nossos direitos.  

Na tarde da próxima quinta-feira, dia 2, haverá um ato no Palácio Capanema, no Centro do Rio, contra a proposta governamental de desvincular recursos do orçamento da Educação. O protesto é organizado pela Adufrj e pelo Fórum de Ciência e Cultura da universidade.

Com o lema “Tire a mão da Educação! E da Saúde, da Ciência e da Cultura!”, o evento está marcado para começar às 14h no prédio que já conquistou a fama de centro de resistência contra a extinção do Ministério da Cultura, mais uma das medidas inaugurais do governo interino. Com a participação de docentes de diversas áreas, o ato terá uma aula pública sobre a importância da vinculação constitucional mínima para a Educação.

A Carta Magna determina que o governo federal destine à educação, no mínimo, 18% da receita líquida dos impostos, já descontado o percentual transferido a Estados e municípios. Esse cálculo não inclui outras receitas do governo que não os impostos, como as contribuições sociais. Em 2015, por exemplo, o governo gastou 22,96%.

Como exemplo da importância dos investimentos na área, também será mostrado o trabalho da universidade no combate ao vírus zika — assunto noticiado no primeiro número do novo Jornal da Adufrj. Professores da Faculdade Nacional de Direito, por sua vez, vão lançar um olhar constitucionalista sobre o tema da vinculação orçamentária. Apresentações artísticas completam a programação.

Ciência na Praça

No sábado (4), a Adufrj, a Frente da UFRJ contra a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) organizam um outro evento contra o governo interino. O “Ciência na Praça” acontecerá no Largo do Machado, de 10h às 14h. Nesta atividade, o foco será a luta contra a extinção do MCTI – que sofreu, no governo Temer, a fusão com o Ministério das Comunicações. Haverá oficinas e atividades lúdicas para crianças.

protestos por toda parte

Tire a mão da Educação Quinta-feira, 2 de junho

14h, Palácio Gustavo Capanema, Centro

Confira detalhes do evento em: https://www.facebook.com/events/711828178919864/  

Ciência na Praça

Sábado, 4 de junho 

10h às 14h, Largo do Machado, Zona Sul

Confira detalhes do evento em: https://www.facebook.com/events/271867849826134/ 

Primeiro encontro de um ciclo de debates promovido pela mobilização de professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, em colaboração com o Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF) da UFF, do IFCS e do CBAE.



Descubra e divirta-se na Casa da Ciência

Exposição faz crianças aprenderem conceitos da física de modo criativo

Samantha Su
Estagiária e Redação
Fotos: Divulgação/Casa da Ciência 

Como levantar um peso maior que o do próprio corpo? Como criar hologramas através dos espelhos? Ou fazer girar de modo mais veloz? As respostas para estas perguntas podem ser conferidas através de experimentos criativos na Casa da Ciência da UFRJ até o dia 18 de dezembro desse ano.

A exposição “Descubra e Divirta-se” tem por objetivo estimular o conhecimento científico de forma aplicável no cotidiano. Professora do Colégio Santo Amaro, Denise Marques compareceu ao local com seus alunos e elogiou a iniciativa: “Para eles, é ótimo interagir, porque estimula. Levamos em museus e eles não podem tocar nas coisas. Aqui, eles utilizam os objetos”. Ela completou: “Acho que é o tipo de passeio que vira um projeto de extensão da escola. Traz um enriquecimento sobre o que dizemos em sala de aula para o dia a dia”, disse.

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Segundo a assessoria da Casa da Ciência, a maior parte das visitações é de escolas. E a proposta é estimular isso ainda mais: quando acabar a greve da educação estadual, a UFRJ vai enviar convites da exposição aos colégios públicos.

A mostra conta com 24 auxiliadores, responsáveis por explicar os mecanismos de cada invenção. Eles foram escolhidos através de um processo seletivo e são bolsistas de Engenharia, Física e Pedagogia da UFRJ. “Aqui funciona também como um estágio de docência. O mais legal é que são pessoas de áreas diferentes, com olhares diferentes sobre a ciência. Os estudantes que vieram da Pedagogia têm uma didática diferente. As da Física e da Engenharia contribuem com outro olhar”, explicou Daniele Fialho, que atua no setor educativo da Casa.

Algumas das invenções expostas são: o Descanso de Faquir, cadeira de pregos que não causa dor a quem nela senta; e o Supermuque de Arquimedes, que, diz a lenda, possibilitou a um rei, sozinho, puxar um navio. Projeções em espelhos, eletromagnetismo, velocidade, estática, mecânica e movimento são conceitos aplicados em outros experimentos.

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Para Lucas Tadeu, aluno do 6º ano do Colégio Santo Amaro, a experiência mais interessante foi a do jogo de sombras “A gente está acostumado que as sombras nos sigam. Lá dentro, elas ficam paradas”, afirmou.

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A exposição é gratuita e funciona de terça a sexta, de 9h às 20h, e de 10h às 20h nos finais de semana e feriados. A Casa da Ciência fica na Rua Lauro Müller, 3, em Botafogo.

 

UFRJ contra a extinção do MCTI

Professores das mais diversas áreas do conhecimento comparecem ao ato de lançamento de uma frente da universidade contra o fim do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação

Fotos: Claudia Ferreira

Texto:Silvana Sá
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A UFRJ lançou no dia 25 de maio, diante de um auditório lotado, a Frente contra a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A atividade, que teve o apoio da Adufrj-SSind, foi proposta por professores na última assembleia geral da categoria (em 17 de maio). Trata-se de uma reação da comunidade acadêmica à fusão anunciada pelo governo interino de Michel Temer entre os ministérios das Comunicações e da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O objetivo agora é expandir a iniciativa para outros institutos, universidades e fundações de pesquisa. Mais que uma atividade contra a dissolução do MCTI, a ação foi importante por unir docentes e pesquisadores de todos os Centros da UFRJ. Outras ações da Frente e notícias sobre o MCTI podem ser encontradas no Blog da Adufrj recém-lançado para tratar do assunto: www.adufrj.org.br/mcti/.

Ildeu Moreira, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professor do Instituto de Física da UFRJ, é um dos idealizadores da Frente. Para ele, além do lançamento deste movimento, é preciso que professores e pesquisadores realizem outras atividades contra a extinção do MCTI. “Quero chamar atenção para a urgência de nossas ações. As coisas já estão acontecendo. Precisamos nos articular com outros setores, com outras áreas. Conversar em nossas unidades, com nossos alunos, com nossos colegas. Em nome da SBPC, eu digo que vamos fazer essa briga em nível nacional”, declarou. Ele sugeriu que os pesquisadores organizem um dia de mobilização nacional com abraços a prédios históricos ligados à ciência e que a comunidade científica faça pressão nos parlamentares para que o governo interino abandone a ideia de fundir o MCTI às Comunicações.

A presidente da Adufrj-SSind, Tatiana Roque, reforçou o caráter de diálogo com a sociedade proposto pela Frente, que também busca sensibilizar a população para a defesa da universidade: “Além da defesa do Ministério, esta é uma oportunidade de mostrar para a sociedade o que fazemos. Aumentar o envolvimento da sociedade no desenvolvimento da ciência”, disse. Ela enfatizou o papel da Adufrj-SSind de potencializar as iniciativas dos professores da universidade. Ela observou que a ideia de criação da Frente teve origem na mobilização surgida contra a extinção do Ministério da Cultura.

Luiz Bevilacqua, professor emérito da Coppe, demonstrou a preocupação da comunidade científica com as perdas para a ciência a partir da extinção do MCTI: “Destruir um processo de desenvolvimento da Ciência e Tecnologia é retroceder em anos na história. Leva-se muito tempo, décadas, para recuperar o que foi perdido”. Para o docente, a fusão dos ministérios das Comunicações e da Ciência, Tecnologia e Inovação é “absolutamente inadequada”. O MCTI, para o professor, preserva uma das poucas políticas de Estado: “Estamos espalhando conhecimento pelo país. A gente não pode parar com isso”.

Ele apresentou alguns indicadores que demonstram o salto da pesquisa no país: o número de docentes de pós-graduação, de 2006 a 2010, no Centro-Oeste, cresceu 113%; no Norte, 118%; no Nordeste, 119%; no Sudeste, 58%. Houve salto, também, no número de estudantes de pós: 121% no Centro-Oeste; 158% no Norte; 135% no Nordeste; 41% no Sudeste. Bevilacqua citou, ainda, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia implantados em todas as regiões do país e com grande expansão no Norte e Nordeste.

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, relacionou a fusão dos ministérios a uma reforma do Estado. “Trata-se de uma reforma de Estado, feita de forma unilateral, por um governo interino. O deslocamento do MCTI para um âmbito inferior (uma secretaria) não se trata de custo. É uma economia irrisória. É um deslocamento do lugar de importância da ciência e tecnologia". No mesmo dia 25, a reitoria divulgou nota em defesa do MCTI (https://goo.gl/HJP2ok).

Professora da Faculdade de Letras, Beatriz Resende também participou da atividade de lançamento da Frente e chamou atenção para a falta de informações sobre o funcionamento da nova estrutura proposta pelo governo federal. “Primeiro vem a pergunta: de que tipo de comunicação eles falam? Como se dará essa fusão? Lançam um ministério e não dizem o que é, não explicam. Isso não está claro”. Ela também falou do crescimento da pesquisa em sua área, a despeito dos parcos recursos. “As verbas diminuíram, mas houve crescimento extraordinário na pesquisa. A qualidade da pesquisa que vem sendo feita no Norte e Nordeste é absolutamente exemplar. Mas, com essa política (de fusão), a área das Humanidades está ameaçadíssima”.

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Demanda histórica

José Sérgio Leite Lopes, diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos e professor do Museu Nacional da UFRJ, lembrou que a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, que posteriormente agregou também a Inovação, era uma demanda antiga do movimento pelo progresso da ciência. Seu pai, o físico José Leite Lopes, foi um dos que lutaram na década de 1960 pela criação do ministério: ele escreveu um artigo defendendo a importância da iniciativa. Algo que se consolidou somente em 1985. “Esse ministério era uma demanda desde o início do século XX, quando começou a se desenvolver com força a ciência no país. Em 1985, esse ministério é finalmente criado, refletindo a força da comunidade científica brasileira”.

O crescimento do acesso de estudantes de baixa renda à universidade foi apontado como um avanço que será destruído pelas ações do governo interino. Assim como a existência de uma política que fomente a ciência no país. “Se, por um lado, o neoliberalismo precisa do desenvolvimento da ciência; por outro, é contrário ao nacionalismo implícito no movimento de criação do ministério. Há uma atuação política no sentido de garantir e reforçar a ação do mercado privado na Ciência e Tecnologia, como já existe nas Comunicações. Isso reflete o medo que eles têm da autonomia universitária, científica, da autonomia criativa da ciência”.

Em maio de 1985, foi criado o então Ministério da Ciência e Tecnologia. Trinta e um anos depois, foi anunciada sua extinção. Quem chamou atenção para a coincidência de datas foi a professora do Instituto de Bioquímica Médica, Débora Foguel. Ela, que foi pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ entre 2011 e 2015, criticou duramente a decisão do governo Temer. “A Academia (Brasileira de Ciências) fez cem anos e o presente que este governo ora nos dá é a fusão do MCTI às Comunicações. É muito triste ver a forma como somos tratados, especialmente ao vermos o avanço da Ciência e da Tecnologia nas várias áreas do saber. Não podemos perder os especialistas e os programas que temos. Estão prontos para resolver os problemas da nação e os problemas vindouros”, disse. Como exemplo, ela citou as recentes pesquisas sobre o vírus zika que ganharam as páginas de revistas científicas internacionais.

Em defesa do futuro

Diretor Científico da Faperj e professor do Instituto de Bioquímica Médica, Jerson Lima afirmou que a decisão de acabar com o ministério não dialoga com a proposta do governo interino de modernizar o país. “Se era intenção desse governo interino fazer ‘uma ponte para o futuro’ por que não copiou algumas ações de países desenvolvidos?”. Ele citou o exemplo da Áustria, onde o ministério mais importante é o Ministério da Ciência, da Pesquisa e da Economia. “Lá, eles têm poucos ministérios, mas esse é o mais importante”.

Lima citou também o crescimento da Ciência e Tecnologia durante os 31 anos de existência do ministério. “A ciência e a pesquisa cresceram dez vezes no Brasil nesse período. Essa fusão é difícil de entender, de explicar. Se a gente quiser tirar essa dependência do país das commodities temos que investir em C&T”. Os últimos 15 anos foram caracterizados pelo docente como de grandes avanços na área: “Os institutos nacionais de ciência e tecnologia estão na ponta do desenvolvimento. O sucesso da produção acadêmica e da ciência brasileira foi para as páginas das revistas internacionais”. No entanto, os anúncios de desvinculação da receita para educação e ciência e tecnologia no âmbito estadual e federal também geram preocupação: “Isto vai acabar com as fundações de amparo à pesquisa por todo o país. Esse gesto não tem nada dessa suposta intenção de criar uma ponte para o futuro”.

Romildo Toledo, vice-diretor da Coppe, classificou como “esdrúxula” a junção do MCTI às Comunicações: “Que modelo de desenvolvimento econômico o país quer com esse tratamento dado à C&T? A inovação no Brasil ainda é muito incipiente, está no berço e precisa de políticas para seu desenvolvimento. É preciso lutar para que essa decisão seja revista. As gerações futuras serão penalizadas”.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor de Relações Institucionais da Coppe, fez o discurso mais político do evento: “O Brasil anda pra trás. Isto (a extinção do MCTI) está dentro de um contexto muito ruim. O golpe branco, que tirou uma presidente da República honesta, impõe interesses contrários aos interesses do país. Privatização das empresas estatais, cortes no Estado, eu acho que muitas coisas ruins estão se configurando”.  Ele completou: “É preciso pensar no que se pode fazer: muito mais do que se recriar um ministério de C&T. Temos que fazer pressão para que sejam mantidos os recursos para a Ciência e Tecnologia. Se não lutarmos, provavelmente não teremos o mínimo necessário para a manutenção da qualidade da pesquisa nacional”.



Mais depoimentos pró-MCTI durante o ato

Pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, falou seu coordenador Carlos Vainer. Ele felicitou a iniciativa da Frente. “Esse é o Fórum de Ciência e Cultura que sonhamos. A universidade unida em sua diversidade para discutir e intervir nos problemas sociais”, disse. Ele considerou que houve um golpe institucional “contra a perspectiva de desenvolvimento social e econômico do nosso país, contra um projeto de nação”. Para Vainer, a extinção de ministérios como o MCTI e o MinC (recém-recriado) é um ataque também à educação como um todo e à universidade pública. “Estamos no olho do furacão. A luta é aqui. Temos uma luta extraordinária a travar”.

Jussara Miranda, coordenadora do Programa Químico do Petróleo e Biocombustíveis do Instituto de Química, alertou para os impactos imediatos da extinção do MCTI. “Vamos ter bolsistas que não vão receber em junho e não vão ter como continuar suas pesquisas. Não são bolsistas futuros; são os atuais”. Ela explicou que essas bolsas são constituídas com recursos da Finep (ligada ao extinto ministério), repassados à Agência Nacional do Petróleo (ANP) que providencia os pagamentos. “É preciso que tenhamos ações urgentes. Bolsas do CNPq em breve terão cortes, segundo informações que obtivemos”.  O programa ao qual a professora é vinculada é um Programa de Recursos Humanos da ANP para o setor de petróleo e Gás. É um dos 55 existentes no Brasil e um dos nove da UFRJ.

Presidente da Associação Brasileira de Antropologia e professor do Museu Nacional da UFRJ, Otávio Velho também propôs ações para barrar o que chamou de “desmonte do processo civilizatório”. “A ciência e a tecnologia são o ponto fundamental para o desenvolvimento social”.

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