facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Livro resgata músicas populares que contam a história do Brasil República

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo Lula, Franklin Martins encontrou uma forma original de abordar a República brasileira em seu livro “Quem foi que inventou o Brasil?”. A obra narra a trajetória política e cultural do país por meio de 1.113 músicas populares gravadas entre 1902 e 2002. “Não sou musicólogo ou especialista da área, meu viés é a política”, alertou, no início de palestra organizada pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Para Franklin, a riqueza de boa parte do acervo musical brasileiro do período estudado está em seu lado cronista. “É comum encontrar pelo mundo canções sobre políticas em períodos de grandes conflitos sociais ou revoluções”. “Mas a marca brasileira está no registro de fatos e acontecimentos políticos, econômicos ou de comportamento fora desses grandes momentos”.  O jornalista escritor atribui esta particularidade à forte tradição oral: “O Brasil não tem tradição de gráficas, universidades ou imprensa”, argumenta. “Isso se reflete até na ausência de partituras. Várias delas fui encontrar em livros de Portugal”.

A sátira como resistência

Outra característica do cancioneiro nacional está no humor ao narrar o dia a dia. “A oralidade é algo que se mantém externo ao poder, uma brincadeira de fora”. E quando os primeiros discos prensados chegaram, no início do século XX, o caldo cultural da crônica já estava consolidado e encontrou na grande festa de rua do carnaval o seu principal vetor. “Quando o carnaval deixa de ser uma festa dançante de baile para ser uma festa brincante (afinal, ninguém dança carnaval, as pessoas pulam o carnaval), as letras humorísticas sobre fatos marcantes do cotidiano fazem enorme sucesso”.

A parceria entre humor e cronismo é mantida, com mais ou menos calor, pelos subsequentes baião, bossa nova e até (em algumas) das chamadas canções de protesto, durante a ditadura. Até que o rock de Raul Seixas, Renato Russo (já com a banda Aborto Elétrico, no final dos 1970) e companhia assume a liderança entre as músicas que abordam política.

Em sua visão, desde os anos de 1990, o rock “e a classe média” perdem espaço na contestação social para sons produzidos pela periferia como o rap, hip-hop, funk, reggae e até mesmo o brega. A explosão da produção musical graças à redução dos custos, em função da tecnologia, teria sido, inclusive, uma das razões para o recorte temporal do livro de Franklin. “A partir da década de 90, com a fragmentação das gravadoras pelo barateamento do custo para se fazer um álbum, ficou impossível fazer uma pesquisa exaustiva”. Outra razão para fechar a pesquisa entre 1902 a 2002 (ano anterior ao primeiro mandato do PT na presidência) foi o desejo de certo “distanciamento”.

Mas e o presente?

O palestrante rechaçou a noção de que a música popular brasileira contemporânea é despolitizada: “Quando o rock começou também diziam que os meninos não falavam nada com coisa nenhuma. Isso acontece com tudo que é novo. Acho equivocado dizer que a música atual não trata de política”. E continuou: “Se você procurar, vai encontrar músicas sobre o mensalão, sobre a Lava-jato, sobre a reação da classe média aos direitos conquistados pelas domésticas, sobre a bolinha de papel na cabeça do Serra ou sobre o Aécio”.

IMG 9673Foto: Elisa Monteiro - 09/11/2015

Ditadura: um capítulo à parte

 Em relação à censura do período ditatorial, Franklin afirma que a grande maioria, senão a totalidade, da produção musical pôde ser gravada a partir dos últimos anos da década de 1970. Em seu livro, as músicas aparecem na ordem cronológica das composições com referência a quando puderam ser gravadas. “Quis preservar o tempo do artista”, explica. O triste momento, como se (pouco) sabe, foi de estórias curiosas.

Muitas músicas buscaram e algumas conseguiram burlar os censores,como Pesadelo, de Paulo Sergio Pinheiro com seus versos: “Quando o muro separa, uma ponte une. Se a vingança encara, o remorso pune. Você vem me agarra, alguém vem me solta. Você vai na marra, ela um dia volta. E, se a força é tua, ela um dia é nossa”,  veio a público graças a um contrabando. Paulo Sergio enfiou a letra na pasta do colega nunca censurado Agnaldo Timóteo. Passou.

Outras tiveram destino inverso: Pare de tomar a pílula, de Odair José, ficou na geladeira. “Coincidiu com uma campanha dos militares de controle de natalidade”, explica Franklin. Seu Waldir, da banda Ave Sangria, foi considerada excessivamente provocativa pela conotação homossexual.

História para os ouvidos

Sobre o levantamento que rendeu três volumes generosos, publicados pela editora Nova Fronteira, Franklin relata que perseguiu muitas vezes pistas sutis. A revolta da Chibata, por exemplo, escondeu-se, por anos do jornalista, sob o título “Os reclamantes” na canção de Eduardo das Neves. Ele conta que, ao longo de mais de uma década de pesquisa, a internet e o auxílio precioso de colecionadores e amantes anônimos da música contribuíram para seu interesse por arquivos de áudio evoluir “de um hobby para um trabalho sério, até uma obsessão”.

 Na página eletrônica http://quemfoiqueinventouobrasil.com/, a maioria das gravações pode ser conferida em arquivos de áudio digitalizados também: “Tudo que é de domínio público está na íntegra. Os que são limitados por direitos autorais estão, ao menos, em trechos”.

Crise de limpeza atinge UFRJ

Estrangulada pelo contingenciamento de R$ 70 milhões já empenhados, no final de 2014, e mais R$ 70 milhões no início de 2015, a administração central da UFRJ cobra do MEC que honre seus compromissos. Foi o contingenciamento de verba já autorizada para ser gasta, em 2014, que deu origem aos primeiros atrasos em pagamentos a empresas de limpeza e segurança, que, por sua vez, não tinham as reservas exigidas pelos contratos assinados com a universidade

Enquanto o dinheiro não chega, a comunidade acadêmica sofre os efeitos da falta de pagamento aos terceirizados do setor de limpeza (da empresa Venturelli) que, sem receber salários, obviamente deixaram  de trabalhar. O resultado são pilhas de lixo na paisagem universitária.

A combinação de orçamento curto com a contratação de empresas de trajetórias questionáveis potencializa a crise. A Venturelli, por exemplo, que diz possuir sede em Manaus, declara no seu site ser empresa de prestação de serviços e de consultoria em contabilidade. Apesar de sua especialidade não ser a de serviços gerais, ganhou a concorrência pública emergencial feita pela UFRJ para atuar nessa área.

Ela veio substituir as empresas Qualitécnica e Higi Time – que também deixaram de arcar com os direitos trabalhistas de seus funcionários e foram responsáveis por atrasar em duas semanas o início do primeiro semestre letivo na universidade.

Licitações não são centralizadas

A Pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6) é responsável por 130 contratos com empresas terceirizadas, mas as licitações, na UFRJ, ainda não são centralizadas. A Prefeitura Universitária e o Hospital Universitário, por exemplo, também realizam licitações e contratações. Isto dificulta tanto a fiscalização, quanto a sistematização dos procedimentos, com impacto nos custos.

Segundo o pró-reitor Ivan Carmo, a meta, agora, é centralizar todos os contratos. “Ao fim de cada um desses contratos, a PR-6 centraliza a nova li- citação. Estamos fazendo esse movi- mento para racionalizar as compras, os processos licitatórios”, explicou.

Atualmente, a universidade conta com cerca de cinco mil trabalhadores terceirizados, que são pagos com as verbas de custeio. “Mais da metade dessas verbas acaba se destinando, no fim das contas, para pagamento de pessoal”, disse .

Sobre as exigências para contrata- ção das empresas, o pró-reitor disse que, para serem habilitadas a concor- rer em uma licitação pública, é neces- sário que comprovem possuir caixa suficiente para arcar com os custos de seus funcionários.

Uma das cláusulas dos contratos de terceirização prevê a possibilidade de o ente público contratante atrasar o pagamento por até 90 dias, devendo a empresa arcar com todos os custos de seus trabalhadores.

Mas como explicar, então, os recorrentes problemas de caixa apresentados pelas empresas como justificativa para não pagar a seus funcionários?

O pró-reitor admite que a lei facilita as coisas para as empresas: são consi- deradas, para efeitos de comprovação de liquidez, promessas de pagamento. Se a empresa tiver contratos com outros entes públicos (é o caso da Venturelli), esses valores (que só serão repassados no futuro) servem como lastro para demonstrar que a empresa pode arcar com os 90 dias de eventual atraso do pagamento da instituição pública.



No link, o pró-reitor Ivan Carmo dá mais detalhes sobre o contrato emergencial com a Venturelli, explica como funciona o Cadastro Nacional de Firmas Inidôneas e fala sobre a impossibilidade de contratação de cooperativas, em vez de empresas terceirizadas.


 

Nova audiência no MPT ocorre dia 19

Uma nova audiência no Ministério Público do Trabalho está marcada para 19 de novembro em mais um capítulo envolvendo a Venturelli e a UFRJ, segundo informações da Pró-reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3). Este é o novo prazo do MPT para a empresa quitar todos os pagamentos devidos aos funcionários terceirizados.

Segundo Terezinha da Costa, vice-presidente da Associação dos Trabalhadores Terceirizados (ATTUFRJ), a empresa pagou apenas um salário (que seria do mês de setembro) mais alguns dias de agosto. E nada de vale-transporte e tíquete-alimentação. Em torno de 180 funcionários teriam ficado sem qualquer pagamento.

No dia 3 de novembro, o MEC repassou R$ 19 milhões à UFRJ. Deste montante, R$ 6,2 milhões foram destinados ao pagamento de empresas terceirizadas — a Venturelli recebeu R$ 690 mil. E, em outubro, segundo a assessoria da reitoria, a UFRJ havia pagado à empresa outros R$ 200 mil. O valor total da dívida da universidade com a Venturelli ainda está em cálculo, por conta dos dias parados e quebras de cláusulas contratuais, de acordo com a reitoria.

UFRJ arrecada mais de R$ 40 milhões, por ano, com aluguéis

Aluguel da área para o Cenpes, da Petrobras, é uma das fontes de recursos para a UFRJ

União começou a “morder” o dinheiro em 2014

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Com orçamento estrangulado, a comunidade acadêmica pergunta pelos recursos próprios da universidade. E o aluguel em terrenos da instituição, face mais visível, é lembrado como uma das primeiras fontes de receitas. Afinal, para onde vai o dinheiro arrecadado com prédios como o Cenpes (da Petrobras), instalados na Cidade Universitária? E quanto à exploração comercial de espaços menores, como lanchonetes, fotocopiadoras, bancos?

De acordo com pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6), a porta de entrada para cada centavo é uma só: a conta única da União. “Todo tipo de cobrança e arrecadação dentro do serviço público tem de ser feito através de Guia de Recolhimento da União (GRU). Não passa pela administração”, esclarece Hélcio Gomes, diretor da Divisão de Gestão Patrimonial.

O valor arrecadado pela universidade via aluguéis nos últimos anos orbita os R$ 40 milhões. Foram mais de R$ 42 milhões em 2012 e 2013 (R$ 42.127.519,78 e R$ 42.123.079,78 respectivamente) e quase R$ 44 milhões em 2014 (R$ 43.993.840,12). Para 2015, a previsão é de R$ 44.822.944,28. Este montante é praticamente 10% do limite orçamentário da UFRJ aprovado pelo Consuni para o mesmo ano: R$ 438 milhões.


Valor arrecadado via aluguéis pela UFRJ

2012    R$ 42,12milhões

2013    R$ 42,12 milhões

2014    R$ 43,99 milhões

2015    R$ 44,82 milhões (previsão)


A PR-6 explica que a administração central dispõe de duas maneiras para lidar com a exploração econômica dos imóveis da UFRJ: concessões ou permissões de uso. As concessões “geram uma renda mais considerável” e correspondem a uma maior afinidade com as atividades-fim da universidade. São os casos do Parque Tecnológico e do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello). Até o final do ano, as catorze empresas no Parque, por exemplo, devem pagar um total de R$ 3.845.231,25 pelo espaço que ocupam no Fundão. Já os Cenpes 1 e 2 e um posto de gasolina (de bandeira Petrobras) têm contratos somados em R$ 4.962.972,80.

Contratos distintos

O diretor de patrimônio explica que, uma vez licitados os terrenos da universidade, o vencedor constrói e, findo o prazo, tudo que for feito passa a fazer parte do patrimônio. “Caso haja interesse da instituição, o acordo pode ser renovado”. Hélcio destaca ainda que as concessões tratam de “longo período”. O contrato com o Cenpes, por exemplo, é de 50 anos (2004-2054).

O Parque Tecnológico possui algumas excepcionalidades: “Além de um valor mensal e de tudo que for feito ser convertido para universidade, cada uma das empresas no Parque tem que aportar R$ 15 milhões em cinco anos”, observa Tiago Moreira (responsável pelo setor de contratos).  “Mas isso não é em dinheiro”, ressalta, “e, sim, em bolsa, programas de estágio, de pesquisa”.

Outra diferenciação está em cláusulas contratuais que limitam a concorrência às iniciativas ligadas à pesquisa e à área tecnológica. “Inclusive, há uma prova do próprio Parque Tecnológico que dá nota para as empresas, avaliando se atendem às exigências”. A última licitação realizada teve a Ambev como vencedora. Além disso, os contratos do Parque são os únicos com prestação de contas e cópias digitalizadas na íntegra disponíveis no site da UFRJ.

De acordo com informações da PR-6, a relação entre a universidade, o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) encontram-se “em fase de rediscussão”. Os contratos, contudo, não estão sob controle da PR-6. O do Cepel, com validade de 60 anos (1983-2043), garante recolhimento pela Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). Em relação ao Cetem, os servidores desconhecem os pagamentos: “A última informação que temos é que houve um acerto junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia para bolsas”. “Mas, em ambos, houve reuniões recentemente para rediscutir os termos de acordo”, destacou Tiago.  

Avenida Chile 330 rende o maior aluguel

O carro-chefe dos aluguéis é a Ventura Corporate Towers, modernos edifícios construídos em terreno da UFRJ na Avenida Chile 330, Centro da cidade (onde funcionou a antiga sede da Faculdade de Letras). Em troca da concessão, o consórcio vencedor da concorrência cedeu à universidade 17, 3% do empreendimento, o equivalente a “onze andares e meio” da torre leste.


Carro-chefe dos aluguéis

Edifícios no Centro (Ventura Corporate Towers)
R$ 2,7 milhões/mês (ou R$ 32,81 milhões/ano)

Parque Tecnológico:
R$ 3,84 milhões/ano

Cenpes (1 e 2),
além do posto de gasolina Petrobras, no Fundão:
R$ 4,96 milhões/ano

Bancos:
R$ 1,26 milhão/ano

Lanchonetes:
R$ 502 mil/ano

Livrarias e reprografias:
R$ 164 mil/ano


De acordo com a PR-6, cada pavimento possui, em média, 1.600 m2 com exceção do quinto andar (de 750 m2).  E, atualmente, apenas um é ocupado academicamente, pela Escola de Música — cujo prédio histórico passa por reformas estruturais. Todo o resto encontra-se alugado para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O negócio rende (à União) R$ 2,7 milhões por mês. Em 2014, foram pagos, ao todo, R$ 32.817.973,37 referentes à alocação.

Pequenos comércios

Precárias ou regulamentadas por contratos, as permissões de uso dizem respeito a comércios em campi da universidade. E, segundo a PR-6, são caracterizados por acordos mais simples e flexíveis com uma “maior soberania da universidade”, podendo reaver “a qualquer tempo e sem motivação” os espaços.

Autonomia

Um exemplo recente está na agência do Banco Santander localizado na Praia Vermelha: “Vão usar como área acadêmica”, explica Tiago. A pedido da decania do CFCH, o espaço será convertido em laboratório. “Nós acompanhamos, mas a decisão cabe às unidades”, destaca. “O máximo que podemos fazer é buscar outro lugar que possa receber o serviço, mesmo assim quando é do interesse da unidade”, complementa Hélcio.

Fazem parte do grupo, além dos bancos, todo setor de alimentação privada, fotocopiadoras, livrarias, agências de correio, telefônicas etc. Esta fonte própria apresenta números bem mais modestos. Por ano, as 64 lanchonetes espalhadas pelos campi da UFRJ, por exemplo, recolhem, no total, R$ 502.139,39. Enquanto os 27 estabelecimentos de livrarias e reprografia são responsáveis por R$ 164.719,42. Já as agências dos quatro bancos hoje instalados na UFRJ (Banco do Brasil, Caixa, Itaú e Real/Santander), rendem aos cofres públicos R$ 1.265.707, 84 por ano.

As permissões ainda não licitadas são chamadas de “precárias” e apresentam limite de cinco anos, “que a lei faculta”, justifica Hélcio. A estimativa é que, embora sem contrato, 80% das permissões precárias estejam cadastradas junto à universidade. Da mesma forma que as concessões, todas as permissões de uso sofrem recolhimento por meio de GRU, caindo direto na conta do Tesouro. 

De acordo com o diretor do Patrimônio, a partir de 2001, a reitoria passou a centralizar todas as cobranças e contratos, depois que uma auditoria foi realizada na UFRJ. À época, na gestão Aloísio Teixeira, foi constituída uma comissão para controle deste tipo de ocupações na universidade. Dentre suas atribuições, estão: a verificação de denúncias e indicação de reintegração de posse. Ainda em vigor, a comissão é hoje presidida por Ailton Alvez Teixeira (PR-5).

Administração tenta coibir “invasões”

A prática de invasões, contudo, ainda é uma realidade. Hélcio conta que, em pleno prédio da administração central, uma cantina foi “inaugurada”, sem permissão, em um banheiro do sétimo andar. No Instituto de Química, outra foi montada do dia para a noite bem na entrada de acesso da secretaria acadêmica. “E dá trabalho para tirar e devolver o espaço à sua função, viu?”, diz o servidor. Para ele, o desafio está em quebrar uma cultura de informalidade arraigada: “Toda nossa briga é para que o que aconteceu no passado não aconteça mais”. “Diariamente aparece gente por aqui perguntando como faz para abrir um comércio ou coisa do tipo. Mas não tem como ceder uma área pública para um particular”.

Para quase todo mundo

Um caso “à parte” é o Centro de Ciências da Saúde. “Grande parte dos contratos feitos lá é administrada pela decania”, informa o diretor de Patrimônio. Coincidência ou não, o estacionamento do Centro é o único onde ainda há cobrança por vagas de carro. “É o único estacionamento pago na universidade”.  


Quando há contingenciamento, não é possível dizer quanto dos aluguéis retorna à universidade

A Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (PR-3) observa que, além dos aluguéis, outras fontes como concursos, patentes, serviços , doações e afins completam a chamada “receita própria (ou realizada)” da UFRJ. 

Todas são receitas recolhidas para a conta única do Tesouro e recebem um código (153105) que identifica os valores da UFRJ. Mas fica tudo junto, sem diferenciar sua origem. Portanto, quando há contingenciamento, não é possível dizer quanto dos aluguéis, por exemplo, o governo conserva em seu poder.

Este dinheiro, informa a PR-3, costuma voltar, em sua integralidade, para a universidade. Mas não foi o que ocorreu em 2014: R$ 12 milhões dos R$ 62 milhões da receita própria foram retidos: “Quando o reitor fala em garantir, pelo menos, o recurso próprio, está dizendo para o governo assegurar o limite de empenho igual à receita realizada”, afirma o superintendente geral de Planejamento e Desenvolvimento, George Gama Junior.

 Ele acrescenta, ainda, que a arrecadação de 2014 foi acima das expectativas por conta de um grande concurso aberto no fim do ano. Em relação a 2015, George afirma não ser possível fazer uma projeção: “Só ficamos sabendo se o recurso será retido ou não no finalzinho do dezembro”.   

 

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

No final de outubro, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio, que teve como tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, ganhou grande repercussão também nas redes sociais e dividiu opiniões, mas não abalou professores e alunos do Colégio de Aplicação da UFRJ. “Para nossos alunos, não houve problema algum”, revelou a professora Rozana Gomes, diretora adjunta de Ensino do CAp e responsável pelo terceiro ano do ensino médio.

Rozana Gomes afirmou que a escola tenta promover o debate para mostrar aos estudantes e aos pais o quanto é importante a pluralidade de ideias e pensamentos. “Este ano, fizemos muitas atividades sobre o tema da violência contra a mulher e feminismo. Quando trazemos temas delicados para a sala de aula, os alunos participam e trazem outros elementos, mas muitos pais entendem que estamos fazendo uma doutrinação. Tentamos dizer que a divergência é um processo construtivo”, afirma a educadora.

“Este assunto é uma questão que os mobiliza”, complementou a professora Kátia Araújo, também do CAp. Ela integra a equipe da DAE e dá aula de redação para o terceiro ano do ensino médio. “Especialmente as meninas, que começam a crescer e esbarram em questões de roupa, de comportamento. Elas sentem na pele o machismo e buscam entender o que acontece na sociedade. Então debatem, buscam informação, articulam-se com núcleos de outras escolas”, disse a docente.

Aluna disse estar preparada

Bruna Ramalho, estudante do terceiro ano, confirma as declarações das professoras: “Esse tema foi muito falado aqui na escola. Tivemos aulas e um debate a respeito de feminismo. Eu estava preparada para falar sobre o assunto. Mas, alguns aqui, muito poucos, acharam que o tema foi político e que não poderia estar na prova. Disseram que era tema de esquerda, mas eu gostei muito. Foi importante ter o assunto na redação”, opina.

 

Lugar de mulher é na ciência

Duas professoras da UFRJ são premiadas no único programa brasileiro voltado exclusivamente para as cientistas

Samantha Su. Estagiária e Redação

As professoras da UFRJ, Karin Menéndez-Delmestre, do Observatório do Valongo, e Cecília Salgado, do Instituto de Matemática, foram duas das sete premiadas pela L’Oréal Brasil. O programa, que reuniu mais de 400 projetos este ano, é uma parceria da Academia Brasileira de Ciência (ABC) com a Unesco. As entidades mantêm o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, único para a categoria, com premiações de US$ 20 mil para incentivo às pesquisas.

O prêmio, de acordo com as doutoras, mais do que o dinheiro, vale o reconhecimento do trabalho e a visibilidade. Para Cecília, ele é uma forma também de compensar as desigualdades de gênero na carreira: “Mulheres, bem como outras minorias na ciência, só precisam de oportunidades iguais. Ainda vivemos num tempo em que salários de homens em profissões equivalentes são superiores aos de mulheres; em que oportunidades boas aparecem com frequência para homens e menos para mulheres; em que mulheres perdem vagas em emprego por estarem grávidas. O prêmio vem contribuir para o equilíbrio desta balança, ainda muito desregulada”, comenta a professora, que estuda sobre códigos corretores de erros, fundamental na solução de falhas na transmissão de informação por sistemas de comunicação como linhas telefônicas ou discos rígidos. 

No Observatório do Valongo, Karin vê na premiação, inclusive, motivação para sua equipe: “Temos um grupo de pesquisa que está rapidamente se fortalecendo nos últimos anos com a entrada de pós-doutores, alunos de pós-graduação, alunos de iniciação científica e novos professores. Certamente, dá visibilidade ao grupo, reforçando nosso crescimento e permitindo a atração de uma maior quantidade de jovens pesquisadores e pesquisadoras”, conta ela, autoridade reconhecida no campo da evolução de galáxias e que busca entender os processos de suas formações, por meio de observações da Via láctea e de universos distantes.

Reconhecimento internacional

A professora Cecília também inclui o valor do prêmio no reconhecimento internacional dos projetos: “Minha área de pesquisa, apesar de contar com muitos especialistas internacionais, ainda não é tão divulgada no Brasil e, sem dúvida, esse prêmio chama atenção para ela. O projeto proposto é uma colaboração com um pesquisador de Houston, A. Várilly-Alvarado, e outro, Felipe Voloch, que está se instalando na Nova Zelândia. O prêmio certamente será fundamental para que possamos organizar visitas científicas para dar continuidade ao nosso trabalho”, pontua.

Topo