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No início de setembro, o Jornal da Adufrj entrou em contato com as assessorias de todos os candidatos a presidente para perguntar sobre quatro temas importantes (Plano Nacional de Educação; Previdência; Ebserh e autonomia universitária) para a vida dos professores federais. 

A todos os presidenciáveis ficou esclarecido que o material poderia ser editado/reduzido aos trechos mais importantes, por motivo de espaço, no semanário da Adufrj-SSind.

Apenas Mauro Iasi (PCB), Luciana Genro (Psol) e Zé Maria (PSTU) enviaram suas respostas. A assessoria de imprensa da presidenta Dilma Roussef observou que a candidata, dentro da previsão da coordenação de campanha até 5 de outubro (data de votação em primeiro turno), “infelizmente”, não poderia contemplar o Jornal da Adufrj: “Pedimos que considerem a situação de presidenta, que acumula a função com a posição de candidata, não estando tão disponível quanto os outros candidatos para conceder todas as entrevistas”. 

Nesta edição, apresentamos as ideias de Mauro Iasi, Luciana Genro e Zé Maria sobre o PNE e Funpresp. No próximo jornal, as respostas sobre a PEC 555 (fim da taxação previdenciária dos aposentados), Ebserh e autonomia universitária.


PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

1 – Como o seu governo irá agir diante do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado no Congresso no início de junho?

14092271Foto: DivulgaçãoMauro Iasi: Consideramos o Plano aprovado no Congresso Nacional insuficiente para atender as reais necessidades da população em relação à educação pública no país. Apesar de ter havido a participação de diversas entidades, sindicatos, movimentos sociais e profissionais da educação nas conferências para debater o Plano Nacional de Educação, o resultado final acabou privilegiando os interesses do capital, ao se permitir o uso de recursos públicos para empresas que lucram com a educação no país, assim como as terceirizações no setor. O PCB é radicalmente contrário ao processo de privatização da educação e defende o uso de verbas públicas exclusivamente para as escolas públicas, a valorização dos profissionais, com melhoria substancial dos salários (partindo do salário mínimo do DIEESE), planos de cargos e salários, fim das contratações temporárias e das terceirizações. Com a aplicação imediata de 10% do PIB exclusivamente para a educação pública, poderemos conquistar rapidamente a universalização plena do acesso à educação básica e a erradicação total do analfabetismo no país. No ensino superior público, o PCB participa ativamente da luta por uma Universidade Popular, para garantir a expansão da universidade pública, gratuita e de qualidade visando à universalidade do acesso, como uma instituição de não-mercado. A Universidade Popular voltará seus esforços de ensino para a formação crítica necessária para formar profissionais capazes de se apropriar do pensamento científico e se tornarem sujeitos ativos no processo de transformação social, sem deixar de lado a formação profissional em si; voltará seu trabalho de pesquisa para a análise e solução dos grandes problemas da sociedade, para a conquista da autonomia científica e tecnológica do país; terá grandes eixos de ações de extensão para a atuação direta e integrada junto aos sistemas sociais mais relevantes para a classe trabalhadora, como a Educação, a Saúde, a questão urbana, os transportes, a habitação e outras áreas. Propomos ainda o controle social sobre as instituições privadas, nos aspectos trabalhista, acadêmico e fiscal, piso salarial equiparado às universidades públicas, fim da renúncia fiscal e estatização das instituições inadimplentes e irregulares do ponto de vista fiscal ou trabalhista. Defendemos a democratização da gestão de todas as instituições educacionais do país, sejam elas públicas ou privadas, com a eleição direta dos dirigentes pelo voto paritário e a participação efetiva da comunidade escolar na tomada de decisões. Por fim, é preciso avançar na melhoria de condições de trabalho dos profissionais da educação, com a jornada de trabalho dos professores composta de 50% do tempo em sala de aula e de 50% de horas-atividade; equiparação do piso salarial dos trabalhadores da educação com as demais categorias que possuam o mesmo nível de formação; formação presencial dos professores, que deve ser considerada responsabilidade pública; redução do número de alunos por sala de aula. Portanto, o programa do PCB prevê a adoção de medidas para além do que foi aprovado no Plano Nacional de Educação, revertendo a lógica privatista e priorizando o investimento no setor público.

 


14092273Foto: Divulgação

Zé Maria: O Plano Nacional de Educação recém-aprovado deve ser combatido. Ele aprofunda a mercantilização da educação que vem ocorrendo, aumenta a precarização dos trabalhadores em educação, faz uma expansão sem adequadas condições que preservem a qualidade do ensino público, desde a Educação Básica até o Ensino Superior. Portanto, é uma legislação que atende aos interesses do capital privado na educação garantindo o repasse de verbas públicas para o empresariado privado e busca desobrigar o Estado do financiamento da Educação Pública. 

Defendemos que é necessário elaborar um outro Plano Nacional de Educação que tenha como referência o programa votado no Encontro Nacional de Educação (ENE) realizado no Rio de Janeiro, que se posicionou contra a mercantilização da educação e em defesa do financiamento pelo Estado dos 10% do PIB já, exclusivamente para a educação pública. É preciso garantir boas condições de trabalho e salários, terminando com a precarização dessas condições que os setores financistas querem impor à educação, assim como é preciso implantar planos de carreira, pondo fim à política da avaliação meritocrática e produtivista do ensino e do trabalho docente. É necessário respeitar plenamente a autonomia universitária e impedir a lógica de submeter a educação a parâmetros autoritários, que impõem o individualismo e a competição. Há que se garantir condições democráticas de acesso e permanência em todos os níveis do ensino.
Nosso programa entende que defender a educação pública, gratuita, laica e de qualidade é tarefa não só dos estudantes, professores, funcionários, docentes e técnicos administrativos, mas sim de toda classe trabalhadora que têm seus filhos na escola pública. Isso é condição fundamental para a construção de uma sociedade realmente democrática, justa, igualitária e socialista.

 


14092272Foto: Divulgação

Luciana Genro: O texto aprovado, entretanto, contém vários elementos da política de repasse de atribuições do Estado para a iniciativa privada e não deixa claro qual será o ritmo da expansão do setor público na próxima década.

Trabalharei para que o setor público se fortaleça, expandindo a presença federal no ensino superior e ensino profissionalizante. E chamarei governadores e prefeitos para estabelecer um regime de colaboração que permita implementar o custo aluno qualidade (conforme estratégias previstas na Meta 20) e elevação do salário docente, conforme Meta 17.

Enviarei ao Congresso Nacional proposta de retirada das Lei nº 13005/2014 de todos os elementos privatizantes, especialmente o texto que permite contabilizar nos 10% do PIB os recursos destinados à iniciativa privada.

 


2 – O governo aprovou, para todos os servidores federais, a criação de um fundo de previdência complementar (Funpresp-EXE) para valores recebidos acima do teto de Regime Geral. Qual será a postura do seu governo diante do Funpresp-EXE?

Mauro Iasi: O PCB entende que se trata de iniciativa para aprofundar o processo de privatização da Previdência, ao qual fazemos radical oposição. Defendemos a Previdência Social 100% pública e gratuita. Na condição de professor da UFRJ e atuante nas lutas da categoria, já tendo exercido o cargo de presidente da Adufrj na gestão 2011-2013, participo ativamente, junto com toda a militância do PCB e da Unidade Classista, das lutas capitaneadas pelas entidades nacionais de servidores públicos federais, entre as quais o Andes-SN, contra as políticas de privatização do setor e os ataques aos direitos históricos dos trabalhadores perpetrados pelos governos de FHC, Lula e Dilma. Apesar de toda a resistência dos servidores, o governo do PT conseguiu aprovar a lei que institui o Regime de Previdência Complementar (RPC) para os servidores, fixando o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões igual ao do RGPS (R$ 4.159,00, em novembro de 2013) e autorizando a criação de fundos de pensão para administrar o plano de benefício dos servidores dos três poderes. Esta verdadeira contrarreforma conservadora encaixa-se na lógica da financeirização capitalista e precariza ainda mais as condições de remuneração e vida dos trabalhadores do serviço público brasileiro. O governo do Poder Popular encaminhará ao Congresso novo projeto de lei para reverter esta situação e contará com a intensa mobilização dos trabalhadores para garantir a Previdência Social universal, com o fim do fator previdenciário, recuperação das perdas salariais e aumento real dos proventos e pensões, restabelecendo-se o princípio amplo da seguridade social.

 


Zé Maria: A criação do fundo complementar de previdência privada no serviço público foi consequência da reforma da previdência aprovada no primeiro ano do  governo Lula, em 2003. Como a reforma acabou com o direito à aposentadoria integral do servidor público, o governo, já com Dilma na presidência, e obedecendo a orientações do mercado financeiro, instituiu o Funpresp.

Essa medida nada mais é do que a privatização da previdência do funcionalismo, transferindo milhões de recursos dos servidores e do Estado para bancos e instituições financeiras que vão gerir o fundo de acordo com as regras do mercado. Isso significa que apenas os bancos vão ganhar, uma vez que o servidor não tem qualquer garantia de que o fundo no qual aplicou seu dinheiro, teve a rentabilidade necessária para pagar sua aposentadoria complementar.
O PSTU entende que a previdência é uma dos tripés da Seguridade Social, junto com a Saúde e a Assistência Social, e, portanto, dever do Estado, sem objetivo do lucro. Nosso compromisso é com a valorização do serviço público e a garantia de melhores condições de salário, aposentadoria  e democracia no ambiente de trabalho para os servidores. Neste sentido, queremos lutar junto com todo o funcionalismo público para anular a reforma da previdência e imediatamente suspender a implementação do Funpresp.

 


Luciana Genro: A Reforma da Previdência foi uma das maiores fraudes vivenciadas em nosso país. Após os elementos revelados no processo do mensalão, defendo a anulação da Reforma.

Nosso governo promoverá uma revisão dos estragos que foram feitos contra a aposentadoria dos servidores públicos, começando com a extinção do fator previdenciário e rediscussão de toda a legislação correlata, inclusive revendo o teto rebaixado estabelecido.

Nosso governo não estimulará que servidor tenha que complementar sua aposentadoria para manter seus salários integrais após décadas de contribuição previdenciária.

Atividade, dia 16, foi organizada pelo ColeMarx

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

14092282Antonio Julio (UFMG). Foto: Elisa Monteiro - 16/09/2014Quando o pesquisador Antonio Julio, da Universidade Federal de Minas Gerais, deu início à investigação sobre movimentos latino-americanos com projetos de escolas próprias não teve dúvida: o foco deveria estar nas experiências do brasileiro Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do mexicano Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

“Foram movimentos que, em plena crise da esquerda, na década de 1990, mesmo com governos conservadores como (Carlos) Salinas (presidente de 1988 a 1994), no México, e FHC (Fernando Henrique Cardoso, governou de 1995 a 2002), no Brasil, conseguiram trazer à tona o debate sobre a Reforma Agrária e fazer um enfrentamento ao neoliberalismo que crescia no mundo desde os anos de 1970”, justificou. As declarações do pesquisador foram dadas em palestra promovida pelo Coletivo de Estudos em Marxismo e Educação (Colemarx), na Faculdade de Educação da UFRJ, no último dia 16.

Mas, para além do tema agrário, a questão da escola fazia parte da disputa de hegemonia, explicou o pesquisador. No México, a iniciativa ganhou contornos mais radicais.  “A diferença essencial entre os dois movimentos foi a manutenção de um exército armado pelo EZLN”, sublinhou. No país, a guerrilha encontrou um campesinato indígena empobrecido que abraçou a causa pelas plantações comuns como forma de escapar da superexploração dos velhos latifúndios e do novo agronegócio. 

Em 1994, por ocasião da assinatura do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, da sigla em inglês), entre EUA, Canadá e México, iniciou-se o Levante Zapatista: o EZLN declarou guerra ao governo e mobilizou milhares de pessoas contra postos militares federais. O conflito histórico deixou um traumático saldo de mortos e feridos. Mas resultou em um acordo, mediado pela Igreja Católica, para criação dos chamados “caracóis”, territórios autônomos onde a educação, como os demais serviços, tornou-se auto-organizada. “Toda esquerda, independentemente de críticas, apoiava Chiapas (estado ao sul do México, uma das principais zonas de operação do movimento zapatista)”, observou Antonio.  

Veja paineis que ilustram prédios públicos no México na lente de Antonio Julio

O movimento mexicano repudiou desde o início a institucionalidade, recusando financiamento do Estado e suas políticas de bolsas. O que provoca consequências: “Enfrentam um problema sério de pobreza. Professores recebem comida no lugar de salários”. O preço da “radicalidade”, na visão do pesquisador, foi o “isolamento”. “Eles tiveram que administrar o que haviam conquistado dentro de uma sociedade que seguia sendo capitalista”, analisou. Antonio conta que, “para alguns, a importância do movimento está em servir como exemplo frente ao modelo de vida propagado pelos EUA”.  “Mas ninguém vive de política”, completou, em seguida.

Com currículos considerados “conservadores”, mesmo por professores que afirmam apoiar Chiapas, as escolas fundamentais são, na prática, as únicas autogovernadas. A inovação concreta está na democracia interna com eleições diretas, inclusive dos professores, em assembleias gerais. As escolas secundárias, localizadas em áreas próximas aos caracóis, sofrem influência, mas não estão sob controle do movimento. As universidades autônomas são governamentais. 

MST pega via governamental

No caso brasileiro, Antonio observa que depois de intensa mobilização de marchas e ocupações de terra nos anos de 1990, o caminho tomado pelo MST seguiu os trilhos da institucionalização: “A partir dos anos 2000, o movimento busca, por meio do governo Lula cada vez mais apoio do poder público e de políticas públicas”. Depois de “um período heroico”, completa, “o movimento torna-se algo que simplesmente não incomoda mais ao sistema”. Em sua visão, a agroecologia não conseguiu se firmar como modelo produtivo alternativo, restringindo as possibilidades do movimento à realização de pequenos projetos. Em relação às instituições de ensino superior pública, Antônio aponta para interseções ainda pontuais: “Em muitas universidades, verificamos a parceria com o movimento”.

Para o professor, a melhor possibilidade para superar o impasse do MST em relação à falta de autonomia é a interação com outros movimentos sociais: “A alternativa seria reconstruir uma proposta política mais ampla onde a luta do MST caiba”, concluiu.

Jornal da Adufrj acompanha trajeto de uma das linhas de ônibus mais criticadas pelos que frequentam o Fundão

Problema não é o tempo da viagem, mas o “aperto”

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

Somente três pessoas estão embarcadas quando o homem sentado em uma toalhinha puída do Brasil dá a partida no ônibus que sai da Praça General Osório às 8h30 da manhã. Poucos minutos depois, ainda em Ipanema, o número de passageiros já triplicou. Até chegar ao ponto final, o motorista do trajeto que liga a Zona Sul à Ilha do Fundão ainda vai ter muito trabalho. 

A superlotação da linha General Osório – Penha (485) é quase uma instituição da UFRJ. A formanda em Educação Física, Sthefania Modesto, enfrenta o caos há quatro anos. “Antes, eu acordava às seis da manhã para pegar o ônibus na Avenida Princesa Isabel e sempre viajava em pé”, diz, lembrando-se de quando precisava chegar ao Fundão às 7h30.

Pelo menos dessa vez, ela entrou na lista dos 44 privilegiados que conseguem uma poltrona vaga antes do ônibus chegar à praia de Botafogo e começar a sua infame transfiguração de transporte coletivo para lata de sardinha. A quantidade de gente apinhada no coletivo é, além de insegura, ilegal. A lei permite 36 pessoas em pé, limite que parece não ser respeitado.

Em 2012, a empresa Auto Ônibus Fagundes foi condenada a pagar indenização por danos morais aos passageiros por desrespeitar a lotação máxima. Mas, no 485, o famoso pedido de “um passinho à frente” segue vigente e costuma ser respondido com ironias ou caras-feias. Sthefania crê que a única solução seria aumentar a quantidade de veículos que fazem o trajeto.

SMTR não responde

Quem determina o número de ônibus para cada linha é a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). A quantidade seria definida a partir de um estudo técnico de demanda. Até o fechamento desta matéria, a SMTR não havia respondido aos questionamentos do Jornal da Adufrj.

Sem vans desde 2013

Quem dava (alguma) vazão a essa demanda eram as vans, proibidas pela Prefeitura de circular na Zona Sul desde abril do ano passado. Muriel Dias, estudante de Desenho Industrial, costumava lançar mão dessa alternativa. As viagens eram encurtadas em pelo menos 20 minutos. Contudo, van no Rio de Janeiro é uma roleta russa. “Depois que minha irmã foi assaltada por duas pessoas com metralhadoras voltando da UFRJ em uma van, passei a vir só de ônibus”, conta. 

Falta de conforto

O problema do 485 é menos o tempo que a condição de viagem. Os passageiros dizem gastar uma hora, em média, para chegar ao Fundão. Uma hora de freadas bruscas, empurrões, abusos e calor. Na maioria dos veículos, o que refresca os passageiros são os ares da poluída baía de Guanabara que entram pelas janelas, na altura da Linha Vermelha.

Em 2010 uma primeira licitação pública para operar o transporte de ônibus urbanos deixou a critério das empresas vencedoras a instalação ou não do ar-condicionado. Somente em 2014, depois de quatro anos e uma investigação de formação de cartel arquivada, a prefeitura do Rio de Janeiro se posicionou. Em fevereiro desse ano, ficou determinada a obrigatoriedade do sistema de refrigeração para os novos ônibus que fossem integrados à frota do município. O tempo de vida útil para os ônibus da rede de transporte público tem um teto de oito anos. A idade média da frota do Rio de Janeiro hoje é de 3,7 anos, um cenário que joga pra 2020 a substituição definitiva dos veículos apesar de a previsão da Prefeitura ser para 2016.

Sexismo no ônibus

Para além dos solavancos e suores, quem mais sofre as consequências da superlotação da linha são as mulheres. É comum quem já tenha sofrido assédio. A escolha de Muriel em se sentar próxima à janela é também uma precaução. Sempre há perigo quando um ombro feminino fica ao alcance de um corredor repleto do machismo diário. 

Enquanto isso, os passageiros viram-se como dá. Quando entrou no ônibus às 9h10, coube ao estudante de Arquitetura Mario Rodrigues um dos poucos espaços ainda vazios no corredor. Como a maioria dos que vão em pé com bolsas e mochilas, Mario recebeu a oferta de Muriel, que se prontificou a dividir o peso. Os que conseguem se sentar minimizam o drama dos que não puderam em uma espécie de compensação diante do desconforto do outro. Para não se assumirem sardinhas, reafirmam-se humanos. Para um passinho atrás, outro à frente. E toca o ônibus. Que chegou ao CT às 9h45, mas ainda passearia um pouco pelas demais dependências do Fundão.

 

Audiência da Prefeitura Universitária sobre mobilidade ocorre dia 22

Nesta segunda-feira, dia 22, a Prefeitura Universitária da UFRJ vai realizar uma audiência pública para discutir formas de melhorar a mobilidade nos campi da universidade.Desde o início do mês, o prefeito Ivan Carmo tem participado de reuniões com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro (SMTU) para repassar as demandas de estudantes e funcionários sobre a qualidade dos serviços prestados pelos ônibus que atendem à Cidade Universitária. A reunião também servirá para debater sobre novas alternativas e como anda o serviço interno da universidade e também as conexões entre os campi. 

A audiência acontecerá no Horto Universitário, a partir das 11h, e contará com a presença do Prefeito da UFRJ e equipe de transportes. O endereço é Praça Jorge Machado Moreira, 100, Cidade Universitária.

Cerimônia de posse aconteceu dia 16 de setembro

Na tarde do dia 16 de setembro a Chapa 4 – “Quem vem com tudo não cansa” tomou posse no Centro Acadêmico de Educação Física e Desportos (CAEFD). A Chapa 4 venceu a disputa sobre a Chapa 3 – “Aliança Renovar” por 316 votos a 213. Uma diferença de pouco mais de cem votos. As eleições ocorreram nos dias 9 e 10 de setembro. A cerimônia foi oficializada pela Comissão Eleitoral. Além da direção do CAEFD, a chapa vencedora indicará representantes para os órgãos colegiados da Unidade.

Rian Rodrigues, um dos componentes da Chapa 4, afirmou que o resultado da eleição demonstra o acerto de sua chapa na busca da “mobilização e do diálogo” e que este “é o caminho mais acertado, que traz vitórias e respostas” às necessidades dos estudantes.

Professor da EEFD, Paulo Roberto Monteiro Peres desejou sucesso à chapa reeleita. Ele afirmou ser necessária, e cada vez mais forte, a luta dos estudantes em defesa de uma universidade melhor e com um ensino de boa qualidade.

Mais um “não” para a Ebserh

Em audiência pública voltada para discutir os problemas do HUCFF, no último dia 16, todas as representações rechaçam a possibilidade de gestão via Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

Procurador classifica empresa como “intervenção” nos HUs

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“A solução que o governo federal desenha para os hospitais universitários é uma verdadeira intervenção”, disse o procurador federal de Contas, Júlio Marcelo de Oliveira, do Tribunal de Contas da União, sobre a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. A fala ocorreu durante a audiência pública realizada para discutir os problemas do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), no dia 16 de setembro. 

Oliveira reiterou que não há e nunca haverá orientação ou pressão do TCU para que as universidades optem pela Ebserh. “Fiquei muito indignado quando o presidente da Ebserh nos fez uma visita e pediu um ultimato às universidades para que aderissem à empresa. Ele queria instrumentalizar o TCU como órgão de coação imoral, ilegítima e antiética sobre as universidades”.

Problemas herdados

Além de uma breve explanação sobre os desafios que tem enfrentado à frente da gestão do HU, herdados da direção do professor José Marcus Eulálio (que defendia a Ebserh), o professor Côrtes apresentou um vídeo feito com pacientes falando sobre os dramas enfrentados cotidianamente no hospital. Ele pediu mais investimentos e afirmou que o HU vive tempos de caos: “Às vezes recebemos verbas do Rehuf (programa de reestruturação dos HUs federais), mas nunca sabemos quanto e nunca sabemos quando. Muitas vezes o dinheiro chega no final do ano e não conseguimos, pela legislação vigente, dar seguimento aos projetos”. 

Em uma sequência de slides fotográficos, o diretor mostrou alas inteiras no 5º, 6º, 7º, 8º, 10º e 11º andares do prédio do HU completamente abandonadas. Além desses problemas, Eduardo Côrtes tocou nos pontos adiantados na edição 859 do Jornal da Adufrj, como a relação com a Ebserh, a questão de pessoal e o plano de recuperação do HUCFF.

Empresa explora atividade econômica

O Procurador-Geral da República, Peterson Pereira, explicou os argumentos que sustentam a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) contra a Ebserh. A primeira situação que tornaria a Ebserh inconstitucional é a ausência de lei complementar para dizer em quais áreas a empresa deverá atuar. “A ideia essencial de empresa pública é a exploração de atividade econômica. Quando ela vai explorar serviço público, é necessário que exista uma lei complementar que diga em que áreas ela vai atuar”. 

O procurador chama atenção para um dado ainda mais curioso, que é o segundo argumento que sustenta a ADIn: “Serviço público, quando prestado pelo Estado brasileiro, só pode ser realizado no regime de direito público e, infelizmente, essa empresa foi criada sob o regime de direito privado”. De acordo com Peterson Pereira, na própria lei de criação da Ebserh, está expresso que ela integra o Sistema Único de Saúde. “A ideia natural de empresa pública é que ela terá finalidade lucrativa, então, é intuitivo para nós que uma empresa pública que presta serviços deva ser remunerada. A Ebserh caminha no sentido contrário ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde”.

MPOG é o responsável

Lucieni Pereira, auditora do Tribunal de Contas da União, lembrou que o Acórdão de 2006, do TCU, que determinava o fim dos trabalhadores extraquadros nos hospitais universitários, era direcionado para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG): “Isso precisa ser considerado pelos órgãos que cobram atuação das universidades. É, inclusive, uma falácia utilizada por alguns reitores dizer que estão sendo pressionados pelo TCU. A cobrança é sobre o MPOG”.  Ela enfatizou que não há outra solução para os extraquadros que não seja a abertura de concurso público. 

Finalidade do HU

Entidades nacionais e de representação dos trabalhadores estiveram presentes, dentre elas o Cremerj, Coren, DCE Mário Prata, Sintufrj, Fasubra, Adunirio e Adufrj-SSind. Cláudio Ribeiro, presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ, destacou que a Ebserh altera a finalidade do hospital universitário: “O HU tem como finalidade o ensino e utiliza a assistência como meio de atingir esse objetivo. A Ebserh altera o caráter do hospital de ensino para um hospital de assistência. Essa transformação é uma ameaça à universidade”. Além de romper com a autonomia universitária, a empresa, na análise de Cláudio Ribeiro, retira a característica universalizante do ensino. “A Ebserh retira a possibilidade de a universidade fazer uma interlocução entre os seus diversos cursos, porque retira o hospital da universidade”. O presidente da Seção Sindical apontou que a UFRJ já possui uma alternativa autônoma para gestão dos seus hospitais: o Complexo Hospitalar.

Luta da UFRJ é exemplo nacional

Viviane Narvaes, presidenta da Adunirio, destacou a luta da UFRJ contra a empresa: “É preciso ressaltar o quanto a luta da UFRJ e a experiência de gestão deste HU fora desse modelo que fere a autonomia são importantes para todo o estado do Rio de Janeiro e para o Brasil”. Afirmou que o processo de tentativa de instalação da Ebserh nas universidades é muito violento e que o HU da Unirio, o Gaffrée e Guinle, opera, hoje, com um terço de sua capacidade: “Neste mês de setembro, mais leitos foram fechados, mais enfermarias foram fechadas. A pressão que estamos sofrendo é demasiadamente intensa e a experiência da UFRJ nos ajuda a resistir”. Na UniRio, conforme noticiado na edição nº 854 (de 12 de agosto) do Jornal da Adufrj, forte mobilização da comunidade universitária impediu a entrega do Hospital Gaffrée e Guinle à Ebserh. Mas a ameaça ainda não foi completamente afastada.

O evento reuniu, ainda, entidades representativas de classe, parlamentares, representantes do Ministério Público e a Sociedade. Participaram a decana do CCS, Maria Fernanda Quintela, e o pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine, além dos parlamentares Chico Alencar (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB) e do candidato ao Senado pelo PCB, Eduardo Serra.

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